terça-feira, 18 de maio de 2010

Derrames (Edição completa)

Derrames

Se soubesse que te traio pelo cheiro
e pelo nariz vou sentido peles estranhas
mesclando-as ao meu faro
consumindo-as num contato lépido e displicente
forma de vazar meu desejo pelos outros
sem que o note.
porque meu desejo é sempre mais que um
e o meu amor aspira compreender
a totalidade dos homens.

- um -

Mil atrevimentos me corrompem a boca.
Corrompida,
planto sarceiros
discuto com vizinhos
assisto ao futebol
fumo carteiras de cigarros
tomo uma cervejinha
mas, se mesmo assim perder
vou para o tira-teima
apelo com outras armas
troco escopetas
por empates de beijos.

- dois -

Se não te mato de vez
com um só disparo
é por covardia cotidiana.
Matar aos poucos é menos injusto comigo
menos temerário e me justifica
e não me força arrependimentos
quando te morreres de vez.
quando te morreres de vez
fraqueza última e virgem

saiba, que te matei sempre
mas a decisão sempre foi sua.

- três -

A partir do terceiro passo
já é rotina
a partir da segunda garfada
o gosto familiar
e o que acomete esse poema é sua ausência
misto de saudade, carência e colheres de piegas
angústia de instante
derrame
e no fim do quarto passo
já é tudo mentira
me contento ou me adapto:
quem ama nunca perde.

- quatro -

Depois de ti,
perdi o jeito pro sexo
mordidas equívocas
penetrações incômodas

das sobras:
a disritmia do verso

porque antes segurávamos
a beleza do mundo sobre nossos púbis
e amar se descrevia como nuvens de pêlos

estrelas cadentes, abstrações sentidas
que hoje se descartaram.
Por lembrança te culpo
que não fodo como antes,
sendo angústia
ainda te espero com sensações velhas.

- cinco -

Dessa vez
quero ser o que parte
e não o que espera,
é o transeunte aqui
vestido de mágoas
malfadando a sua sorte
sobre um pequeno
derramencanto

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Derrames IV



Mil atrevimentos me corrompem a boca.
Corrompida,
planto sarceiros
discuto com vizinhos
assisto ao futebol
fumo carteiras de cigarros
tomo uma cervejinha
mas, se mesmo assim perder
vou para o tira-teima


apelo com outras armas:
  -troco escopetas por empates de beijos 

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Pedro Ludgero e seu livro Sonetos para-infantis – Agradecimento.

Depois de um longo dia sem fazer nada (sigo a filosofia do nadismo), chega por correio um malote de Portugal contendo um livro chamado, Sonetos para-infantis de Pedro Ludgero, editora Incomunidade, 2010.
Aqui vai meu agradecimento pelo esforço e gentileza em me remeter esta obra poética, repleta de descobertas e invenções. Sinto-me honrado, semelhante a uma criança que recebe alguma medalha e a estampa por aí, e com todo direito, afinal, o livro viajou muito para estar nas minhas mãos. Pedro Ludgero, um abraço atlântico,

Rafael Costa.

sexta-feira, 7 de maio de 2010



Resumo

Porque é triste o começo
eu anuncio o fim
porque deverá ser alegre o fim
é que maldigo o começo sem me precipitar;
por isso mordo os extremos
feito cadela no cio
ou como fagia felina:

o nascituro disforme,
por natureza,
é abocanhado pela mãe.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Aos que vivem morrendo




Aos que vivem morrendo
Ou
Aos que morrem todos os dias
Ou
Aos homens que são humanos 

(Início do poema)

Não escrevo às almas
ou para as mentes que ralham
este poema;
escrevo ao corpo,
ao corpo que se contorce na cama
por comichão, fome e frio,
que vai à luta através do sonho
e por isso dorme a maior parte do
tempo.
No sono in sonho, coabitam,
bolinam as ninfas, ninfetas
e impúberes.

(o poema foi até aqui.)

Dito este e tantos outros que
meus dedos ainda lançarão
a vós, corpos inutilizados,
inutilizáveis, ojerisados por
esta doença infectocontagiosa
que fissura seus lábios,
efemina seus músculos
e bebe da umidade de seu corpo.

Só a vós vou e também
unicamente ao vosso reino.
Da minha “Laia”

Não viverá
o homem que protege sua carne
dos forasteiros.
Carne Exposta 

Outrora,
a vida com sua teoria newtoniana
atrozmente nos feriu,
sangremos por ruas,
nos alojamos como mendigos em albergues
de uma decadência inimaginável.

Minha “Laia”, desperta!
somos anos-luz de distância superiores;
deixem a mendicância, não há mais pelo qual
assumirmos os vícios, as ignorâncias e
vilezas da laia deles, a César o que é de César,
o embrutecimento da alma àqueles que não lapidados
já são.

Somos da minha “Laia”,
de alguma forma somos superiores,
somos realmente humanos que
entendem sobre como a roda toca
e o porque do lamento descabido.

Seja da minha “Laia”,
largue sua covarde segurança,
deixe que as sedas deslizem do seu corpo ao chão,
aposente sua velha máscara cubista,
confronte-os como um bom soldado civil que é;
saiba que a nossa liberdade vai
até onde os nossos medos nos impelem a parar,
resista-os e eles já não serão mais obstáculos
intransponíveis.

Vem,
da minha “Laia”
contando contigo,
já somos o mundo.

domingo, 2 de maio de 2010

sensibilidade
amplie
veja
visto
ampliado
sensibilizado

Chá das Cinco - Parte II

Se nosso passado é tomado
em xícaras de café ou chá,
o meu é apenas registrado
em caligrafia crua.

Meu passado
vira poema ou toada,
é que poeta têm existência breve
sofre da doença “inadequado”,
por isso escreve,
prega as situações
ao pé de sua cama
e faz delas cárceres domésticas.

E o único contato
com o “Abre-te Sésamo”,
o mundo que Deus fez em seis dias,
é o chá que em discurso sucinto
acaba no quinto e descansa no sexto.

O sétimo...
o sétimo que se dane.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Eis o homem e aos cachorros os que não me entenderem



(sim, referência e reverência absoluta à Nietzsche)

Deixe que eu cubra esta mesa
que aqui será altar de realidades inventadas
a que me ponho no centro

(divindade despótica e crente absoluto)

exerço meu culto
peço meu milagre
como se estivesse em outro país
e lá fosse permitido matar.

Sim, não cometo erros e nem crimes
estou acima da moralidade
mas se for preciso
reescrevo minhas leis,
porque não há religião maior do que a que inventei.

Poema Imagem


Poema imagem: 
experimentação poética de associação do gesto à cor.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O que se expõe



Às vezes só existo no exagero
Eterna exposição de mim
Externa auto-explicação de mim
Conjuntura de protestos, axiomas, cartas, afetos
Interna e pontuda angústia que esvoaça
irrompida de não ser
não ser tem em si toda a divindade que transborda de mim
encharcando a terra daquilo que não poderia regar.
Auto expropriação de mim
Sou grito partido
Atabaque para os Orixás
Luminiscência
Bunda de vaga vaga lume prenhe de escuridão
grávida na tentativa
densa e árdua re-obtenção de mim

II

Quando saí da tua vulva, mãe,
era da minha própria boca que saía
Boca úmida, de palavras úmidas
misturadas nos lábios do medo
Não, não tema por mim
que maior medo sinto eu
Medo esse, que se me re-vira,
me descobre e me emancipa
mais ainda de mim.