quarta-feira, 22 de maio de 2013

Uma forma para Otávio

IV

Não que o fato de eu ser mulher me impeça de fazer isso. Abrir compotas também é trabalho de mulher. Mas perto dele, gosto de me sentir frágil, para lhe pedir esses favores bobos. Mas Otávio entende, e gosta disso. Abre a compota de figos, entrega-me o vidro com um beijo me chamando de “minha mulher”. Vivemos em regozijo.

Uma forma para Otávio

III

Ele me liberta. Otávio me liberta porque já é livre. Otávio é o tipo de homem que nunca fora mantido em cativeiro, nem nunca fora vítima dos limites de seu próprio corpo. Otávio usa seu corpo como os livres pensadores o usam, como instrumento de vida. Fortifica os músculos para carregar as minhas sacolas, para trocar os móveis de lugar e fazer da nossa casa um pouco mais agradável a cada dia.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Uma forma para Otávio

II

Otávio nunca é descrente ou tem indecisões, no máximo fica em silêncio com as sobrancelhas espessas caídas, segurando o queixo com a mão direita enquanto escuta extremamente concentrado Rachmaninoff. Nunca entendi sua predileção por Rachmaninoff. Mas que importa, ele também nunca deve ter entendido o porquê dos meus gostos, e isto nunca influenciou no jeito em que me acariciava. Sempre com gestos pertinentes feitos para aflorar sobre a minha pele arrepios e outros desejos de corpo. Então, Otávio me conduz de forma adestrada e prudente por entre suas sobrancelhas, e o escuro dos fios de seus pelos é a matéria cotidiana do nosso amor.