segunda-feira, 11 de abril de 2022

o oco cheio de vazio

é que não posso ser

porque não me pertenço

não sou de mim mesmo:

nem o corpo ou a fala

nem o membro, nem a língua

 

nem o próprio gozo

apreendido pelo isso

que nem sei

 

mas eu estive lá por tanto tempo em busca de ser: uma massa conforme, delimitada e inteligível que olhada se descreve facilmente descomplicada, sintética e amável. Ser amável nos seus limites, deslocado das minhas bordas que nos arremessam a profundidade netuniana do não ser. a verdade é que sempre fui profundo demais, netuniano demais. até na superfície encontro funduras, percursos e distâncias: um aguadeiro sem fim, de encontro de rio, de jorrar fluídos numa solidificação lodosa de sonho, então pesadelo e realidade.

me assumo aqui, no não ser: naquilo que me escapa irrefletido ou na impossibilidade da imagem para o vampiro

e nesse recomeço, porque há tempo,

estarei mistério para mim mesmo!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Tempo de fluorescer

de mim,

tiveram tudo

e nada quiseram.

 

no meu tempo de fluorescer

lançaram pás de cal,

empalideceram cores

 

a carta de páscoa?

riram de mim!

puseram a mesa, louvaram o cristo,

se empanturraram de chocolate

e só. 


Insensíveis!

 

 

quinta-feira, 8 de abril de 2021

 possibilidades poéticas do confinamento

antes de sair de casa,
não esqueça que ontem
foram 4249.
 
Brasil, 08 de abril de 2021.

*4.249 mortes por Covid-19
 

segunda-feira, 23 de março de 2020

Pornô XVIII

pé no chão, coluna quase ereta e ajustada enquanto a fantasia corre solta numa hipocondria cerebral. aprendi essa com o Baudrillard. é quase um descontentamento em pensar numa única coisa com tanta coisa para ser pensada, e pensada rápida e com muito interesse mas desinteressado. Pensamento reconhecido em vício! Em compensação, aceito o floreio da  ideia de que tenho uma vontade incontida de pulverizar a mente em vários assuntos, assuntozinhos desconexos fodidos que evitam que eu siga em mim, centrado como um pequeno buda fazendo o meu rolê. clico! rolo páginas web (várias abas), um dedilhar cibernético entre lazer, prazer e trabalho, muito além do mouse. estou conectado em interesses múltiplos sociais. Sexo. penso em me masturbar sem sequer de fato sentir qualquer interesse em me masturbar naquele momento. até o tesão é pulverizado fortuitamente por um perfil qualquer. enredos longos de foda, de você abrindo a porta como um estranho tirando sua roupa de profissional retórico de encanador a médico, ou vagabundo, (mas fálico e duro), agora só fálico e duro e penetrante numa foto, ou videos de um minuto ou cobertura completa no onlyfans. o que faz você seguir adiante na serendipidade da deep web: mais uma foto, mais um perfil, mais um minuto, de todos os tipos, de todas as formas, de todos os jeitos. quem sabe um compilado de trinta minutos de cumeating e a seguir a puríssima ejaculação precoce de tags. o algorítimo imagético venceu.