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segunda-feira, 11 de abril de 2022

o oco cheio de vazio

é que não posso ser

porque não me pertenço

não sou de mim mesmo:

nem o corpo ou a fala

nem o membro, nem a língua

 

nem o próprio gozo

apreendido pelo isso

que nem sei

 

mas eu estive lá por tanto tempo em busca de ser: uma massa conforme, delimitada e inteligível que olhada se descreve facilmente descomplicada, sintética e amável. Ser amável nos seus limites, deslocado das minhas bordas que nos arremessam a profundidade netuniana do não ser. a verdade é que sempre fui profundo demais, netuniano demais. até na superfície encontro funduras, percursos e distâncias: um aguadeiro sem fim, de encontro de rio, de jorrar fluídos numa solidificação lodosa de sonho, então pesadelo e realidade.

me assumo aqui, no não ser: naquilo que me escapa irrefletido ou na impossibilidade da imagem para o vampiro

e nesse recomeço, porque há tempo,

estarei mistério para mim mesmo!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Tempo de fluorescer

de mim,

tiveram tudo

e nada quiseram.

 

no meu tempo de fluorescer

lançaram pás de cal,

empalideceram cores

 

a carta de páscoa?

riram de mim!

puseram a mesa, louvaram o cristo,

se empanturraram de chocolate

e só. 


Insensíveis!

 

 

segunda-feira, 23 de março de 2020

23/03/2020 BRASIL

Há quem se contente com o igual 
com o mais do mesmo
com o mesmo do mesmo
só consigo mesmo em si

(eu)

e só em si
todas as energias concentradas
os vórtices e as fomes concêntricas
num umbigão mal rompido
da placenta 

que só sabe ser material!

- contando nos dedos as cabeças de gado,
o doutor sem doutorado,
cerca-nos a terra e nos apropria no horizonte
a perder de vista




quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

15/01/2020 EU NO BRASIL

tudo em mim é resistência!

15/01/2020 BRASIL

RECONHECER O INIMIGO
O VERDADEIRO ININIMO
PARA NÃO ATACAR O AMIGO
PARA NÃO PERDER O AMIGO
MAS SEM ESQUECER QUE ELE PODE SER
UM POSSÍVEL INIMIGO

.
.
.
NO FUTURO
.

E DEIXECERTO

(que além da pós-modernidade e do hoje,
há, sim, um possível futuro distópico, onde:

-VOCÊ AINDA NÃO É MEU INIMIGO
MAS TEM UMA CARA DE QUEM ME
DARIA DE COMER ÀS BESTAS PARA PROTEGER
SEU
GADO!





domingo, 12 de maio de 2019

Melancia

pressinto a novidade.
ela me vem como uma intuição,
como o soar de um instrumento de sopro.

uma anunciação, um delírio, um êxtase religioso
que toma o corpo
e brada como os Caboclos num terreiro de umbanda,
sempre abrindo caminhos,
rompendo matas,
retirando a erva daninha
que pela fresta do cimento

se enraizou
intentando o céu.

- aí você me perguntou como isso era possível?

(porque há sempre um espaço a ser preenchido com perguntas)


um pé de melancia, citrullus vulgaris,
irromper não sei de onde,
semeada de não sei que pássaro-vento nesse quase fim de verão?

(porque há sempre um espaço a ser preenchido com respostas)

e um silêncio imperceptível
em que a vida acontece
 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Pornô XVIII

À mesa de jantar eu só queria entender o porquê de se parabenizar os pais dos noivos pelas escolhas que só dizem respeito aos noivos.

- Ah, mas é a tradição!

(servia-se de estrogonofe)

- Porque é assim!

(abocanhava o estrogonofe)

e eu:

- Tenho pavor de toda obrigatoriedade social!





quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Esperança

quando você me diz que vai ficar tudo bem,
que tudo se ajeita,
é como se eu recuperasse algo,
como se escancarasse portas,
cavocasse a terra
e lá,
onde nunca imaginei,
re-encontrasse a
poesia.

Sem título mas em mutação

POR ISSO

eu não preciso olhar mais para fora,
porque o fora já me tomou
através das janelas digitalizadas,
através das pontes cibernéticas
pelas quais me desloco inerte
em dedos e multitelas.

O meu limite agora é o dentro !

A minha aventura
é o dentro
da casca de concreto

onde toco clausuras vítreas  
de funduras não inteligíveis
de mim

e

misturo-me ao abissal,

escamoso ou liso,
fosforescente
como olhos de lanterna:
  
- SOU peixe MUTANTE!

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Tá na cara, Melodia

Me sinto a vontade no meu carro.
Extremamente a vontade no meu carro.
Cutuco as narinas,
retiro o tatu
e faço bolinha.

Às vezes eu lanço pra fora da janela num peteleco,
outras, eu passo no banco ou boto na boca,
dou uma mordidinha
e sem coragem de engolir
lanço pra fora da janela
e já não é mais problema meu.

(do meu carro eu também sei escarrar)

Fora de mim, eu lavo as minhas mãos;
fora do meu carro,
não sou, não existo, não pertenço!

A cidade em si eu não vejo,
as pessoas tampouco. 

As pessoas esperando na faixa de pedestre,
elas existem num plano espiritual muito distante
do qual não faço parte.

(daqui a pouco a gente entra naquele mês de conscientização no trânsito)

"acho que estou numa propaganda do carro que será o carro do ano.
Trajo terno e gravata e a barba rala 
como dizem que as mulheres gostam,
e sou branco.
Branco numa cidade tecnológica e desabitada,
mas ainda de fé cristã,
porque em frente da faixa há uma igreja
e insisto em fazer o sinal da cruz"

me benzo!
E sigo abençoado, na velocidade que quero,
pela rua que quero, cruzando, transpassando e penetrando
a via que quero sem os olhos do julgo, repetindo
intermitentemente a minha auto-ajuda

eu posso (dentro do meu carro)
eu sou (dentro do meu carro)
eu existo (dentro do meu carro)
porque tá na cara que o jovem tem seu automóvel, Melodia.

Mas daqui a pouco a gente entra naquele mês de conscientização no trânsito,

(antes fosse só o mês das noivas!)

bota a fitinha amarela e finge ser educado,
o amarelo do patinho de borracha
e que de nada entende de nada
circulando na cidade
confortavelmente em seu carro.


segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Fragmento

Vou ficar em silêncio
mesmo que o silêncio não me sirva
e eu deseje mesmo o movimento

a fala incontida,
os dedos sobre o seu corpo,
a aresta vincada com unha do origami,
o seu sorriso fácil,

a imagem entrecortada
desses pequenos prazeres

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Memória

Certo que uma palavra dita uma única vez possa,
inexoravelmente, atravessar a camada córnea
e ali permanecer
como a um berne
apodrecendo a carne.

Coisa mais nojenta!

põe-se uma manta de toucinho
sobre o ferimento vulcânico,
aguarda o berne apontar para o respiro
e então, pinça-o com a destreza de um médico cirurgião vulgar,
um curandeiro de ladainha incensada:
- Que não deixe seus ovos!

Depois com fósforo e álcool,
incinera-o.

(O fogo é elemento fundamental para purgar o mal:...)

II

mas,
sendo a palavra substância sem veículo corpóreo,
sobre ela não se põe emplasto,
não se extrai com pinça,
não se atiça o fogo

III

a palavra!
ah, o que se faz com a palavra?
aquela ouvida para se instaurar como a um mal,
como a um berne?

IV

Recomendação:
não a detenha!
Deixe que circule mas não a detenha.
Nunca a detenha!

a máquina da noite

tique-taque taque
uma nova ordem instaurada,
nada a ver com a máquina do coração,
o relógio digital.

deve ser louco
aquele que reitera
a obviedade das coisas

-o relógio, antigamente,
fazia um tique-taque, tique-taque...
vinha da sala e
ressoava pelos outros cômodos
até desaparecer, hipnoticamente, em sono.

Acordávamos sem o tique-taque:
sim,
alguma coisa surgia e se perdia com a noite!







segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Diálogo

às vezes,
coloco as mãos por primeiro
e faço.

Outras, coloco o coração por primeiro,
em seguida
o restante do corpo.

o que quero dizer com isso
é que
às vezes eu construo e passo a ter amor;
outras,
amo fora do processo.

só não deixo de amar 

nunca.



domingo, 25 de junho de 2017

Noite de sono

Quero, sei lá... ser livre!
deixar o passado lá
e sair cantando
la ra ra

a gente sabe que é possível!
começa sem muita vontade
num assovio tímido,
quase um chiado;
um rangido de dentes;
uma fresta de luz cortando a escuridão

NUM GRITO

- FALE!

logo estamos rendidos!
um dedo a mais que se mexe
outro corpo contaminado
pelo movimento
que o anima;
outra boca que se abre

num milagre:
um milagre essencial:
por um milagre cotidiano!

Outro Lázaro que ressurge,

tique-taque-taque

desperto da cama,
escovo os dentes,
beberico meu café,
penetro o dia desatado
dos nós
e
deixo-me ir

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Liberdade

se eu passar por esta noite ileso
passo pela seguinte
e pela próxima
também ileso

é necessário a repetição:
a loucura a exige
tanto quanto a liberdade

eu sairei ileso esta noite
e na próxima e próxima noite
eu sairei ileso
também



fora as amarras
do corpo e do sonho
eu já estarei livre

Vazio

criar o vazio
delimitando-o com paredes

ocupar o vazio

dispor alguns móveis,
principalmente
sofás, bancos, cadeiras e chão...

sentar-se nestes
acender um cigarro ou um incenso
ou a lareira defronte

acender

deixar que seja fumaça
que se evole o pensamento
que se espraie a cinza, o corpo e as paredes
átomo a átomo
até ser nada
e tudo
existencialmente

vazio


segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Sendo o amor uma escolha

Quando ele me disser vem, não terei medo de ir
estarei pronto o momento que for
sem dúvidas ou medos bobos
:
de todas as escolhas,
o amor
é a que exige mais coragem


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Medo de ficar Zen

Vou começar a dizer por dizer 
desvairadas palavras 
que pelo corpo 
ricocheteiam 
como trovões ao longe

e não muito longe
quero mais que se foda tudo isso
quero a palavra racional
como tratamento de choque
:
raspar a cabeça
ainda me é a catarse
mais apropriada



o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...