Não lembro ter falado muitas coisas, lembro-me apenas de ter levantado da cama, ido até a estante, pegado o CD do Bruce Springsteen e posto para tocar.
Eu:
- Ouvia tanto quando era mais novo!
Ele:
(...)
Via-me perscrutando meu passado com a mesma vivacidade que podia imaginar um avião destroçando-se sobre o mar sem me aterrorizar. Pelo contrário, mantinha-me atento a cada instante, afoito pelo o que precederia: redescobri uma parte de mim, senão o todo de mim, e que era momento de reavê-lo.
A redescoberta é uma das coisas mais catárticas que pode ocorrer àquele que, angustiado, pensava sua existência aniquilada pela falta de alternativas.
Redescobrir é como ter passado por anos de inanição, e agora sentir-se faminto novamente. Redescobrir é como ter estado enfermo, e do nada reaver-se são como uma criança que ainda não entende nada sobre hipocondria.
Citando Ana Karenina:
- Desgraçada, eu? – exclamou Ana, aproximando-se dele, fitando-o com um sorriso de amor e exaltação. – Sinto-me como uma esfomeada a quem deram de comer. Talvez tenha frio, talvez esteja esfarrapada e sinta vergonha, mas desgraçada, não. Desgraçada, eu? Não, esta é a minha felicidade.
Gosto muito, aliás, mesmo.
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