Despertei novamente com o ruído de uma maçã sendo mordida.
Agora já não me é mais novidade estes seus pequenos ruídos que ocupam o
apartamento pela manhã. É como o tráfego de carros, a sirene da polícia, o
choro intolerável da criança do vizinho, o salto alto da moradora do andar de
cima.
Incrível que agora me incomode com estas coisas tão pequenas
e comuns. Eu que a princípio maravilhei-me de dividir minha intimidade contigo;
de sentir-me seguro sabendo que os espaços estavam sendo preenchidos com suas
roupas, sapatos e outras coisas de homem.
Até a coisa mais ridícula...
(como direi isso sem ruborizar?)
Até a coisa mais ridícula, como lavar as minhas cuecas com
as suas, e depois vará-las aos pares, (tamanho P e M), causava-me uma alegria
tão distinta que só os casados entendem. Mas do nada não era mais distinto, era
cotidiano, e dividir as escovas tornou-se intolerável. Aí não quis mais ser
feliz, quis a alegria eufórica e confusa. Quis o desejo de nem saber o que
desejava. Quis a deriva de outras línguas, de outros pensamentos na arrebentação
das ondas.
- A arrebentação das ondas nas pedras, é a coisa mais
linda de se ver!
-Sim, não há nada parecido!
-Nem nosso amor é tão belo quanto a arrebentação das
ondas.
-Bobagem!
Foi quando ele arrumou suas coisas e não voltou mais.
Eu só sei te dizer que você anda a me roubar suspiros...
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