Algo de muito estranho acontecia aos nascituros daquela cidade: quando suas mães davam à luz, seus bebês nasciam sem o braço direito. A população a princípio não se preocupou porque eram casos esparsos, como um boato vindo de longe assumido de “compaixão” e de “Deus me livre”. Foram até visitar a primeira criança sem braço, o filho de Cláudia.
- Cláudia do céu, como foi acontecer isso?
Cláudia lamentava por si mesma e por seu filho, pois em decorrência disso, seu marido tinha os abandonado.
- Deve ser essa sua genética!
Mas passaram-se quatro anos, e a cidadezinha pequena entrou em polvorosa quando viu suas salas de aula repletas de crianças malformadas, e decidiram que poriam fim à situação.
Reuniram-se no centro comunitário; falavam ao mesmo tempo, seus corações inflamados saltavam à boca, e suas mentes não comandavam mais: queriam a morte de Cláudia e de seu filho.
Mataram Cláudia, seu filho, e puseram-se a cruzar novamente. E as crianças sem braços continuavam a nascer. Reuniram-se, os saudáveis, e três dias depois, cientistas, sociólogos e espiritualistas estavam na cidade colhendo amostras, levantando dados, aspergindo bênçãos de cura.
Os cientistas disseram:
- Devem-se castrar crianças e pais antes do pior!
Os sociólogos:
- Fazemos a cruza com estrangeiros antes do pior!
Os espiritualistas:
- Não está mais em nossas mãos!
Assim, dividiram a cidade em dois grupos: o primeiro grupo de casais que nunca tiveram filhos aguardariam os resultados; o segundo grupo de casais que tiveram filhos com o problema seriam subdivididos numa metade castrada e outra posta em cruza com estrangeiros.
Mas nada adiantou, a não ser a castração. Os que cruzaram com estrangeiros tiveram filhos sem o braço esquerdo ao invés do direito. A cidade deu-se por vencida. Alguns se sentindo culpados pelas atrocidades cometidas, substituíram a estátua de prefeito pela a de Cláudia e seu filho de mãos dadas. E todo ano homenageavam-nos com flores no dia em que foram assassinados. Os que não se sentiram culpados fugiram ou foram mortos por manterem seus preconceitos.
Mas dizem até, que alguns se dirigiam à Cláudia pedindo um filho de dois braços. Certo dia ela atendeu, virou uma espécie de santa, causado estranhamento, tinha feito milagre.