O poema que eu não quero
E sempre me vem
Quando tu
Meu objeto não está por perto.
O poema carência
De me esfregar em algo
Como um gato
Enrodilhado.
O poema atrevido
E reconfortante
50% com seus pequenos prazeres.
100%
Prazer de verdade
Só o sexo contigo.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Ritual
Disseram-me: tu segues a estrela de um cão. Na hora não entendi muito bem, e não entendo até hoje por qual motivo vincularam-me tal pensamento.
Era noite como dentro das trevas lúdicas do medo. O asfalto reluzia alguma luz que não se sabia de onde, mas por algum instante eu quis saber. As casas estavam com suas luzes apagadas, os postes também, e não passou nenhum carro, ou algum gato de olhos de lanterna.
Continuei a caminhar atemorizado, ou sereno da passagem como estavam os três reis magos? Porque também levava presentes como simbologia de adoração; afinal, era essa a última condição da minha vida: adorar alguma coisa.
Segui pela estrada que se abria, e vi o traseiro de um cão negro balançando a cola seguindo no mesmo passo que eu. Quis agilizar tentando alcançá-lo, e perguntar a ele por que haviam me dado a mesma sorte que a dele? Nós que não tínhamos nada em comum, filhos de outros pais, de espécies diferentes.
Que tínhamos em comum? É mais difícil achar afinidades que diferenças? Perguntei à estrela, mas quem me respondeu foi a cigana abusada que puxou minha mão:
- tu segues o destino de um cão.
Toma este quartzo rosa
e lança no primeiro poço que te aparecer pelo caminho.
Fechei a mão segurando o quartzo, e mantive o passo. Notei que perdera de vista o cão negro que persegui a noite toda sob a luz da estrela, que agora não era mais estrela. Sem o que seguir, senti o desespero honesto dos crentes quando Deus falha com eles; depois a esperança inútil da cura; depois a própria morte.
Toma este quartzo de cristal rosa e lança no primeiro poço que te aparecer pelo caminho, disse a cigana. E na minha cabeça ela ressurgiu novamente: só porque mudou de tarefa, não significa que mudou o teu destino.
Coloquei-me a correr em busca do poço,
eu desejei ver um poço
eu desejei várias vezes que fosse um poço,
mas no fim da rua
o que se abriu sob meus pés foi um penhasco,
o penhasco dantesco,
o inferno dantesco que eu não acreditava.
-Não jogarei a pedra no teu petróleo, quiromante,
pois é aflitivo ver o negro
ferindo o rosa.
É como estar à beira de um vulcão
e nele me lançar
sentindo a lava me dissipar de mim.
-Volta pro teu passado, notívago.
Não, eu não queria o meu passado de volta.
Estendi a mão que segurava o quartzo. Abri de uma só vez para evitar me arrepender. E o que caiu no penhasco, não era mais uma pedra, era o filhote de um cão negro que lentamente rolava no ar, ora com patas pra cima, ora pra baixo...
segues a sorte de um cão negro...
dei um passo para frente rolando no ar,
ora com as patas pra baixo
ora pra cima;
quando pra cima,
era
estrela
reconstituída.
Perfil exibicionista
II
Odeio quando o texto toma outro rumo que não o planejado, parece que a minha própria vida se desviou do propósito inicial.
Comecei a escrever porque senti a necessidade de dizer o que eu sou, as minhas preferências: chocolate amargo, vinho, Etta James, je t’aime moi non plus, enquanto fazemos um papai e mamãe que satisfaz mais do que as mirabolantes posições do yoga. Mas acabei falando de você, só de você.
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