Amigos leitores,
Ando meio ausente em relação a postagem de novos poemas e desenhos, mas é que tenho me dedicado a escrever Marta, o que não é uma tarefa fácil, apesar de ter o enredo todo formado e as características que a tornam um personagem vivo. Então publico um capítulo do livro como aperitivo.
Abraços,
Rafa
Capítulo 5
Depois que se formou, manteve-se o mais distante possível dos seus relacionamentos. Casualmente um ou outro amigo de faculdade a convidava para sair, mas sempre se desculpava com os ensaios da orquestra. Novos contatos se não fossem profissionais não os queria. Acreditava ser intransponível, intelectual e elitizada para ser como os demais.
Quando se sente só, cozinha para si mesma ao som de Ravel, toma um pouco de vodka e até se permite erguer os braços e balançá-los tremulamente, pois mesmo bêbada jura que há milhões de olhos a julgando. Felizmente, vodka a faz dormir. Quando se sente muito só, vai às compras e sorri quando a vendedora lhe recepciona surpresa: nossa Marta, quanto tempo que você não aparece? Ela responde como se é de esperar em relacionamentos comerciais: ando muito ocupada com o trabalho, mal tenho tempo para comer, quem dirá me vestir. No fim, sai da loja com vestidos e sapatos para usar nas noites de apresentação e sente certa epifania de realização. Mas quando se sente muitíssimo só e as duas opções anteriores não lhe satisfazem, Marta fuma e chora sobre o seu mundo metódico intumescendo-o de matéria orgânica e transgressão.
Os pés para fora, pernas, tronco, cabeça, cotovelo, braço-antebraço. As mãos explicitam-se por último: Marta ultrapassa seus limites com o toque, porque lhe cobra a proximidade de outro corpo. O toque seu maior receio, era também sua necessidade imediata. Marta enfiaria suas mãos no mundo.