Meu pai sonhou que me batia com murros de homem possuído de raiva. Disse que queria me dar uma lição, me fazer homem, me por de cara a cara com o mundo. Oh pai, por que tanto amor? Por que não me ensinas de outra forma, de forma menos agressiva? Será que sou tão burro e grosseiro com as coisas do mundo? Será que sou tão orgulhoso? Estar sozinho é tão bom, mas ser livre fere o corpo de orgulho. Escrevi outro dia isso e achei tão belo e honesto comigo mesmo. Parece finalmente que estou vivendo com honestidade, e todos os meus pensamentos estão voltados para a verdade e generosidade. Dou pão d’água, dou copos d’água, dou água, dou veios e rios, dou cascatas e gotículas, sou vertente para todos os homens e animais. Passo a mão em cachorro perdido sem medo da sua bocarra e me sinto homem sem medo das coisas do mundo. Então, por que me bateres tão forte assim, se me dá exemplo sendo homem? Homem de verdade, encarquilhado de vida e força? Homem que nos dá de comer todos os dias, e mal ou bem, me alimenta de amor. Então somos uma família como qualquer outra, construindo e desfazendo nossos laços cotidianamente porque precisamos partir constantemente para ganhar a vida, para sermos nós mesmos, para sermos diferentes de tudo, para sermos puro amor e carência alcoólica. Quero abraços e beijos, e quero um corpo do meu lado, quero a minha irmã deitada sobre mim delgada de sentimento puro, chamando-me de mano, dizendo que só quer ficar comigo pelo resto do dia, cheios de preguiça e ternura. Então, ela me pisa as costas doloridamente alegando que é massagem. Sim, é massagem, é massagem de pés, de pezinhos infantis; são pezinhos me tirando os nós e as mágoas pela manhã. Melhor que café na cama, são os pezinhos da minha irmã. Que coisa angelical, que coisa abençoada, que coisa de Deus. Minha tia sempre fala para minha mãe: tens filhos abençoados. A mãe brilha os olhos, e isto nos acalenta de tal forma, que impossível é não responder, sim tia, temos a melhor mãe do mundo, que nos quer bem, e que bem ou mal, prepara a comida, e nos abastece de amor. Ah, como é bom ter uma família de verdade! E só um grande AHHHHH pode explicar o que sinto e o que tenho. Só um grande AHHHHH pode anular nossos vícios e nossas maldades que nem são tão más assim, mas que poderiam deixar de existir em prol do amor, do nosso amor familiar. Ahhhh, mais um ah e mais uma digressão para este texto de páscoa que quero ler pra toda a família no próximo domingo. E dizer que amo a vó, o vô, os tios, as crianças e todos os que me cercam e nos fazem bem. Tomar café com vocês, rir das coisas engraçadas e tristes, ficar horrorizado com as faltas que marcamos quando deixamos de beijar, de abraçar, de nos comunicar. Certamente, sem vocês, eu não seria eu e ninguém poderia sonhar com viagens, muito menos batizar ou casar de vestido branco e comer bolo de noiva. Bolo de noiva, bolo de aniversário, bolo de vida, ovo de páscoa. E a única coisa que tenho para dizer, é que partilhar minha vida com vocês é tudo, e que quero amá-los todos os dias. E que todos os dias antes de se levantarem, lembrem que não é preciso ter medo de viver, fazer escolhas, e principalmente, não tenham medo de amar.