segunda-feira, 22 de março de 2010

Derrames V



Depois de ti,
perdi o jeito pro sexo
mordidas equívocas
penetrações incômodas

das sobras:
a disritmia do verso

porque antes segurávamos
a beleza do mundo sobre nossos púbis
e amar se descrevia como nuvens de pêlos

estrelas cadentes, abstrações sentidas
que hoje se descartaram.
Por lembrança te culpo
que não fodo como antes,
sendo angústia
ainda te espero com sensações velhas.

terça-feira, 16 de março de 2010

Derrames III



A partir do terceiro passo
já é rotina
a partir da segunda garfada 
o gosto é familiar
e o que acomete esse poema é sua ausência
misto de saudade, carência e colheres de piegas
angústia de instante 
derrame 
e no fim do quarto passo
já é tudo mentira
me contento ou me adapto:
quem ama nunca perde.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Ato de confissão (versão completa e editada)

Ato de confissão (versão completa e editada)

O que choca é a essência
esse contato desmedido provido e primitivo
estado fluído de versos de impacto
dispersados de mim
estado fluído de versos de impacto
imanentes em mim
algo de anima, espírito, ectoplasma.

Ser fluido neste mundo é alerta de perigo
porque dentro o conteúdo transborda
fora, nada contém o conteúdo.
Vendo as vidas se dispersarem por covardia,
as verdades se anulam e se destituem
e o que é singular se abastece de si
vivendo de si mesmo numa breve revolução pessoal.

Depois  disso, Clarice Lispector tem toda razão
o adulto é triste e solitário.


Pós Ato de confissão

Há uma lei na física que nos propõe que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, contraponho-me, isso é só matéria e esvaesço de mim; enquanto presos estivermos, nada se entenderá de essência.

II

O que choca é a essência
fluído manifesto nos meandros da vida
essa malicia de se pôr pra fora descalço
e não ser mais mar
a partir de então,
ser movimento de pura arrebentação

III

Meu jarro excede
transfigurado em matéria
alagando vizinhanças.
Não há quem me toque
sem tocar a vida.

  Vivo em essência.

Depois disso, dou-me toda razão,
é preciso colidir.

sexta-feira, 5 de março de 2010

a idéia do nosso mundo

a idéia do nosso mundo
a idéia do nosso mundo
a idéia do nosso mundo
a idéia do nosso mundo
a idéia do nosso mundo

Este é o tempo das mentes partidas e dos corações arredios.
Das fomes insassiáveis e das sedes extintas;
é que falta água de tanto nos lavarmos.
É o tempo dos amores feridos e da ausência sem fim.
Dispomos de gatilhos,
trepamos, trepamos e continuamos trepando por trepar,
não que isso seja errado, porque também fodo por foder,
mas a manhã seguinte sempre vem impigida de uma carência maior que a anterior;
assim como se acende cigarros,
um após o outro e permanecemos com os pulmões vazios,
somos a idéia concreta da angústia,
esta sensação de ter perdido algo e nunca se saber o por quê.
Continuamos perdendo, vai-se uns parentes e outros tantos milhões de estranhos,
e graças, não precisamos nos condoer, mesmo:

o mundo já nos dói por si só.

Todavia o mundo não tem peso algum,
o que pesam são as pessoas
o que dói são as pessoas.
Criamos teorias, nos apoiamos em Drummond,
, Lindolf Bell e tantos outros,
por um instante a vida fez sentido e somos belos e sujos,
somos a contrapartida da resposta quando ansiávamos o aceite, porque queremos e queremos e já não queremos mais.
Somos temerários quando deveríamos  não nos arriscar,
covardes quando o que mais a vida pede é coragem.
Elegemos novos ídolos,
pois deus já não faz sentido,
criamos Madona, Lady Gaga, Mika, Chico Buarque, Pelés,
e lhes cobramos ritmos absurdos,
suplicamos um milagre quando a única coisa que podem fazer é afirmar nossos medos,
sem mais respostas.
Estamos perdidos no mesmo caminho,
não há nada demais na liberdade,
alcançada, a busca se intensifica.

É questão de tempo até que tudo se perca
de vez.