sábado, 4 de maio de 2013

Foda-se tudo isso

Com o coração atordoado dizendo: vá! e logo retrocede: volte que é perigoso! Você pode se danar... Por que ir se é mais fácil voltar? Rever os familiares, beijar os pais e esquecer que as coisas desejam te suprimir como a um grão de ervilha. Estou tão suprimido, tão próximo da loucura que pular dois degraus é como me jogar de um desfiladeiro. Pedras rolando, gritos de socorros inexistentes e a vida correndo por outro lado. Certo ou não, discutirão os filósofos. Não nós, meros humanos. Talvez eu não esteja acostumado a ser humano, esse corpo pretensioso a se manter em pé ante qualquer adversidade da vida. Sou daqueles que se dobram diante a vida, como a um animal morto de fome, sede ou fumo. Quero a fumaça das brumas e todo o mistério que ela contém. Não me basta sorrir para estranhos, quero lhes beijar e senti-los animais como a mim. Quero abraçá-los e dizer que a vida se resume a isso e nada mais. Talvez dormir bem seja o grande remédio de tudo. Eu que morro a cada noite com meus pensamentos na cama, com minhas masturbações de gozos fracos que fazem meu braço direito reclamar: troca de braço, dá trabalho para o esquerdo que eu já não aguento mais teu prazer improfícuo! Ahhhh, quem não aguenta mais sou eu, porra de braço, eu que durante as noites gozo sozinho! Soubesses o quanto é triste não me repreenderias! É como cozinhar para si mesmo, matar sua própria fome, comer como um rei, mas não dar de comer a quem também tem fome! E o mundo inteiro tem tanta fome que mesmo se pudesse alimentá-lo haveria outras fomes que não poderia extingui-las. Depois da fome sólida, vem a fome da arte e da própria vida. Retornaremos ao movimento modernista brasileiro: comer-me-íamos! Antropofágicos e iridescentes os dentes manchados de sangue kandiskyano, discutindo sobre a cor e a forma. Foda-se tudo isso! Pelo menos por enquanto que desejo clareza mental como diria uma amiga. Só quero Deus na ponta do dedão do meu pé. Quero gritar um grande foda-se para o mundo que por enquanto não me diz nada além de: caminha, sangra teus pés como um mártir, que tarde, mas muito tarde, os frutos de teu sacrifício florescerão como pomos de ouro.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Palavra

Se você fosse mais poético, o inaudito seria dito sem recusas. Saberia que sexo não é fazer posição de yoga, que o Kama Sutra está fora de moda e que um papai e mamãe bem feito poder ser muito mais gostoso. Mas estão todos irreversivelmente virados e revirados sem saber em qual posição ficar. E toda e qualquer palavra além é motivo de obscenidade. 

A palavra é a força do convalescente. 
A palavra é meu comprometimento com a honestidade. 
A palavra é a minha barricada revolucionária contra os balbuciadores ineptos e falidos de amor.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

De profundis

Quem está nos meus extremos?

Leminsky ou Adélia?

Quem me encoraja a atravessar oceanos num barco de madeira sabendo que não haverá mais volta?
Tenho que deixar de ser temerário, abandonar as ideias de liberdade e ouvir mais os outros, os de bom coração que acendem velas pela convalescência do espírito adoecido pelos vícios; os de corações religiosos e bentos, que das coisas do mundo entendem tudo sem nunca terem participado dele. Onde estavam os sábios que não estavam comigo? Desconfio que não sou bento, e pronuncio isto sem mais pretensões, pois estive iludido por muito tempo sacralizando o que em mim arde de mais impuro sem pedir ajuda.

Deus,
preciso de ajuda,
mas quero continuar sendo eu!
É possível tal milagre?
É possível que numa madrugada toque o meu espírito e eu seja outra coisa melhor do que agora?