é que não posso ser
porque não me pertenço
não sou de mim mesmo:
nem o corpo ou a fala
nem o membro, nem a língua
nem o próprio gozo
apreendido pelo isso
que nem sei
mas eu estive lá por tanto tempo em busca de ser: uma massa conforme, delimitada e inteligível que olhada se descreve facilmente descomplicada, sintética e amável. Ser amável nos seus limites, deslocado das minhas bordas que nos arremessam a profundidade netuniana do não ser. a verdade é que sempre fui profundo demais, netuniano demais. até na superfície encontro funduras, percursos e distâncias: um aguadeiro sem fim, de encontro de rio, de jorrar fluídos numa solidificação lodosa de sonho, então pesadelo e realidade.
me assumo aqui, no não ser: naquilo que me escapa irrefletido ou na impossibilidade da imagem para o vampiro
e nesse recomeço, porque há tempo,
estarei mistério para mim mesmo!