segunda-feira, 11 de abril de 2022

o oco cheio de vazio

é que não posso ser

porque não me pertenço

não sou de mim mesmo:

nem o corpo ou a fala

nem o membro, nem a língua

 

nem o próprio gozo

apreendido pelo isso

que nem sei

 

mas eu estive lá por tanto tempo em busca de ser: uma massa conforme, delimitada e inteligível que olhada se descreve facilmente descomplicada, sintética e amável. Ser amável nos seus limites, deslocado das minhas bordas que nos arremessam a profundidade netuniana do não ser. a verdade é que sempre fui profundo demais, netuniano demais. até na superfície encontro funduras, percursos e distâncias: um aguadeiro sem fim, de encontro de rio, de jorrar fluídos numa solidificação lodosa de sonho, então pesadelo e realidade.

me assumo aqui, no não ser: naquilo que me escapa irrefletido ou na impossibilidade da imagem para o vampiro

e nesse recomeço, porque há tempo,

estarei mistério para mim mesmo!