terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Não sei do futuro e nem do passado, ter conhecimento disso é estar em pleno movimento e o agora é uma ociosidade sem fim.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Uma nova palavra toma meu mundo


Minha voz não é das melhores, mas o que vale é a intenção

Sicromalíaco.
Não sei o que realmente significa,
mas sei,
e isso é como dogma,
que é alguma coisa trespassada de ausência;
um neologismo incompleto que na falta de referência
referencia-se a qualquer coisa,
a qualquer si mesmo,
uma busca inteligível
uma palavra muda que na não expressão
encerra imagens que se vá,
que se vá na fruição do pigmento desprendendo-se da madeira
que se vá como sinal de fax
e que no retorno continue sendo qualquer coisa
que na pronuncia suscite dúvidas, inconstâncias
e um punhado de pó de pólvora no clichê do
rastro de possível explosão.
Que depois se assente
e se recolha no silêncio da pós-possível-explosão
e que não sonhe mais, fazendo-se também cega,
incauta, incognoscível, mas não mais misteriosa.

Epigrama Sicromalíaco

Crio
a tênue capa que cabe melhor
às idéias que nem no sonho encontro.
Trajo-as porque assim ficam mais apresentáveis.
Um palco, uma tenda, um frasco de essência,
A palavra existe por si só
e se manifesta para se livrar da imagem,
porque esta, tem-na sufocado.


Não entenda, apenas
absorva.
Deixe que se esvaeça qualquer
traço, e o que é livre verterá do livro
e quando sentir,
estará mergulhado como Alice
numa poça de tinta.
Nade nela, pois o que é sábio e vivo
você encontrará lá.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Mito do Amor Romântico

Perdoe-me por minha ansiedade;
por essa insegurança que perdura
no gesto em falsete ou na euforia gaga da fala.
Mas é que estou tentando conquistá-lo;
estou tentando me fazer necessário e indispensável na sua vida.
Perdoe-me, não me cansarei de pedir desculpas
mesmo que isso rutile um tanto “ultra-romantismo anacrônico”,
ainda assim, não deixarei que seu tato se recrudesça senão em minhas mãos,
pois, mesmo sem saber,
você já é meu.

Por isso me ame hoje,
ainda que doído,
ainda que estranho
ainda que impróprio,
descubra-me e depois me acoberte,
mas faça isso hoje,
agora,
neste instante, porque as
promessas para o amanhã já se fazem tardias.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Dry, Ansiedade A



A ansiedade amarrou minha boca.
Cortou meus lábios sem sangrá-los.
A ansiedade fumou meu último cigarro
e devorou os restos da minha geladeira,
bebeu do meu Dry Martini e comeu minha azeitona.
A ansiedade fez-me correr de pernas atadas.
Fez-me subir até o último andar do edifício
de vista vertiginosa, para depois me fazer descer.
Fez-me lavar as mãos
obstinadamente.
Fez-me ajoelhar diante de santos e demônios
como se eu acreditasse nessas coisas de imagens
sacras, sacrílegas, acrílicas, argila, Aleijadinho.
A ansiedade fechou minha porta
e enterrou as chaves no cimento fresco,
agora, já seco.
A ansiedade expulsou-me de mim mesmo,
pôs-me desabrigado...
abrigado nesse teto
de azul tempestuoso, que vez ou outra expõe
suas estrelas.


Estou exposto, fraco, deliberadamente mal,
meus joelhos doem, minhas mãos tremem
mais que de costume, e meus pés tropeçam;
Fui, dia desses, a Paris, New York e Bangladesh.
Meus pés tropeçam nas orelhas desse poema.
Também, dia desses, olhei para dentro da janela
e a mesa estava posta, composta, bosta.
Meus lábios tremem querendo romper
com a costura;
minha avó era costureira,
e eu aqui tentando alinhavar lembranças
sem nem ao menos usar dedais.
Estou fraco e minha coluna mantém-se tão rija
quanto uma estátua de mármore perdendo
suas partes para o tempo.


Estou caindo, caindo, cainn...
A ansiedade me empurrou vetorialmente
com direção, sem sentido, compridamente abaixo
num túnel escavado sobre a linha de terra.

Estou caindo, caindo e toca
obsessivamente uma música que conta
sobre fumaça de navios avistados de longe
furos de alfinetes,
uma certa agonia,
um grito putrefazendo-se no ar por vermes,
todavia,
sem mais dores e sofrimentos.

Algumas pedras me acompanham nessa descida.
Pedrinhas como aquelas que aparecem nos filmes
quando o mocinho está prestes a escorregar da beira do abismo,
e vem, obrigatoriamente alguém e lhe puxa pela mão.


Não, eu não sou o mocinho dessa história,
Quem sabe um banal figurante com trajes antigos,
Uma prostituta de milhares de políticos engomados;
Ou, mesmo, um sodomita em filmes para adultos.
talvez um serviçal que marca presença servindo xícaras
de chá para o patrão enquanto este:

-Oh, sim, tratemos disso mais adiante...

sou infelizmente dispensável.

Estou caindo
caindo
caindo