domingo, 8 de março de 2015
Pornô IV
“Bando de caretas”
“Quem?”
“Os naturistas...”
“Pq?”
“Dizem que no Candomblé Exu se manifesta de pau duro”
“E...?”
“Na praia de nudismo você não pode ficar de pau duro”
“Ah...”
“Nunca fui, mas é a imagem que vendem”
Pornô IX
De uma hora para a outra o seu maior medo era descobrir-se viado. Começou a ter sonhos com amigos lhe enrabando, lhe consolando com beijo na maior intimidade: nunca mais foi o mesmo. No vestiário, escondia-se atrás das portas, escondia-se em toalhas, escondia-se com as mãos, escondia-se basicamente: uma barreira intransponível de bastante espuma nos pentelhos para esconder o pau e a bundinha... e o desejo: o possível despertar do seu corpo diante de corpo igual; pior, que o desejo viesse dos outros e não soubesse conduzir sem dar pinta: se na camaradagem, viado; se agressivo, homofóbico, viado. Sem escapatória. Duchas sem divisórias, meias-paredes, tapumes de corpo. Aonde se esconde o desejo? Sentiu-se terrivelmente amado, terrivelmente desesperado, terrivelmente excitado. Só podia ter virado viado! Tudo isso, todo esse medo, essa dúvida, surgiu porque há dois meses teve uma constipação que o deixou quatro dias sem defecar. Quando finalmente defecou, ficou extremamente excitado imaginando que alguma coisa o penetrava, que alguma coisa o comia e intensificava a sensação de prazer a ponto de fazê-lo gozar... gozou sem tocar no pau.
quinta-feira, 5 de março de 2015
Pornô XI
Há um jeito mais ou menos másculo, ou polar, mais ou menos feminino de se dormir? Ou corpo que distendido pela forma macho fêmea aparenta fêmea macho? Como o corpo que se dá a imagem, a pergunta que ao perguntar responde: pretensioso!? Tava tirando a sobrancelha, cenho não franzido, uma placidez instaurada a cada fio pinçado – ‘Tens que limpar a sobrancelha, teu olhar tá muito carregado... só uma limpadinha, pra não ficar muito feminino’ - parte da minha expressão delicada medida e pinçada, porque hoje em dia, tudo é milimetricamente medido e pensado; um fio a mais ou a menos torna-se argumento suficiente aos maledicentes, que são também os de boca santa: ‘Parece uma bichinha!’ Ou – ‘Nossa, que diferente que ele tá... um olhar mais complacente!’. Duvido muito que saibam o significado de complacente, então, como poderão elogiar com palavra tão sóbria e culta, e mais, por que desejaria tal elogio tão distante de corpo? Pincei alguns fios a mais, queria algo sincero, um xingamento – ‘Oh, bichinha da sobrancelha fina!’ – como se alguém inesperado a qualquer momento pudesse adentrar o quarto e me tivesse fêmea macho de sobrancelha feita; olhar delicado de corpo desejoso outro corpo repousados sobre o travesseiro numa imobilidade pretensiosa de ser libido sendo macho sendo fêmea.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
Pornô III
“Não, essa posição pode machucar!”. Prestes a dar uma boa cavalgada no pau dele, com o cuzinho lubrificado de cuspe, ardendo de tesão, ele me fala isso: “não, essa posição pode machucar! Não viu a pesquisa que eu te enviei ontem? Notícia da Folha, de ontem” enquanto acomodava minhas nádegas em suas coxas para prestar atenção às hipocondrias dele “metade das lesões no pênis decorrem da posição cowgirl” dois homens numa suíte de motel revestida com espelhos, brinquedinhos sobre o aparador, ‘eu cowgirl?!’ “a posição missionário e a de quatro também podem lesionar o pênis” descolei a bunda dalí, não ia perder aquele cuspe todo. Me dirigi ao aparador e catei o brinquedinho “o que você tá fazendo?” abri o brinquedinho, tinha o nome de John, durinho, 23 cm; o apoiei num banquinho, e sentei no John, olhos fixados no espanto do jornalista: vagarosamente sentei gostoso exprimindo um gemido e perguntei “esse aqui também lesiona?”
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
Pornô
Sobre o corpo e sua corporeidade ideal: o desejo.
Pornô I
Nos encontramos na praia: eu numa direção, ele na contrária. Já o tinha avistado de longe, mas para que ele não percebesse, dava olhadelas furtivas. Inevitavelmente nossos olhos se cruzaram e nisto fomos obrigados a investir numa aproximação corpo a corpo.
- Oh, Cara, curtindo a praia de manhã?
(meus olhos no sorriso dele)
- De manhã... sol... tá bem gostoso...
(meus olhos no peitoral dele, os mamilos envoltos em pelo )
- Dando uma corridinha?
(meus olhos fingimento cabisbaixo)
- Uma caminhada... tá bem gostoso... a manhã! E você?
(com a língua, organizar os pelos entorno do mamilo)
Pornô I
Nos encontramos na praia: eu numa direção, ele na contrária. Já o tinha avistado de longe, mas para que ele não percebesse, dava olhadelas furtivas. Inevitavelmente nossos olhos se cruzaram e nisto fomos obrigados a investir numa aproximação corpo a corpo.
- Oh, Cara, curtindo a praia de manhã?
(meus olhos no sorriso dele)
- De manhã... sol... tá bem gostoso...
(meus olhos no peitoral dele, os mamilos envoltos em pelo )
- Dando uma corridinha?
(meus olhos fingimento cabisbaixo)
- Uma caminhada... tá bem gostoso... a manhã! E você?
(com a língua, organizar os pelos entorno do mamilo)
- Uma corridinha gostosa... manter a forma.
(as minhas mãos resvalando sobre a sua barriga)
- Ah... é bom mesmo, bem gostosa a manhã!
(meu pau endurecendo dentro da sunga)
- Sim... bom te ver, Cara!
(uma impossível luta de comando para permanecer mole)
- Ah sim, bom te ver também!
(ele percebeu?!)
Pornô II
É claro que já o tinha visto, e de fato não era o rosto o que referenciava o reconhecimento, mas sim os mamilos: pontudos e rosados, sem apresentar qualquer distinção entre bico, auréola e a pele do peito, confundidos como depois de uma boa chupada. Imaginei então como fazê-lo distinto: o bico enrijecido; contornando-o, a auréola espocada em poros, delimitando o mamilo do resto. Coloquei-me a chupá-lo, alternando entre movimentos rápidos e lentos; mordidas pinçando o bico impondo-lhe uma posição, a de ficar ali, protuberante como um montículo, um pequeníssimo vulcão em pré-gozo. Consonante aos gemidos desprendidos gradativamente exaltados ao orgasmo, o outro mamilo espelhava-se num prazer simétrico, ao máximo da forma: porque em gozo, tudo se apresenta perfeitamente distinto, até que se consuma e esmoreça disforme.
(as minhas mãos resvalando sobre a sua barriga)
- Ah... é bom mesmo, bem gostosa a manhã!
(meu pau endurecendo dentro da sunga)
- Sim... bom te ver, Cara!
(uma impossível luta de comando para permanecer mole)
- Ah sim, bom te ver também!
(ele percebeu?!)
Pornô II
É claro que já o tinha visto, e de fato não era o rosto o que referenciava o reconhecimento, mas sim os mamilos: pontudos e rosados, sem apresentar qualquer distinção entre bico, auréola e a pele do peito, confundidos como depois de uma boa chupada. Imaginei então como fazê-lo distinto: o bico enrijecido; contornando-o, a auréola espocada em poros, delimitando o mamilo do resto. Coloquei-me a chupá-lo, alternando entre movimentos rápidos e lentos; mordidas pinçando o bico impondo-lhe uma posição, a de ficar ali, protuberante como um montículo, um pequeníssimo vulcão em pré-gozo. Consonante aos gemidos desprendidos gradativamente exaltados ao orgasmo, o outro mamilo espelhava-se num prazer simétrico, ao máximo da forma: porque em gozo, tudo se apresenta perfeitamente distinto, até que se consuma e esmoreça disforme.
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
domingo, 21 de setembro de 2014
o não amor
Lamentavelmente, não posso dar meu amor às moscas ou a outros insetos infestantes:
Às pulgas, aos percevejos e mosquitos
Eu não os posso amar.
Há neste tipo de amor
o comichão, a irritação, o zumbido
ziiiiiiiiii iiii ziii
o contágio.
O contágio que eu não desejo.
O contágio que me impregna do insuportável,
da doença, da loucura, da insônia.
O contágio de palavras na boca sobressalto:
- Você está contaminado!
Corro entre as vielas cerebrais
entre muralhas tornadas cada vez mais altas
ao grito do não
-não, eu não estou contaminado!
Para estar contaminado
eu teria que amar in-decoro
e ser como você,
como os que não são de Deus.
Às pulgas, aos percevejos e mosquitos
Eu não os posso amar.
Há neste tipo de amor
o comichão, a irritação, o zumbido
ziiiiiiiiii iiii ziii
o contágio.
O contágio que eu não desejo.
O contágio que me impregna do insuportável,
da doença, da loucura, da insônia.
O contágio de palavras na boca sobressalto:
- Você está contaminado!
Corro entre as vielas cerebrais
entre muralhas tornadas cada vez mais altas
ao grito do não
-não, eu não estou contaminado!
Para estar contaminado
eu teria que amar in-decoro
e ser como você,
como os que não são de Deus.
-não, eu não estou contaminado!
Para estar contaminado,
eu teria que me envolver
e eu nunca me envolvi.
II
Lamentavelmente, não posso dar meu amor às moscas ou a outros insetos infestantes:
às pulgas, aos percevejos e mosquitos
eu não os posso amar mais.
Apesar de
já os ter amado,
até me deitado e gozado à revelia;
aberto chagas com as unhas,
pinçado a broca branca do pepino
e comido o aproveitável.
III
Lamentavelmente não posso dar meu amor às moscas ou a outros insetos infestantes.
Há neste de tipo de amor
uma frieza dos diabos,
ou própria a dos médicos,
instrumentistas e acadêmicos intelectuais:
uma frieza de olhar sociológico e profilático,
nunca o de contágio.
IV
Lamentavelmente, não posso dar meu amor às moscas ou a outros insetos infestantes.
Lamentavelmente também, não posso dar meu amor ao ambiente limpo e sadio,
pois há, nisto tudo que implica amor,
um doar-se, um contagiar-se, um envolver-se
que eu nunca tive.
Para estar contaminado,
eu teria que me envolver
e eu nunca me envolvi.
II
Lamentavelmente, não posso dar meu amor às moscas ou a outros insetos infestantes:
às pulgas, aos percevejos e mosquitos
eu não os posso amar mais.
Apesar de
já os ter amado,
até me deitado e gozado à revelia;
aberto chagas com as unhas,
pinçado a broca branca do pepino
e comido o aproveitável.
III
Lamentavelmente não posso dar meu amor às moscas ou a outros insetos infestantes.
Há neste de tipo de amor
uma frieza dos diabos,
ou própria a dos médicos,
instrumentistas e acadêmicos intelectuais:
uma frieza de olhar sociológico e profilático,
nunca o de contágio.
IV
Lamentavelmente, não posso dar meu amor às moscas ou a outros insetos infestantes.
Lamentavelmente também, não posso dar meu amor ao ambiente limpo e sadio,
pois há, nisto tudo que implica amor,
um doar-se, um contagiar-se, um envolver-se
que eu nunca tive.
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