sexta-feira, 26 de março de 2010

Estes, os admiráveis

Àqueles que me constrangem
impondo-me outras realidades das quais  me achei forte
o suficiente para enfrentar.
Àqueles que me cavaram buracos e
em seguida me estenderam a mão
em seguida me tiraram o chão
e repetidamente me restituíram uma nova força.
São a estes, os admiráveis,
os vinte e cinco % que busco, ora encontro ora perco.
Estes que lutam por suas verdades a todo custo.
Nestes que me apóio e quando guerreamos
estamos prontos para defender
(nos defender)
esse ponto em comum que nos liga
que perfura quando por algum motivo
pomos tudo isso em dúvida
Vocês são feito da mais pura essência
(não transcenda isso para o divino, deixe na escala humana que é a nossa)
que não poderia descrever a ninguém
porque disso, só intenciono deixar no ar, na mente dos que lêem isso
a certeza que é em vocês que vivo.

Vocês me tiram do eixo e mesmo assim,
atropeladamente
me recomponho.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Poema Brasileiro

"Depois de tantas idas e vindas nessa busca de ectoplasmas - tornei-me quase um caça fantasmas -, este é um poema despreocupado com tudo."
Beijos do Rafa
Poema Brasileiro


Agora não,
deixe pra depois
que o arroz tá no fogo
e ele pede atenção;
o fogo é alto
a água tá secando
logo, logo é o futuro
com fome de mistura de feijão.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

História Poética II - Espaço



No ponto de partida da dúvida
um espaço que no todo
compreende o espaço,
um tablado onde o teatrólogo
põe suas peças diante do fato.

Há uma rua pela qual caminho
todos os dias, faço-me por merecer
de toda essa quietude que as
persianas abaixadas persistem
em obliterar pequenas loucuras.

Tenho comigo que em algum
dos cômodos têm atores exímios
atuando no ponto de partida da dúvida:
Deixo-a? Fujo? Bato-lhe?
Tomo gim ou uísque? Casa comigo?

E ontem, então, pela fresta vi,

um alcoólatra dar rosas a uma mulher;

algumas damas esperando pelo carnaval
na torre mais alta do moinho;

também, inúmeros palhaços franceses
com narizes de rubro galhofa
apossando-se da pequena cidade
num espírito arrombado.

Todos se cruzam, todos transitam
derrubam pastas, atropelam cães,
e ao acaso dançam no mesmo clube,
só ao acaso bebem no mesmo boteco,
só ao acaso cometem pequenas loucuras.
No embalo, o dramaturgo na sua estréia
como senhor do circo, insiste que
seus palhaços dêem suas cabeças às mandíbulas
leoninas, e num gracejo pedante:

- que comece a brincadeira!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A Palavra se fez carne e habitou entre nós



1

A Palavra quando se fez carne
e construiu seu templo abstrato no deserto
falou primeiro ao poeta, o mesmo em si,
em rompante de excentricidade criou o arcano
do verbo.

2


O Poeta quando se fez palavra
e primeiro letrado emocional
tornou-se num sacrílego,
escriturou depois do teti a teti
um amor subversivo
e todos os herdeiros e suas cromossômicas letras
hoje padecem da dor do não amado.



Lábios devotos debruçados sobre a fôrma alfabética,
a Palavra de tão forte
foi ao mundo dos cegos e surdos e leprosos,
escancarou com túmulos, chegando
onde o poeta e seu prelo não ousam proximidade.
Todos, então,
daqui até a travessia da linha do tempo,
aprenderam uma linguagem equivalente
e inexpressiva destituída de sentido.

4

A Palavra quando se fez carne e habitou entre nós,
sabia que de todo não era tão imbuída de importância
e que sua estadia na Terra seria breve
sabia que as dores e alegrias poderiam ser expressas
por lágrimas e sendo assim se fez dispensável.