Pequenos besouros negros
Pequenos besouros negros repousam
onipotentes e divinizados
como duas opalas exoesquelética:
o meu pecado foi tê-los partido com machado,
porque quando partidos,
desmancham-se em geléia.
*
Copiei milhões de faces
até que me fosse dado
o direito de ser;
era pai, era filho, era avô;
era aquilo que por decência
deveria ser antes de envelhecer
ou até que por fim, àqueles, os juízes da minha vida,
morressem
e quando morrem
são como pequenos besouros negros:
puntiformes, reclusos
como sempre foram.
Rasguei milhões de contratos
e aí me concedi
o direito de ser:
não me incumbi de papéis
não quis ser forte, fraco, nem homem, nem mulher ;
não me interessava por noticiários;
deixei que o corpo fosse o relógio
dos meus dias.
Perguntassem-me se há felicidade em ser apenas,
responderia que não.
Existe apenas uma rigidez nos músculos do pescoço
que sustenta sua cabeça pela tensão da estrutura;
uma amargura latente que lhe rói pertinaz
e não há alopático que resolva
por muito tempo.
No fim seremos como eles:
pequenos besouros negros.
esse poema é um zumbido daqueles...
ResponderExcluirsalve, salve!
bonito e triste.
ResponderExcluirquem me dera poder rasgar contratos e, antagonicamente, ganhar, ao invés de perder direitos... o mundo seria uma maravilha, ainda que não findasse a rigidez nos músculos do pescoço que sustenta a cabeça pela TENSÃO da estrutura...
ResponderExcluirsobrevivemos! ^^