Poemas Curtos (Completo)

No ato de normalizar as coisas
perdi o senso de justiça.
Não que me fosse preciso
julgá-las impróprias,
mas sim, a falta de sentir na fala
a resoluta ardência de quem
diz que isto é Isto.

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Vi deitar do céu, silenciosamente,
e logo se estender sobre o chão,
as nuvens que pairaram sobre o dia.

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Intercalo i s t o de puro silêncio
enquanto for noite
e o indistinguível branco
perdurar em descanso
sobre a paisagem.
Eu, menino, pisei descalço o branco noturno...

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Eu, menino, pisei descalço o branco noturno
e tolhido de dizer que sentia frio,
emudeci...

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Desconsidero a vida naquilo que não grita,
porque cumula a morte sobre a língua
ou engole e lhe envolve
de maior silêncio.
Como uma porta que não range
é perdida de sentido,
a que range
é teoria cinéfila de horror.

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Depois de tanto silêncio,
é natural que queira do estilhaço
o momento da quebra.

\

Sim,
a resposta será continua
e esgarçada até que se invalide
por decisão própria ou que por ventura
desabe o mundo.
Percorrendo-se o tempo,
o grito muda de tom, ora abafa, ora ufana,
mas o que lhe impinge
é a mesma dor de ontem.

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Espere,
que meu coração é feito de matéria estranha:
nem ardido nem brando no sol da meia-noite;
aquele que se poria, não se pôs ainda:
sol antropofágico de Tarsila:
re-devoro-me
nos pequenos versos.

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Falo isto como se ordenasse à alma
severa obediência a mim
e parece que da próxima vez que abrir a boca,
estarei no alto, nas asas de algum abutre
e como as nuvens, me deitarei em chamas
resoluto no meu direito de arder.