Extremamente a vontade no meu carro.
Cutuco as narinas,
retiro o tatu
e faço bolinha.
Às vezes eu lanço pra fora da janela num peteleco,
outras, eu passo no banco ou boto na boca,
dou uma mordidinha
e sem coragem de engolir
lanço pra fora da janela
e já não é mais problema meu.
(do meu carro eu também sei escarrar)
Fora de mim, eu lavo as minhas mãos;
fora do meu carro,
não sou, não existo, não pertenço!
A cidade em si eu não vejo,
as pessoas tampouco.
As pessoas esperando na faixa de pedestre,
elas existem num plano espiritual muito distante
do qual não faço parte.
(daqui a pouco a gente entra naquele mês de conscientização no trânsito)
"acho que estou numa propaganda do carro que será o carro do ano.
Trajo terno e gravata e a barba rala
como dizem que as mulheres gostam,
e sou branco.
Branco numa cidade tecnológica e desabitada,
mas ainda de fé cristã,
porque em frente da faixa há uma igreja
e insisto em fazer o sinal da cruz"
me benzo!
E sigo abençoado, na velocidade que quero,
pela rua que quero, cruzando, transpassando e penetrando
a via que quero sem os olhos do julgo, repetindo
intermitentemente a minha auto-ajuda
eu posso (dentro do meu carro)
eu sou (dentro do meu carro)
eu existo (dentro do meu carro)
porque tá na cara que o jovem tem seu automóvel, Melodia.
Mas daqui a pouco a gente entra naquele mês de conscientização no trânsito,
(antes fosse só o mês das noivas!)
bota a fitinha amarela e finge ser educado,
o amarelo do patinho de borracha
e que de nada entende de nada
circulando na cidade
confortavelmente em seu carro.
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