Até estava falando de amor,
mas não me senti a vontade;
aí falei da roupa, da cadeira, do ambiente...
domingo, 3 de julho de 2011
sábado, 2 de julho de 2011
ego
Interesso-me muito pelo o que os outros dizem,
e pelo o que não dizem, mais ainda.
São sempre uns intrometidos:
Falam do meu bigode que precisa ser raspado
(raspo quando quiser voltar à civilização)
do cabelo fora de ordem
(penteio se houver necessidade)
Das unhas incrustadas em sujeira
(limpo-as antes de cortar os legumes)
E me julgam por tudo
porque me querem melhor do que eu mesmo me quero.
O último me chamou de frio.
Imagine:
eu frio?
Só porque não sei amar de forma arbitrária,
ou me queira deitado com qualquer um,
que isto vá corroborar a idéia.
II
Interesso-me muito pelo o que os outros dizem,
principalmente os amigos.
Ah! Os amigos sempre nos encorajando
com suas próprias ânsias:
“vamos, não tem nada a perder!”
ou
“vamos logo, se dê uma chance”
ou
“daqui a pouco a sua irmã casa, seus pais morrem, e eu, seu amigo,
parto e você fica aí pra titio”.
.
.
.
Mas o que seria de nós sem os bons amigos
e suas baboseiras de motivação?
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Deixe-me aqui onde nada soa triste ou alegre
Hoje que eu não quero ser nada
Não quero ser arquiteto nem amigo
Muito menos pensar o próximo verso.
Não quero ser arquiteto nem amigo
Muito menos pensar o próximo verso.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Saturno
Não que me falte matizes
mas prefiro que minha vida
se construa em preto e branco;
há um quê de elegância conferida
por este minimalismo.
Cor nos engana, tecnicoloriza-nos,
mente-nos um mundo mágico
palco de lata-palha-Dorothy-coração,
caminho dos tijolos amarelos e
sapatinhos feéricos.
Só numa plúmbea escala é que existimos,
revestidos de um película tênue
que destaca a transparência das taças
herdadas como o sêmen-óvulo branco que
me fez como sou
mas prefiro que minha vida
se construa em preto e branco;
há um quê de elegância conferida
por este minimalismo.
Cor nos engana, tecnicoloriza-nos,
mente-nos um mundo mágico
palco de lata-palha-Dorothy-coração,
caminho dos tijolos amarelos e
sapatinhos feéricos.
Só numa plúmbea escala é que existimos,
revestidos de um película tênue
que destaca a transparência das taças
herdadas como o sêmen-óvulo branco que
me fez como sou
homem saturnizado pelos anéis de Cronos
paralisado no tempo de um
clique.
paralisado no tempo de um
clique.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Sobre o novo layout: sequência
Seqüência
Encontram-se num beijo.
Depois se afastam.
Ficam sozinhos.
Reencontram-se.
Re-beijam-se.
Ele se despede dEla.
Ela encontra Outro.
Outro a beija no rosto.
nEla fica um pouco do beijo do Outro.
Despedem-se.
Ele e Ela se reencontram.
Ela o beija com gosto do Outro.
Ela não suporta.
Ela abandona Ele.
nEle fica o gosto dEla.
nEla o gosto dEle e do Outro.
No Outro não ficou gosto dEla.
Depois se afastam.
Ficam sozinhos.
Reencontram-se.
Re-beijam-se.
Ele se despede dEla.
Ela encontra Outro.
Outro a beija no rosto.
nEla fica um pouco do beijo do Outro.
Despedem-se.
Ele e Ela se reencontram.
Ela o beija com gosto do Outro.
Ela não suporta.
Ela abandona Ele.
nEle fica o gosto dEla.
nEla o gosto dEle e do Outro.
No Outro não ficou gosto dEla.
terça-feira, 26 de abril de 2011
Sinestesia
É preciso que o poema estale na boca e no palato exploda
que nos olhos evapore e derrame
ascendendo aos ouvidos
e encharcando o corpo.
que nos olhos evapore e derrame
ascendendo aos ouvidos
e encharcando o corpo.
quinta-feira, 31 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
Pergunta para Adélia Prado
Se repetires singelo, singelo, singelo
E eu: sois belo, belo, belo
é possível que na aflição da palavra
te tornes bela e eu singelo?
E eu: sois belo, belo, belo
é possível que na aflição da palavra
te tornes bela e eu singelo?
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Capítulo 5 - Marta
Amigos leitores,
Ando meio ausente em relação a postagem de novos poemas e desenhos, mas é que tenho me dedicado a escrever Marta, o que não é uma tarefa fácil, apesar de ter o enredo todo formado e as características que a tornam um personagem vivo. Então publico um capítulo do livro como aperitivo.
Abraços,
Rafa
Capítulo 5
Depois que se formou, manteve-se o mais distante possível dos seus relacionamentos. Casualmente um ou outro amigo de faculdade a convidava para sair, mas sempre se desculpava com os ensaios da orquestra. Novos contatos se não fossem profissionais não os queria. Acreditava ser intransponível, intelectual e elitizada para ser como os demais.
Quando se sente só, cozinha para si mesma ao som de Ravel, toma um pouco de vodka e até se permite erguer os braços e balançá-los tremulamente, pois mesmo bêbada jura que há milhões de olhos a julgando. Felizmente, vodka a faz dormir. Quando se sente muito só, vai às compras e sorri quando a vendedora lhe recepciona surpresa: nossa Marta, quanto tempo que você não aparece? Ela responde como se é de esperar em relacionamentos comerciais: ando muito ocupada com o trabalho, mal tenho tempo para comer, quem dirá me vestir. No fim, sai da loja com vestidos e sapatos para usar nas noites de apresentação e sente certa epifania de realização. Mas quando se sente muitíssimo só e as duas opções anteriores não lhe satisfazem, Marta fuma e chora sobre o seu mundo metódico intumescendo-o de matéria orgânica e transgressão.
Os pés para fora, pernas, tronco, cabeça, cotovelo, braço-antebraço. As mãos explicitam-se por último: Marta ultrapassa seus limites com o toque, porque lhe cobra a proximidade de outro corpo. O toque seu maior receio, era também sua necessidade imediata. Marta enfiaria suas mãos no mundo.
domingo, 6 de fevereiro de 2011
sem nome
Quando as nuvens põem-se a guerrear
e a luz da lua faz descer seus guerreiros sobre cavalos abstratos
para trotear pelas ruas da cidade,
num estertor poético de cascos
convocando
as 55 mil bocas desta cidade
para comer da minha poesia,
é que me ponho doido atrás de embelezamento e ordem
cavouco com faca a gramínea resistente
tinjo de cal os paralelepípedos
junta tuas mãos em concha,
a minha poesia é tua oferenda.
e a luz da lua faz descer seus guerreiros sobre cavalos abstratos
para trotear pelas ruas da cidade,
num estertor poético de cascos
convocando
as 55 mil bocas desta cidade
para comer da minha poesia,
é que me ponho doido atrás de embelezamento e ordem
cavouco com faca a gramínea resistente
tinjo de cal os paralelepípedos
podo o topo das árvores
troco as lâmpadas dos postes
e nem que me custe à exaustão
ou a própria morte
vou de porta em porta
deixar uma rosa atada
com meu festejo-prece:
troco as lâmpadas dos postes
e nem que me custe à exaustão
ou a própria morte
vou de porta em porta
deixar uma rosa atada
com meu festejo-prece:
junta tuas mãos em concha,
a minha poesia é tua oferenda.
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