sexta-feira, 28 de maio de 2010

Derramencanto



- Derram encanto -

Por alinhavar esperas
rasguei minha partida
com símbolos mágicos.
Fiz pacto com incubus,
os filhos de Príapo,
e humanamente
fui surpreendido num encanto.

- Derramen canto

Era encanto irisado de volúpia
sentido no sexo do incubus
névoa composta
feito filme de terror.
Cada vez que
insurgido e estridente que
meu canto se abria,
era retorno às coisas terrestres.

- Derram en canto -

en entre,
justa a palavra entre
significado estrito
de entreposto, meio
:
depois de ter sido humano
não se pertence nem
a Terra e nem ao transcendente
é-se puro en meio.

- Derrame ncanto -

Ritualizo
Falo de ladainhas metafísicas
porque teu resto ficou em mim.
Encostado,
evoco-te no próximo espírito
e tudo segue e tudo volta
nada além, nada aquém
simples derrame, simples humano,
simples sentimento que não se esvai.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

vício

Adquiri o hábito de tirar lascas das caixas de fósforo e chupá-las depois, nem tem gosto, mas tem textura melhor que a da goma de mascar, e dá maior liberdade à língua e aos dentes. E só troco quando vai se desmanchando em outras pequenas lascas e paro quando satisfeito.

Troquei um vício por um, aparentemente inócuo: não sei viver sem concretizar o tempo ocioso em matéria visível.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Choro

A dor é insuportável
até que chegue aos olhos
e exploda em lágrimas.
Choro não é descontrole
fraqueza ou vitimização.
Choro é desabafo;
uma hora você se enternece
e volta a sonhar sem os ufanismos
de outrora.


terça-feira, 25 de maio de 2010

itinerário



Sou corajoso, corajoso, corajoso, repito isso para ver se corroboro na minha mente a força que preciso restituir o mais rápido possível antes que venha fenecer. Nos últimos tempos, fui alvo da vida conturbada que só quem cresce pode ser atingido. Não é porque comi do que não deveria, aliás, é também por isso, mas são milhões de esperanças que se tornam desfeitas num estalo.

Talvez porque faça de cada sonho um deus, mas saiba que cada deus eu travesti de ideais puramente humanos e interpelo por alguém que me diga que ainda é possível seguir depois de tantas lutas. Disseram-me para ter calma que são infinitas as possibilidades. Mas até quando o infinito, teimosamente, reservar-se-á a me dar uma única possibilidade? 

Foi o amor que por itinerário, não vingou; os amigos que mais me compreendiam, partiram; tudo por culpa de itinerários. Uns disseram, hoje não dá porque viajo, passei no vestibular e estou de mudança. O problema é que todos mudam de cidade ou personalidade mesmo, só eu que permaneço tão oco e triste quanto antes.

Tenho pena das mães, somos os únicos animais que não sabemos lidar com as percas, os outros ensinam o ofício e abandonam suas crias e seguem em ordem, mas nós humanos, somos desraigados e o que fica é a miserável saudade, a impotência.
Carta II
Meu caro,

Não sou tão rude e vil quanto imagina. Também, nem tão avoado no mundo que criei. É certo que muitas vezes o subjetivo se confundiu nas atitudes que adotei, mas veja, foram mínimas. Cada ser possui gatilhos de sobrevivência e age em cima deles, e você diria que isso não justifica nada no convívio social.

Beijo,

Rafa.

domingo, 23 de maio de 2010

Carta I
Tentando explicar é que me confundo. Talvez me direcione tortuosamente e será sempre assim até o momento em que, decididamente, eu fique mudo para não criar padrões equívocos na sua cabeça: sinal de respeito às suas regras. Então me ajoelho.

Comecei a ler mesmo com doze anos, disse, vou dar uma chance aos livros e ver o que eles têm a dizer, desde então eu consumo livros para me salvar, porque cada frase, verso que me identifico é semelhante levar uma machadada na cabeça, só não se sangra, do resto, sente-se a dor e um apelo da humanidade visionando um resgate. Fecho o livro por uns minutos e imagino uma saída para superar e continuar a leitura.

Como The dreamers do cineasta Bernardo Betolucci, fiz dos livros a cinefilia dos seus personagens que confundiram a tela ao ponto de não saberem seu papel fundamental no cotidiano, absorveram outros personagens e viveram numa mistura de atos e tragédias.

Prêmio Blog de Ouro

Fiquei lisonjeado ao receber o Selo Prêmio Blog de Ouro de Paulo Sérgio Zerbato, do Blog
A Arte de Paulo Sérgio Zerbato. Agradeço a ti e a todos que lêem o blog . poe M arte ., afinal, é feito para vocês.

Perguntas e respostas:

1) Por que acho que mereci o prêmio?

Pela minha dedicação ao blog.

2) Na minha opinião, qual postagem do blog é o que mais merece receber este selo?

As postagens referentes à série Derrames, pois percebi que muitos leitores se identificavam com a linguagem poética.  Como disse Paulo Vítor Cruz: Derrames foi uma boa viagem... daquelas que não dá vontade de retornar...

3) Do blog que me indicou, o que mais me agrada? Ele mereceu este prêmio?

Sem dúvida que o blog do Paulo Sérgio Zerbato mereceu o recebimentos deste, porque a sua arte é construída a partir de algo que simpatizo e tento fazer neste blog, aliar as artes Visuais à linguagem escrita, literária, poética; Paulo Zerbarto, expõe aos seus leitores os processo de criação, dos aforismo literários, constrói uma arte contemporânea engajada às necessidades tanto subjetivas quanto objetivas do ser humano.  

Os blogs que indico:

  1. Frutos podres de uma imaginação febril – Paulo Vítor Cruz
  2. Vocàbulah – Ramon de Alencar
  3. Cabo da Boa Tormenta – Pedro Ludgero
  4. ET CETERA – Et Cetera
  5. 1, artigo indefinido - ccauan
  6. Mon Bateau – Lívia
  7. Entre o que há – Resiliência
  8. Com dizer – Thalita Castello Branco
  9. CAOS DE INVERNO – Gérson de Oliveira
  10. Lavoura de fumo – LRP


Abraços,

Rafael Costa ; )

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Re-originando as espécies

Deveria emergir Hefasto*
para pôr fogo nas montanhas,
erigir nuvens tóxicas;

salvaguardando as águas, sobre elas e acima,
veja-se o pó.

- Saberá o platelminto que Darwin já lhe impôs uma tarefa?

*Hefaísto

terça-feira, 18 de maio de 2010

Derrames (Edição completa)

Derrames

Se soubesse que te traio pelo cheiro
e pelo nariz vou sentido peles estranhas
mesclando-as ao meu faro
consumindo-as num contato lépido e displicente
forma de vazar meu desejo pelos outros
sem que o note.
porque meu desejo é sempre mais que um
e o meu amor aspira compreender
a totalidade dos homens.

- um -

Mil atrevimentos me corrompem a boca.
Corrompida,
planto sarceiros
discuto com vizinhos
assisto ao futebol
fumo carteiras de cigarros
tomo uma cervejinha
mas, se mesmo assim perder
vou para o tira-teima
apelo com outras armas
troco escopetas
por empates de beijos.

- dois -

Se não te mato de vez
com um só disparo
é por covardia cotidiana.
Matar aos poucos é menos injusto comigo
menos temerário e me justifica
e não me força arrependimentos
quando te morreres de vez.
quando te morreres de vez
fraqueza última e virgem

saiba, que te matei sempre
mas a decisão sempre foi sua.

- três -

A partir do terceiro passo
já é rotina
a partir da segunda garfada
o gosto familiar
e o que acomete esse poema é sua ausência
misto de saudade, carência e colheres de piegas
angústia de instante
derrame
e no fim do quarto passo
já é tudo mentira
me contento ou me adapto:
quem ama nunca perde.

- quatro -

Depois de ti,
perdi o jeito pro sexo
mordidas equívocas
penetrações incômodas

das sobras:
a disritmia do verso

porque antes segurávamos
a beleza do mundo sobre nossos púbis
e amar se descrevia como nuvens de pêlos

estrelas cadentes, abstrações sentidas
que hoje se descartaram.
Por lembrança te culpo
que não fodo como antes,
sendo angústia
ainda te espero com sensações velhas.

- cinco -

Dessa vez
quero ser o que parte
e não o que espera,
é o transeunte aqui
vestido de mágoas
malfadando a sua sorte
sobre um pequeno
derramencanto

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Derrames IV



Mil atrevimentos me corrompem a boca.
Corrompida,
planto sarceiros
discuto com vizinhos
assisto ao futebol
fumo carteiras de cigarros
tomo uma cervejinha
mas, se mesmo assim perder
vou para o tira-teima


apelo com outras armas:
  -troco escopetas por empates de beijos 

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Pedro Ludgero e seu livro Sonetos para-infantis – Agradecimento.

Depois de um longo dia sem fazer nada (sigo a filosofia do nadismo), chega por correio um malote de Portugal contendo um livro chamado, Sonetos para-infantis de Pedro Ludgero, editora Incomunidade, 2010.
Aqui vai meu agradecimento pelo esforço e gentileza em me remeter esta obra poética, repleta de descobertas e invenções. Sinto-me honrado, semelhante a uma criança que recebe alguma medalha e a estampa por aí, e com todo direito, afinal, o livro viajou muito para estar nas minhas mãos. Pedro Ludgero, um abraço atlântico,

Rafael Costa.

sexta-feira, 7 de maio de 2010



Resumo

Porque é triste o começo
eu anuncio o fim
porque deverá ser alegre o fim
é que maldigo o começo sem me precipitar;
por isso mordo os extremos
feito cadela no cio
ou como fagia felina:

o nascituro disforme,
por natureza,
é abocanhado pela mãe.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Aos que vivem morrendo




Aos que vivem morrendo
Ou
Aos que morrem todos os dias
Ou
Aos homens que são humanos 

(Início do poema)

Não escrevo às almas
ou para as mentes que ralham
este poema;
escrevo ao corpo,
ao corpo que se contorce na cama
por comichão, fome e frio,
que vai à luta através do sonho
e por isso dorme a maior parte do
tempo.
No sono in sonho, coabitam,
bolinam as ninfas, ninfetas
e impúberes.

(o poema foi até aqui.)

Dito este e tantos outros que
meus dedos ainda lançarão
a vós, corpos inutilizados,
inutilizáveis, ojerisados por
esta doença infectocontagiosa
que fissura seus lábios,
efemina seus músculos
e bebe da umidade de seu corpo.

Só a vós vou e também
unicamente ao vosso reino.
Da minha “Laia”

Não viverá
o homem que protege sua carne
dos forasteiros.
Carne Exposta 

Outrora,
a vida com sua teoria newtoniana
atrozmente nos feriu,
sangremos por ruas,
nos alojamos como mendigos em albergues
de uma decadência inimaginável.

Minha “Laia”, desperta!
somos anos-luz de distância superiores;
deixem a mendicância, não há mais pelo qual
assumirmos os vícios, as ignorâncias e
vilezas da laia deles, a César o que é de César,
o embrutecimento da alma àqueles que não lapidados
já são.

Somos da minha “Laia”,
de alguma forma somos superiores,
somos realmente humanos que
entendem sobre como a roda toca
e o porque do lamento descabido.

Seja da minha “Laia”,
largue sua covarde segurança,
deixe que as sedas deslizem do seu corpo ao chão,
aposente sua velha máscara cubista,
confronte-os como um bom soldado civil que é;
saiba que a nossa liberdade vai
até onde os nossos medos nos impelem a parar,
resista-os e eles já não serão mais obstáculos
intransponíveis.

Vem,
da minha “Laia”
contando contigo,
já somos o mundo.

domingo, 2 de maio de 2010

sensibilidade
amplie
veja
visto
ampliado
sensibilizado

Chá das Cinco - Parte II

Se nosso passado é tomado
em xícaras de café ou chá,
o meu é apenas registrado
em caligrafia crua.

Meu passado
vira poema ou toada,
é que poeta têm existência breve
sofre da doença “inadequado”,
por isso escreve,
prega as situações
ao pé de sua cama
e faz delas cárceres domésticas.

E o único contato
com o “Abre-te Sésamo”,
o mundo que Deus fez em seis dias,
é o chá que em discurso sucinto
acaba no quinto e descansa no sexto.

O sétimo...
o sétimo que se dane.