sexta-feira, 28 de maio de 2010

Derramencanto



- Derram encanto -

Por alinhavar esperas
rasguei minha partida
com símbolos mágicos.
Fiz pacto com incubus,
os filhos de Príapo,
e humanamente
fui surpreendido num encanto.

- Derramen canto

Era encanto irisado de volúpia
sentido no sexo do incubus
névoa composta
feito filme de terror.
Cada vez que
insurgido e estridente que
meu canto se abria,
era retorno às coisas terrestres.

- Derram en canto -

en entre,
justa a palavra entre
significado estrito
de entreposto, meio
:
depois de ter sido humano
não se pertence nem
a Terra e nem ao transcendente
é-se puro en meio.

- Derrame ncanto -

Ritualizo
Falo de ladainhas metafísicas
porque teu resto ficou em mim.
Encostado,
evoco-te no próximo espírito
e tudo segue e tudo volta
nada além, nada aquém
simples derrame, simples humano,
simples sentimento que não se esvai.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

vício

Adquiri o hábito de tirar lascas das caixas de fósforo e chupá-las depois, nem tem gosto, mas tem textura melhor que a da goma de mascar, e dá maior liberdade à língua e aos dentes. E só troco quando vai se desmanchando em outras pequenas lascas e paro quando satisfeito.

Troquei um vício por um, aparentemente inócuo: não sei viver sem concretizar o tempo ocioso em matéria visível.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Choro

A dor é insuportável
até que chegue aos olhos
e exploda em lágrimas.
Choro não é descontrole
fraqueza ou vitimização.
Choro é desabafo;
uma hora você se enternece
e volta a sonhar sem os ufanismos
de outrora.


terça-feira, 25 de maio de 2010

itinerário



Sou corajoso, corajoso, corajoso, repito isso para ver se corroboro na minha mente a força que preciso restituir o mais rápido possível antes que venha fenecer. Nos últimos tempos, fui alvo da vida conturbada que só quem cresce pode ser atingido. Não é porque comi do que não deveria, aliás, é também por isso, mas são milhões de esperanças que se tornam desfeitas num estalo.

Talvez porque faça de cada sonho um deus, mas saiba que cada deus eu travesti de ideais puramente humanos e interpelo por alguém que me diga que ainda é possível seguir depois de tantas lutas. Disseram-me para ter calma que são infinitas as possibilidades. Mas até quando o infinito, teimosamente, reservar-se-á a me dar uma única possibilidade? 

Foi o amor que por itinerário, não vingou; os amigos que mais me compreendiam, partiram; tudo por culpa de itinerários. Uns disseram, hoje não dá porque viajo, passei no vestibular e estou de mudança. O problema é que todos mudam de cidade ou personalidade mesmo, só eu que permaneço tão oco e triste quanto antes.

Tenho pena das mães, somos os únicos animais que não sabemos lidar com as percas, os outros ensinam o ofício e abandonam suas crias e seguem em ordem, mas nós humanos, somos desraigados e o que fica é a miserável saudade, a impotência.
Carta II
Meu caro,

Não sou tão rude e vil quanto imagina. Também, nem tão avoado no mundo que criei. É certo que muitas vezes o subjetivo se confundiu nas atitudes que adotei, mas veja, foram mínimas. Cada ser possui gatilhos de sobrevivência e age em cima deles, e você diria que isso não justifica nada no convívio social.

Beijo,

Rafa.

domingo, 23 de maio de 2010

Carta I
Tentando explicar é que me confundo. Talvez me direcione tortuosamente e será sempre assim até o momento em que, decididamente, eu fique mudo para não criar padrões equívocos na sua cabeça: sinal de respeito às suas regras. Então me ajoelho.

Comecei a ler mesmo com doze anos, disse, vou dar uma chance aos livros e ver o que eles têm a dizer, desde então eu consumo livros para me salvar, porque cada frase, verso que me identifico é semelhante levar uma machadada na cabeça, só não se sangra, do resto, sente-se a dor e um apelo da humanidade visionando um resgate. Fecho o livro por uns minutos e imagino uma saída para superar e continuar a leitura.

Como The dreamers do cineasta Bernardo Betolucci, fiz dos livros a cinefilia dos seus personagens que confundiram a tela ao ponto de não saberem seu papel fundamental no cotidiano, absorveram outros personagens e viveram numa mistura de atos e tragédias.

Prêmio Blog de Ouro

Fiquei lisonjeado ao receber o Selo Prêmio Blog de Ouro de Paulo Sérgio Zerbato, do Blog
A Arte de Paulo Sérgio Zerbato. Agradeço a ti e a todos que lêem o blog . poe M arte ., afinal, é feito para vocês.

Perguntas e respostas:

1) Por que acho que mereci o prêmio?

Pela minha dedicação ao blog.

2) Na minha opinião, qual postagem do blog é o que mais merece receber este selo?

As postagens referentes à série Derrames, pois percebi que muitos leitores se identificavam com a linguagem poética.  Como disse Paulo Vítor Cruz: Derrames foi uma boa viagem... daquelas que não dá vontade de retornar...

3) Do blog que me indicou, o que mais me agrada? Ele mereceu este prêmio?

Sem dúvida que o blog do Paulo Sérgio Zerbato mereceu o recebimentos deste, porque a sua arte é construída a partir de algo que simpatizo e tento fazer neste blog, aliar as artes Visuais à linguagem escrita, literária, poética; Paulo Zerbarto, expõe aos seus leitores os processo de criação, dos aforismo literários, constrói uma arte contemporânea engajada às necessidades tanto subjetivas quanto objetivas do ser humano.  

Os blogs que indico:

  1. Frutos podres de uma imaginação febril – Paulo Vítor Cruz
  2. Vocàbulah – Ramon de Alencar
  3. Cabo da Boa Tormenta – Pedro Ludgero
  4. ET CETERA – Et Cetera
  5. 1, artigo indefinido - ccauan
  6. Mon Bateau – Lívia
  7. Entre o que há – Resiliência
  8. Com dizer – Thalita Castello Branco
  9. CAOS DE INVERNO – Gérson de Oliveira
  10. Lavoura de fumo – LRP


Abraços,

Rafael Costa ; )

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Re-originando as espécies

Deveria emergir Hefasto*
para pôr fogo nas montanhas,
erigir nuvens tóxicas;

salvaguardando as águas, sobre elas e acima,
veja-se o pó.

- Saberá o platelminto que Darwin já lhe impôs uma tarefa?

*Hefaísto

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Derrames (Edição completa)

Derrames

Se soubesse que te traio pelo cheiro
e pelo nariz vou sentido peles estranhas
mesclando-as ao meu faro
consumindo-as num contato lépido e displicente
forma de vazar meu desejo pelos outros
sem que o note.
porque meu desejo é sempre mais que um
e o meu amor aspira compreender
a totalidade dos homens.

- um -

Mil atrevimentos me corrompem a boca.
Corrompida,
planto sarceiros
discuto com vizinhos
assisto ao futebol
fumo carteiras de cigarros
tomo uma cervejinha
mas, se mesmo assim perder
vou para o tira-teima
apelo com outras armas
troco escopetas
por empates de beijos.

- dois -

Se não te mato de vez
com um só disparo
é por covardia cotidiana.
Matar aos poucos é menos injusto comigo
menos temerário e me justifica
e não me força arrependimentos
quando te morreres de vez.
quando te morreres de vez
fraqueza última e virgem

saiba, que te matei sempre
mas a decisão sempre foi sua.

- três -

A partir do terceiro passo
já é rotina
a partir da segunda garfada
o gosto familiar
e o que acomete esse poema é sua ausência
misto de saudade, carência e colheres de piegas
angústia de instante
derrame
e no fim do quarto passo
já é tudo mentira
me contento ou me adapto:
quem ama nunca perde.

- quatro -

Depois de ti,
perdi o jeito pro sexo
mordidas equívocas
penetrações incômodas

das sobras:
a disritmia do verso

porque antes segurávamos
a beleza do mundo sobre nossos púbis
e amar se descrevia como nuvens de pêlos

estrelas cadentes, abstrações sentidas
que hoje se descartaram.
Por lembrança te culpo
que não fodo como antes,
sendo angústia
ainda te espero com sensações velhas.

- cinco -

Dessa vez
quero ser o que parte
e não o que espera,
é o transeunte aqui
vestido de mágoas
malfadando a sua sorte
sobre um pequeno
derramencanto

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Derrames IV



Mil atrevimentos me corrompem a boca.
Corrompida,
planto sarceiros
discuto com vizinhos
assisto ao futebol
fumo carteiras de cigarros
tomo uma cervejinha
mas, se mesmo assim perder
vou para o tira-teima


apelo com outras armas:
  -troco escopetas por empates de beijos 

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Pedro Ludgero e seu livro Sonetos para-infantis – Agradecimento.

Depois de um longo dia sem fazer nada (sigo a filosofia do nadismo), chega por correio um malote de Portugal contendo um livro chamado, Sonetos para-infantis de Pedro Ludgero, editora Incomunidade, 2010.
Aqui vai meu agradecimento pelo esforço e gentileza em me remeter esta obra poética, repleta de descobertas e invenções. Sinto-me honrado, semelhante a uma criança que recebe alguma medalha e a estampa por aí, e com todo direito, afinal, o livro viajou muito para estar nas minhas mãos. Pedro Ludgero, um abraço atlântico,

Rafael Costa.

sexta-feira, 7 de maio de 2010



Resumo

Porque é triste o começo
eu anuncio o fim
porque deverá ser alegre o fim
é que maldigo o começo sem me precipitar;
por isso mordo os extremos
feito cadela no cio
ou como fagia felina:

o nascituro disforme,
por natureza,
é abocanhado pela mãe.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Aos que vivem morrendo




Aos que vivem morrendo
Ou
Aos que morrem todos os dias
Ou
Aos homens que são humanos 

(Início do poema)

Não escrevo às almas
ou para as mentes que ralham
este poema;
escrevo ao corpo,
ao corpo que se contorce na cama
por comichão, fome e frio,
que vai à luta através do sonho
e por isso dorme a maior parte do
tempo.
No sono in sonho, coabitam,
bolinam as ninfas, ninfetas
e impúberes.

(o poema foi até aqui.)

Dito este e tantos outros que
meus dedos ainda lançarão
a vós, corpos inutilizados,
inutilizáveis, ojerisados por
esta doença infectocontagiosa
que fissura seus lábios,
efemina seus músculos
e bebe da umidade de seu corpo.

Só a vós vou e também
unicamente ao vosso reino.
Da minha “Laia”

Não viverá
o homem que protege sua carne
dos forasteiros.
Carne Exposta 

Outrora,
a vida com sua teoria newtoniana
atrozmente nos feriu,
sangremos por ruas,
nos alojamos como mendigos em albergues
de uma decadência inimaginável.

Minha “Laia”, desperta!
somos anos-luz de distância superiores;
deixem a mendicância, não há mais pelo qual
assumirmos os vícios, as ignorâncias e
vilezas da laia deles, a César o que é de César,
o embrutecimento da alma àqueles que não lapidados
já são.

Somos da minha “Laia”,
de alguma forma somos superiores,
somos realmente humanos que
entendem sobre como a roda toca
e o porque do lamento descabido.

Seja da minha “Laia”,
largue sua covarde segurança,
deixe que as sedas deslizem do seu corpo ao chão,
aposente sua velha máscara cubista,
confronte-os como um bom soldado civil que é;
saiba que a nossa liberdade vai
até onde os nossos medos nos impelem a parar,
resista-os e eles já não serão mais obstáculos
intransponíveis.

Vem,
da minha “Laia”
contando contigo,
já somos o mundo.

domingo, 2 de maio de 2010

sensibilidade
amplie
veja
visto
ampliado
sensibilizado

Chá das Cinco - Parte II

Se nosso passado é tomado
em xícaras de café ou chá,
o meu é apenas registrado
em caligrafia crua.

Meu passado
vira poema ou toada,
é que poeta têm existência breve
sofre da doença “inadequado”,
por isso escreve,
prega as situações
ao pé de sua cama
e faz delas cárceres domésticas.

E o único contato
com o “Abre-te Sésamo”,
o mundo que Deus fez em seis dias,
é o chá que em discurso sucinto
acaba no quinto e descansa no sexto.

O sétimo...
o sétimo que se dane.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Eis o homem e aos cachorros os que não me entenderem



(sim, referência e reverência absoluta à Nietzsche)

Deixe que eu cubra esta mesa
que aqui será altar de realidades inventadas
a que me ponho no centro

(divindade despótica e crente absoluto)

exerço meu culto
peço meu milagre
como se estivesse em outro país
e lá fosse permitido matar.

Sim, não cometo erros e nem crimes
estou acima da moralidade
mas se for preciso
reescrevo minhas leis,
porque não há religião maior do que a que inventei.

Poema Imagem


Poema imagem: 
experimentação poética de associação do gesto à cor.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O que se expõe



Às vezes só existo no exagero
Eterna exposição de mim
Externa auto-explicação de mim
Conjuntura de protestos, axiomas, cartas, afetos
Interna e pontuda angústia que esvoaça
irrompida de não ser
não ser tem em si toda a divindade que transborda de mim
encharcando a terra daquilo que não poderia regar.
Auto expropriação de mim
Sou grito partido
Atabaque para os Orixás
Luminiscência
Bunda de vaga vaga lume prenhe de escuridão
grávida na tentativa
densa e árdua re-obtenção de mim

II

Quando saí da tua vulva, mãe,
era da minha própria boca que saía
Boca úmida, de palavras úmidas
misturadas nos lábios do medo
Não, não tema por mim
que maior medo sinto eu
Medo esse, que se me re-vira,
me descobre e me emancipa
mais ainda de mim.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Manifesto poético ao . poe M arte . (2 anos de blog)

MANIFESTO POÉTICO AO . POE M ARTE .
MANIFESTO POÉTICO AO . POE M ARTE .
MANIFESTO POÉTICO AO . POE M ARTE .


preso num padrão estético miserável
faço arte para impor meus preconceitos.
subversivo é o ato
subversão é o palco.

Nota: 

As palavras de 2 anos atrás continuam com a mesma força hoje.
Clique aqui! 

sábado, 17 de abril de 2010

Motel

Motel


Alta noite
e na cidade vão-se morrendo os amantes.
Atrás deles
vou juntando seus vestígios largados pelo chão
até que fique tudo limpo.

Para alguns foi dado o direito de amar,
para outros,
o dever de guardar esse direito.
(ofício poético)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Poesias de Transfiguração - Início

A palavra deste poema é:             
transfiguração
Para os próximo versos, repita:     
transfiguração
e aos outros, aqueles que não entenderam e não sabem nada do mistério poético, 
comece novamente

A palavra deste poema é:

transfiguração

Para os próximo versos, repita:     
transfiguração





quarta-feira, 31 de março de 2010

Epigrama nº 5

Para o blog, uma nova fase. Agora, são eles que dominarão por aqui, estes seres feitos de alguma coisa, nem monstros, nem humanos, nem extraterrestres. Talvez seja o sentimento travestido, talvez fantasias. Espere que ainda não estamos em nenhuma utopia feérica; isto nem é futuro, nem é passado, nem é presente. Aqui o tempo não se conta se escuta
click clock click clock click clock click clock.
e a falta de sentido é o que fará todo sentido.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Estes, os admiráveis

Àqueles que me constrangem
impondo-me outras realidades das quais  me achei forte
o suficiente para enfrentar.
Àqueles que me cavaram buracos e
em seguida me estenderam a mão
em seguida me tiraram o chão
e repetidamente me restituíram uma nova força.
São a estes, os admiráveis,
os vinte e cinco % que busco, ora encontro ora perco.
Estes que lutam por suas verdades a todo custo.
Nestes que me apóio e quando guerreamos
estamos prontos para defender
(nos defender)
esse ponto em comum que nos liga
que perfura quando por algum motivo
pomos tudo isso em dúvida
Vocês são feito da mais pura essência
(não transcenda isso para o divino, deixe na escala humana que é a nossa)
que não poderia descrever a ninguém
porque disso, só intenciono deixar no ar, na mente dos que lêem isso
a certeza que é em vocês que vivo.

Vocês me tiram do eixo e mesmo assim,
atropeladamente
me recomponho.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Derrames V



Depois de ti,
perdi o jeito pro sexo
mordidas equívocas
penetrações incômodas

das sobras:
a disritmia do verso

porque antes segurávamos
a beleza do mundo sobre nossos púbis
e amar se descrevia como nuvens de pêlos

estrelas cadentes, abstrações sentidas
que hoje se descartaram.
Por lembrança te culpo
que não fodo como antes,
sendo angústia
ainda te espero com sensações velhas.

terça-feira, 16 de março de 2010

Derrames III



A partir do terceiro passo
já é rotina
a partir da segunda garfada 
o gosto é familiar
e o que acomete esse poema é sua ausência
misto de saudade, carência e colheres de piegas
angústia de instante 
derrame 
e no fim do quarto passo
já é tudo mentira
me contento ou me adapto:
quem ama nunca perde.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Ato de confissão (versão completa e editada)

Ato de confissão (versão completa e editada)

O que choca é a essência
esse contato desmedido provido e primitivo
estado fluído de versos de impacto
dispersados de mim
estado fluído de versos de impacto
imanentes em mim
algo de anima, espírito, ectoplasma.

Ser fluido neste mundo é alerta de perigo
porque dentro o conteúdo transborda
fora, nada contém o conteúdo.
Vendo as vidas se dispersarem por covardia,
as verdades se anulam e se destituem
e o que é singular se abastece de si
vivendo de si mesmo numa breve revolução pessoal.

Depois  disso, Clarice Lispector tem toda razão
o adulto é triste e solitário.


Pós Ato de confissão

Há uma lei na física que nos propõe que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, contraponho-me, isso é só matéria e esvaesço de mim; enquanto presos estivermos, nada se entenderá de essência.

II

O que choca é a essência
fluído manifesto nos meandros da vida
essa malicia de se pôr pra fora descalço
e não ser mais mar
a partir de então,
ser movimento de pura arrebentação

III

Meu jarro excede
transfigurado em matéria
alagando vizinhanças.
Não há quem me toque
sem tocar a vida.

  Vivo em essência.

Depois disso, dou-me toda razão,
é preciso colidir.

sexta-feira, 5 de março de 2010

a idéia do nosso mundo

a idéia do nosso mundo
a idéia do nosso mundo
a idéia do nosso mundo
a idéia do nosso mundo
a idéia do nosso mundo

Este é o tempo das mentes partidas e dos corações arredios.
Das fomes insassiáveis e das sedes extintas;
é que falta água de tanto nos lavarmos.
É o tempo dos amores feridos e da ausência sem fim.
Dispomos de gatilhos,
trepamos, trepamos e continuamos trepando por trepar,
não que isso seja errado, porque também fodo por foder,
mas a manhã seguinte sempre vem impigida de uma carência maior que a anterior;
assim como se acende cigarros,
um após o outro e permanecemos com os pulmões vazios,
somos a idéia concreta da angústia,
esta sensação de ter perdido algo e nunca se saber o por quê.
Continuamos perdendo, vai-se uns parentes e outros tantos milhões de estranhos,
e graças, não precisamos nos condoer, mesmo:

o mundo já nos dói por si só.

Todavia o mundo não tem peso algum,
o que pesam são as pessoas
o que dói são as pessoas.
Criamos teorias, nos apoiamos em Drummond,
, Lindolf Bell e tantos outros,
por um instante a vida fez sentido e somos belos e sujos,
somos a contrapartida da resposta quando ansiávamos o aceite, porque queremos e queremos e já não queremos mais.
Somos temerários quando deveríamos  não nos arriscar,
covardes quando o que mais a vida pede é coragem.
Elegemos novos ídolos,
pois deus já não faz sentido,
criamos Madona, Lady Gaga, Mika, Chico Buarque, Pelés,
e lhes cobramos ritmos absurdos,
suplicamos um milagre quando a única coisa que podem fazer é afirmar nossos medos,
sem mais respostas.
Estamos perdidos no mesmo caminho,
não há nada demais na liberdade,
alcançada, a busca se intensifica.

É questão de tempo até que tudo se perca
de vez.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Poema Brasileiro

"Depois de tantas idas e vindas nessa busca de ectoplasmas - tornei-me quase um caça fantasmas -, este é um poema despreocupado com tudo."
Beijos do Rafa
Poema Brasileiro


Agora não,
deixe pra depois
que o arroz tá no fogo
e ele pede atenção;
o fogo é alto
a água tá secando
logo, logo é o futuro
com fome de mistura de feijão.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

História Poética II - Espaço



No ponto de partida da dúvida
um espaço que no todo
compreende o espaço,
um tablado onde o teatrólogo
põe suas peças diante do fato.

Há uma rua pela qual caminho
todos os dias, faço-me por merecer
de toda essa quietude que as
persianas abaixadas persistem
em obliterar pequenas loucuras.

Tenho comigo que em algum
dos cômodos têm atores exímios
atuando no ponto de partida da dúvida:
Deixo-a? Fujo? Bato-lhe?
Tomo gim ou uísque? Casa comigo?

E ontem, então, pela fresta vi,

um alcoólatra dar rosas a uma mulher;

algumas damas esperando pelo carnaval
na torre mais alta do moinho;

também, inúmeros palhaços franceses
com narizes de rubro galhofa
apossando-se da pequena cidade
num espírito arrombado.

Todos se cruzam, todos transitam
derrubam pastas, atropelam cães,
e ao acaso dançam no mesmo clube,
só ao acaso bebem no mesmo boteco,
só ao acaso cometem pequenas loucuras.
No embalo, o dramaturgo na sua estréia
como senhor do circo, insiste que
seus palhaços dêem suas cabeças às mandíbulas
leoninas, e num gracejo pedante:

- que comece a brincadeira!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Ato de confissão


O que choca é a essência
esse contato desmedido provido e primitivo
estado fluído de versos de impacto
dispersados de mim
estado fluído de versos de impacto
imanentes em mim
algo de espírito, ectoplasma, anima
entende?

Ser fluido neste mundo é alerta de perigo
porque dentro o conteúdo transborda 
fora, nada contém o conteúdo
e as vidas se dispersam por covardia.
as verdades se anulam e se destituem
e o que é singular se abastece de si
vivendo de si mesmo numa breve revolução pessoal.

Depois  disso, Clarice Lispector tem toda razão
o adulto é triste e solitário.



sábado, 13 de fevereiro de 2010

A Palavra se fez carne e habitou entre nós



1

A Palavra quando se fez carne
e construiu seu templo abstrato no deserto
falou primeiro ao poeta, o mesmo em si,
em rompante de excentricidade criou o arcano
do verbo.

2


O Poeta quando se fez palavra
e primeiro letrado emocional
tornou-se num sacrílego,
escriturou depois do teti a teti
um amor subversivo
e todos os herdeiros e suas cromossômicas letras
hoje padecem da dor do não amado.



Lábios devotos debruçados sobre a fôrma alfabética,
a Palavra de tão forte
foi ao mundo dos cegos e surdos e leprosos,
escancarou com túmulos, chegando
onde o poeta e seu prelo não ousam proximidade.
Todos, então,
daqui até a travessia da linha do tempo,
aprenderam uma linguagem equivalente
e inexpressiva destituída de sentido.

4

A Palavra quando se fez carne e habitou entre nós,
sabia que de todo não era tão imbuída de importância
e que sua estadia na Terra seria breve
sabia que as dores e alegrias poderiam ser expressas
por lágrimas e sendo assim se fez dispensável.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O que satisfaz e enjoa



Vou comunicar minha verdade:

sou sua novidade.
E se de cá adiante ali
me torne sua reincidência
se destitua de mim,
porque só sirvo ainda fresco e mal passado.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Buroamor

Buroamor é um poema lá de 2008, pelo menos é como está arquivado na pasta dos meus documentos. Tal como o poema Mudança, este continua sendo muito significativo pra mim. Bom poema.

Não deveria ter dito que te gosto
por que quando disse,
inevitavelmente assumi o compromisso 
em ter que te gostar.

Minha palavra quando proferida
se torna lei, fato, concreto-armado,
e me rendo a ela com devoção,
ajoelho-me diante dela para que
me açoite.

Não deveria ter dito que te quero
por que quando disse,
inevitavelmente assumi o compromisso 
em ter que te querer.

Minha palavra quando proferida
é bem inalienável, vibração mentirosa,
porém, que como ferida de sarampo
adquirida durante a infância, perdura
por toda sua vida, mesmo que porventura 
venha a se ocultar debaixo dos seus pêlos.

Agora, temo dizer que lhe amo,
Temo por que dizendo... 
Temo, e temer é atestar com letras
de imprensa no meio da testa 
que lhe amo, pois segundo minhas
teorias psico-psicanalíticas-de-botequim
temer que determinado sentimento se manifeste
é basicamente afirmar que você já o têm sentindo,
já o têm enraizado, já o têm pendurado na 
sua garganta

e que você quer exteriorizá-lo 
pois que esse segurar-se já lhe
põe dores nas juntas;
pois que esse abster-se já lhe
têm deixado muitas noites acordado,
muitos dias acordado pensando no porvir da noite 
na qual, por mais uma vez, não conseguirá dormir.

Eu o amo
e escuto uma canção em francês,
e passo a amá-lo definitivamente

agora

agora que disse
agora que o momento passou a existir.

domingo, 31 de janeiro de 2010

I'll come

1-
O homem ereto
Pose straight
Imóvel falo criador.

2-
Seios in homem
A antagônica forma
De ser andrógino.

3-
Quem sabe três?
O seu indicador
O médio dele e o meu anular.

4-
Nós fazemos a forma
Assadeiras complexas
In that position.

5-
A língua
Musculatura miraculosa
cursando outras contrações.

6-
The decision?
Are you passive or active?
I’m versatile.

7-
A conquista da versatilidade,
Abra-me
Introduce me your words.

8-
Meio grotescos
Nossas formas
Dois homens e seus pênis eretos

9-
A iniciação of pleasure
Sêmen irrequieto
Sobre minhas costas vergadas.

10-
Voltamos ao UM
Circunferência que circunda
Ofegante o objeto do desejo.
Stick in ass
I’ll come.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Derrames





Se soubesse que te traio pelo cheiro
e pelo nariz vou sentido peles estranhas
mesclando-as ao meu faro
consumindo-as num contato lépido e displicente
forma de vazar meu desejo pelos outros
sem que o note.
porque meu desejo é sempre mais que um
e o meu amor aspira compreender
a totalidade dos homens.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Poesias de Transfiguração





Ano novo, template novo. Na verdade não sei se mudei devido ao ano novo ou as circunstâncias decorrentes. Para cada mudança, milhões de imagens e idéias se mesclam, sendo que muitas vezes o excesso me restringe e me deixa agressivo, arredio e dissonante até mesmo com as pessoas que convivo e amo. Abaixo projeto novo, chamado
Poesias de transfiguração, aquele que na segunda feira quando cheguei de viagem me tirou do meu centro. Peço desculpas a ti, meu amor e aos outros leitores boa sorte na leitura.   
Quando souber do resto, te digo.
te amo.


Poesias de Transfiguração

É sempre pela manhã minha maior carência
falta permanente nos
abraços que se apagaram durante a madrugada
e que nunca se restituirão.

É sempre pela manhã o desenlace
a imponência do sol trazendo todo
seu tépido despertar
maldita novidade da qual só eu participo
essa que me acordo
proclamando-me outro
como nascer e morrer sempre
e nisso tudo não ser ressurgido
é outro corpo: matéria transfigurada.

É sempre pela manhã que me entrego à luz
nasço com os olhos espantados
narinas excitadas

na boca,
o deguste da subnutrição.

Cresço rápido
e sendo tarde já estou prenhe de mim
sendo noite, volta o enlace,
readaptação no que você dita
e sem tempo, sem tempo, sem tempo
ter hora exata para morrer
sendo puro esquecimento sem nunca ter sido lembrança
só a descoberta triste de nunca ter tido pai.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Estética poética




Um bom poema
nasce de outro poema
não nasce do nada e nem das coisas
Não nasce de existências astrais
não participa de outros mundos
que não o da palavra
Avesso, é avatar terrestre incumbido
de códices, index e emoções
que se espiritualiza e intenta ao céu;
céu feito de gente servida de buscas
postas em badejas de papel.

Palavra nasce da palavra
e uma letra dá a mão a outra
como átomo que se encaixa a outro átomo
e dança ciranda,
ora em roda, ora em fila
e vai-se embora,
fingido de morte
no sentimento alheio.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...