domingo, 6 de fevereiro de 2011

sem nome

Quando as nuvens põem-se a guerrear
e a luz da lua faz descer seus guerreiros sobre cavalos abstratos
para trotear pelas ruas da cidade,
num estertor poético de cascos
convocando
as 55 mil bocas desta cidade
para comer da minha poesia,
é que me ponho doido atrás de embelezamento e ordem

cavouco com faca a gramínea resistente

tinjo de cal os paralelepípedos

podo o topo das árvores

troco as lâmpadas dos postes

e nem que me custe à exaustão
ou a própria morte
vou de porta em porta
deixar uma rosa atada
com meu festejo-prece: 

junta tuas mãos em concha,
a minha poesia é tua oferenda.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Prévio
Tenho um propósito
que vou lhe esconder
até que esqueça que eu realmente tenho um propósito;
porque simpatiza seus sonhos nos meus e faz errado:
corroboro mentiras para ser feliz.

Mas se insistisse em pedir uma direção,
não mudaria a decisão
de lhe empurrar para frente, para baixo.
Solto sua mão;
Permito que se con-suma
porque simpatiza seus abismos nos meus e faz certo:
desconstruo mentiras e deixo partir.

sábado, 22 de janeiro de 2011

domingo, 9 de janeiro de 2011

Pequenos besouros negros

Pequenos besouros negros repousam
onipotentes e divinizados
como duas opalas exoesquelética:
o meu pecado foi tê-los partido com machado,
porque quando partidos,
desmancham-se em geléia.

*
Copiei milhões de faces
até que me fosse dado
o direito de ser;
era pai, era filho, era avô;                                                              
era aquilo que por decência
deveria ser antes de envelhecer
ou até que por fim, àqueles,  os juízes da minha vida,
morressem
e quando morrem
são como pequenos besouros negros:
puntiformes, reclusos
como sempre foram.

Rasguei milhões de contratos
e aí me concedi
o direito de ser:
não me incumbi de papéis
não quis ser forte, fraco, nem homem, nem mulher ;
não me interessava por noticiários;
deixei que o corpo fosse o relógio
dos meus dias.

Perguntassem-me se há felicidade em ser apenas,
responderia que não.
Existe apenas uma rigidez nos músculos do pescoço
que sustenta sua cabeça pela tensão da estrutura;
uma amargura latente que lhe rói pertinaz
e não há alopático que resolva
por muito tempo.

No fim seremos como eles:
pequenos besouros negros.