Serei sincero contigo agora: dizendo coisas desagradáveis, muito agradáveis, ou nada.
Vou me expor não me desnudando, mas me enchendo de adereços, presilhas e hábitos fúteis, para ser a imagem apreensível como a de uma escova de dente.
Aí você grita do banheiro:
- Amor, pega a minha escova, coloca uma gota de pasta de dente e me entrega aqui no box, senão vou molhar o chão!
Assim o fiz e te entreguei. Você disse:
-Gosto tanto de escovar os dentes debaixo do chuveiro!
Aí você grita do banheiro:
- Amor, pega a minha escova, coloca uma gota de pasta de dente e me entrega aqui no box, senão vou molhar o chão!
Assim o fiz e te entreguei. Você disse:
-Gosto tanto de escovar os dentes debaixo do chuveiro!
E pareceu que aquilo te resumia. E eu te entendia, e entendia o nosso amor como se entende a água, cheia de não características para ser boa. Desde então, quando estava longe de ti, dizia aos meus amigos: ele gosta de escovar os dentes no box! Todos riam, enquanto só eu sabia do que se tratava.
Um dia me antecipei e preparei seu banho: perfumei a toalha, coloquei dobrada no toalheiro do banheiro; passei pasta de dente na sua escova, e a deixei no apoio ao lado do sabonete. Você foi tomar banho, e esperei o momento em que me chamaria pra te entregar a escova. Você não chamou. Ao sair do banho, o beijei, constatei que não havia escovado os dentes.
-Por que não escovou os dentes?
-Vou escovar agora.
-Por que não escovou no box?
-Porque não escovo mais no box, gasta muita luz!
-Ah...
A partir disso, já não entendia mais. Nas conversas com meus amigos disse: ele não escova mais os dentes no chuveiro... acho que ele não gosta mais de mim... ele anda tão mudado. E os amigos com seus conselhos que vem da pressão exercida pelas bolas dos seus sacos exclamam: para de viajar, ele te ama!
Nada é previsível, nem a rotina, nem o cotidiano!
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