Fico sensibilizada diante de Otávio, às vezes choro ou solto risos despropositais; parecem grunhidos de algum animal distante na floresta. Como uma gata manhosa, refestelo-me entre suas pernas; ele coloca a mão por debaixo da mesa, acaricia-me a cabeça enquanto continua lendo o jornal. Ele me observa. Depois, troca a água e põe mais ração. Fico saciada, mas perpetuo meu miado. Encho os ouvidos do Otávio com o meu intermitente miado para chamar sua atenção. Ele me cobra: o que foi minha gatinha? Novamente: eu já te dei comida e água! Então: “Suma daqui!”. Saio com meu rabinho entre as pernas. Deito em outro lugar.
sexta-feira, 12 de julho de 2013
quarta-feira, 10 de julho de 2013
(Medo que me ouça e tudo se transforme numa verborragia inútil.).
Boa parte disso deve-se a uma infecção bacteriana na garganta. “Placas enormes, deveria ver...” ou enfiar o dedo para sentir! “Parecem-se com o exército da paz, só que trabalhando para me derrubar...” filhas da puta!
Outra parte é o que ante o lábio cerrado me sabota.
Todo meu pensamento esbarra no teu nome,
que é a minha prece
na minha mente sibilada na devoção
que me compraz.
- A paixão é a que grita
O amor só precisa de silêncio.
Então, os estágios do beijo:
Volto ao
meu lábio cerrado ante o seu entreaberto
teu perscrutado olhar ante o meu buliçoso
a tua aproximação decidida ante a minha espera lânguida
teu nome premente entre as minhas coxas
também é o meu castigo no teu protelar insistente
de só me dar amor em conta-gotas
grito:
- se não por amor, por piedade!
Outra parte é o que ante o lábio cerrado me sabota.
Todo meu pensamento esbarra no teu nome,
que é a minha prece
na minha mente sibilada na devoção
que me compraz.
- A paixão é a que grita
O amor só precisa de silêncio.
Então, os estágios do beijo:
Volto ao
meu lábio cerrado ante o seu entreaberto
teu perscrutado olhar ante o meu buliçoso
a tua aproximação decidida ante a minha espera lânguida
teu nome premente entre as minhas coxas
também é o meu castigo no teu protelar insistente
de só me dar amor em conta-gotas
grito:
- se não por amor, por piedade!
domingo, 30 de junho de 2013
Poema
Escondi-me atrás da prece,
Como atrás de um escudo
Que se empunha diante e contra
A espada reluzente;
Como atrás de uma estante
Que se empurra para dificultar
A entrada do psicopata num filme de
(suspense).
A minha terceira perna brota novamente,
Forte o suficiente para derrubar paredes a pontapés.
Como atrás de um escudo
Que se empunha diante e contra
A espada reluzente;
Como atrás de uma estante
Que se empurra para dificultar
A entrada do psicopata num filme de
(suspense).
A minha terceira perna brota novamente,
Forte o suficiente para derrubar paredes a pontapés.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Uma forma para Otávio
V
Quero falar das mãos de Otávio. As mãos de Otávio são angulosas, de dorso trapezoidal e veias saltadas. Sempre que as move, vejo o pulsar delas e o calor que delas dissipa. Mãos com dedos longos e de pelos adensados sobre cada falange. Sua palma desenha um M perfeito, o que significaria para a cigana um homem de personalidade forte. Seja lá o que for “um homem de personalidade forte”. Interessa-me mesmo o próximo movimento, o próximo objeto que tocará e o que com ele fará. Meus olhos estalam para aumentar a atenção, a ponta da minha língua lança-se para umedecer os lábios desejando ansiosa que o próximo objeto seja meu rosto e todo o resto do meu corpo.
Uma forma para Otávio
IV
Não que o fato de eu ser mulher me impeça de fazer isso. Abrir compotas também é trabalho de mulher. Mas perto dele, gosto de me sentir frágil, para lhe pedir esses favores bobos. Mas Otávio entende, e gosta disso. Abre a compota de figos, entrega-me o vidro com um beijo me chamando de “minha mulher”. Vivemos em regozijo.
Uma forma para Otávio
III
Ele me liberta. Otávio me liberta porque já é livre. Otávio é o tipo de homem que nunca fora mantido em cativeiro, nem nunca fora vítima dos limites de seu próprio corpo. Otávio usa seu corpo como os livres pensadores o usam, como instrumento de vida. Fortifica os músculos para carregar as minhas sacolas, para trocar os móveis de lugar e fazer da nossa casa um pouco mais agradável a cada dia.
segunda-feira, 20 de maio de 2013
Uma forma para Otávio
II
Otávio nunca é descrente ou tem indecisões, no máximo fica em silêncio com as sobrancelhas espessas caídas, segurando o queixo com a mão direita enquanto escuta extremamente concentrado Rachmaninoff. Nunca entendi sua predileção por Rachmaninoff. Mas que importa, ele também nunca deve ter entendido o porquê dos meus gostos, e isto nunca influenciou no jeito em que me acariciava. Sempre com gestos pertinentes feitos para aflorar sobre a minha pele arrepios e outros desejos de corpo. Então, Otávio me conduz de forma adestrada e prudente por entre suas sobrancelhas, e o escuro dos fios de seus pelos é a matéria cotidiana do nosso amor.
Uma forma para Otávio
I
Otávio me fala coisas que realmente não entendo. Parece um ser de outro mundo que veio para a Terra com a capacidade sobre-humana de absorver tudo e simplificar numa única coisa. Deve ser porque é homem e eu sou mulher. Homem sempre consegue ser mais simples que mulher, ou pelo menos melhor que eu. Otávio é daquele tipo que simplifica para extrair as formas mais complexas possíveis, enquanto eu complico terminando por extrair coisas tão simples. Mas o meu simples é diferente do simples de Otávio, o simples de Otávio surge grandioso, enquanto o meu soa ridículo e sem vida. As formas de Otávio são incríveis, e não é porque estou apaixonada por ele que digo isso, mas porque é verdade. As formas de Otávio são belas por essência. Otávio é a minha redescoberta do Homem Vitruviano.
Otávio
Se me faltar amor, chamarei Otávio.
Otávio que sabe de tudo
Porque lê de tudo, bebe de tudo.
Otávio que saberá me falar do amor
de como aprendeu.
domingo, 19 de maio de 2013
vero romântico
Para Edna e Fran
Você mijou na minha boca! Eu estava calado, porque era tudo verdade o que me dizia. Quanta honestidade nesse nosso amor. A vida só existe com honestidade, o resto é ficção. Poder dizer que durante a manhã estava indisposto por causa de uma diarreia, é para poucos que eu digo. Por isso as lágrimas estão soltas pelo rosto, correm livremente pelos sulcos da pele. É tudo água. Veio d’água. Sou feito de água e deve ser por isso que fico tão difícil em dia de lua cheia. A maré sobe e viro pura arrebentação. Não me contenho.
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