quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Hilda Hilst - SONETOS QUE NÃO SÃO

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Aflição de ser eu e não outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
e à noite se prepara e se advinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha).
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.
-blog em recesso-

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Adélia Prado

Sensorial

Obturação, é da amarela que eu ponho.
Pimenta e cravo,
mastigo à boca nua e me regalo.
Amor, tem que falar meu bem,
me dar caixa de música de presente,
conhecer vários tons para uma palavra só.
Espírito, se for de Deus, eu adoro,
se for de homem, eu testo
com meus seis instrumentos.
Fico gostando ou perdôo.
Procuro sol, porque sou bicho de corpo.
Sombra terei depois, a mais fria.

- blog em recesso -