Subjeções
Parei abismado:
era a última vez que me veria com
18 anos.
Será que é agora que começo a desenhar no escuro?
ou, definitivamente esqueço toda essa metalinguagem
em têmpera e parto para o salto?
Que salto?
São numerosas as possibilidades de combinações,
de transistores, fios e cabos de fibra óptica...
Onde estava mesmo?
Será que falar de tecnologia é se tornar um pouco velho?
Sinto, e sentir é fato.
Fato é uma cela do envelhecimento
– é o vaticínio da bruxa.
Parei abismado:
era a última vez que me veria com
18 anos.
Será que é agora que começo a desenhar no escuro?
ou, definitivamente esqueço toda essa metalinguagem
em têmpera e parto para o salto?
Que salto?
São numerosas as possibilidades de combinações,
de transistores, fios e cabos de fibra óptica...
Onde estava mesmo?
Será que falar de tecnologia é se tornar um pouco velho?
Sinto, e sentir é fato.
Fato é uma cela do envelhecimento
– é o vaticínio da bruxa.
Vaticinações.
1. Queimei-me as pontas dos dedos.
2. Há em mim um desejo libertador de me prender,
de me aceder como se faz a um cigarro
e de ser fumado pelo mais débil cafajeste.
3. Cigarros me excitam.
4. Incenso é fumaça.
5. A contraposição.
6. A dúvida.
7. A simplificação.
8. As inúmeras possibilidades de combinações.
9. Na numerologia, o mais extenso número se converge,
pela soma ou subtração, na primeira dezena.
0. O eterno retorno.
Subjeções
Carrego isto com minhas alegorias
de que nada dizem.
È um carnaval antecipado.
Abre-alas de um tema possivelmente já contado.
(oh, às vezes me detesto!)
Mas, quando parei de frente ao espelho
e me vendo pela última vez assim
reparando as feições,
as expressões de um rosto incompleto de barba nas maçãs do rosto;
do ralo azulado de bigode...
tive um choque, um vaticínio:
(oh, às vezes a bruxa em mim me detesta!)
o aqui-e-agora transfigurava-se no que já havia sido
e ao mesmo tempo preconizava um depois que agora já era imediato, pois
que o muito além não existe.
(oh, às vezes eu detesto a bruxa que está em mim!)
Desculpem-me os que prezam pela jovialidade mental
mas acredito na construção do tempo,
de como o tic antecede o tac
seguindo um ao outro numa sucessão perpétua,
e nisto avisto o compromisso de ter de me tornar velho,
um pouco encarquilhado para a direita
com a pele quebradiça e as bolsas dos olhos
caiadas e volumosas.
oh, às vezes a Bruxa me controla!
Vaticinações
Se me fosse pedido que me apresentasse,
trajaria meus trapos e subiria numa vassoura
para flutuar ao lado da sua janela lhe narrando
o meu conchavo com o Demônio;
do pacto firmado ainda jovem.
(oh, às vezes eu detesto ser a Bruxa dele!)
Às vezes eu detesto ter que ser sua médium,
de ter que lhe transcrever em versos...
Agora mesmo, em sua prepotência,
me sorri disfarçadamente, pois sentiu estar no ápice do poema
quando construiu imagens que tiquetaqueiam
sobre olhos volumosos enquanto sua pele quebradiça
lhe avisa que está ficando velho.
Não,
Eu é quem decido qual é o ápice do poema
e isto termina aqui:
se cerro as cortinas,
é porque não há mais nada a ser apresentado.
Epigrama nº4
Pós subjeções e vaticinações
Não recordo exatamente do meu passado,
ele é inexistente.
E tudo que sei é que nunca
fui senão isso que meu espelho mostra.
Tal qual um vilão
utilizando o tempo como maquiador que
põe finas camadas de mágoas homeopáticas
e ao se mirar, o seu reflexo é um estranho
e você nunca mais será o mesmo.