sábado, 25 de fevereiro de 2012

Bebericar

Mantive-me débil durante todo o dia. Ora olhando para fora da janela observando as casas, os passantes; ora bebericando qualquer coisa para me manter absorto na leitura, umedecendo o pensamento que, agora lido, segue seu próprio fluxo associando-se às minhas lembranças. 

Quando se permanece débil é que se tem o entendimento do fluxo, e o entendimento é um grande susto como o despertar com a porta sendo batida pelo vento. 

Muitos pensam no entendimento como a abertura sequencial de portas sem sequer levar a mão para girar a maçaneta, enquanto as percorre como Moisés atravessa o Mar Vermelho... o mar agitado sob uma barreira de contenção invisível, pronto para rebentá-la. 

Como disse antes, o entendimento é como despertar com o estrondo de uma porta sendo encerrada em seus limites. O corpo excita-se: as narinas abrem-se para que os pulmões resfoleguem, a adrenalina é liberada no sangue e as pupilas dilatam-se como um obturador ansioso por receber luz. É como renascer mais velho, mas apoiado sob nova ótica; a ótica do invisível, do entendimento fora da compreensão tanto espezinhada dentro dos livros. 

Fora isto, continuo usando a palavra bebericar, porque combina com qualquer coisa que está às mãos, enquanto se precisa de entendimento intelectual.

2 comentários:

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...