quinta-feira, 21 de março de 2013

Mas ser livre fere o corpo de orgulho


A claridade é insuportável aos meus olhos. Lusco-fusco. Estrelas desorbitadas. Rastro cósmico de verdades que não aceito. Estar sozinho é tão bom, mas ser livre fere o corpo de orgulho. Surgem marcas excêntricas de velhice, feridas de desconsolo. As roupas mudam, o bigode cresce e se implora por Deus pela a restituição da juventude. Mas eu quero ser velho, meu Deus! Tão velho quanto meu avô. Participar de excursões, conhecer o planeta de cabo a rabo, fumar cachimbos fedorentos, e beijar as crianças generosamente com a barba lhes espinhando a face. Ah, como o tempo futuro pode ser tão bom! É como uma dádiva isto, conseguir frescor nos dias cinza mais que nos ensolarados, porque sentir frescor em dias de luz é muito mais fácil e por isso às vezes não conta. Questão de maturidade. Certo dia, li uma reportagem sobre uma mulher com câncer em tratamento: senhor, como uma doença pode ferir tanto a vaidade de alguém? E como alguém restabelece sua beleza estando tão próximo da morte? É para se agarrar a vida ou para morrer menos feio? Quantas estultices eu levanto nestas perguntas, se sei a resposta. Deveriam me punir por enfiar os dedos em feridas estranhas. Grande metido que sou? Claro que não! É só a vontade de ser melhor a cada dia, e ficar velho cheio de sabedoria e amor.

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