Se eu sou espontâneo? Claro
que não. Perdi minha espontaneidade há tempos, e não saberia informar a data
precisa, nem a faixa etária em que me encontrava quando deixei de rir para parecer
educado, ou ri pelo mesmo motivo.
Não há nada de errado com a
educação, ao contrário, acho muito bonito quem se serve dos bons modos
transparecendo espontaneidade. Exatamente quando alguém exclama palavras chulas
sem ser vulgar. Os extremos que tornam as pessoas verdadeiras mesmo quando
condicionadas.
Escrevo sobre espontaneidade,
delicadeza e vulgaridade. Escrevo sobre mim, que sem delicadeza perde a
espontaneidade sendo vulgar. Não há um gesto em mim que não seja ofensivo, que
não seja mentiroso ou dissimulado. Desde o sorriso aos bons modos na mesa, tudo
muito falso, tudo muito inadequado.
- Se eu sou espontâneo?
Claro que sim.
Quando estou drogado.