quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Vá lá
Vá lá
que a vida é isso aí.
Num dia se leva paulada
noutro,
lava roupa, cozinha,
arruma a casa,
dá um beijo no marido;
e vem os filhos e estão com fome;
e vem o frio anunciando o inverno
as toucas, os cachecóis, os blusões de lã,
meias grossas, pantufas estranhas
são postos no sol para tirar aquele cheiro entranhado de naftalina;
levanta-se cedo, noutro um pouco mais tarde;
há geada sobre as plantas, algumas delas não resistiram.
Às vezes alguém que sofre não é por opção
nem por destino e nesse destino inclua-se genética e afins,
é por outra coisa que ninguém sabe,
é melancolia aguda
e para essas coisas
vá lá, que a vida é isso aí
e não há mistério nisso.
domingo, 29 de agosto de 2010
Esqueça a modernidade:
o contemporâneo é orgânico.
Não é preciso que se forjem chegadas e partidas,
nem que se coloque o homem dentro
de máquinas de aço e se precipite o processo:
das mãos surgirá naturalmente
o ser instintivo, àquele,
que de pré-histórico se resignou.
___________________________________
Poema também publicado no blog de Sylvia Beirute. Sylvia, muito obrigado pelo gesto.
nem que se coloque o homem dentro
de máquinas de aço e se precipite o processo:
das mãos surgirá naturalmente
o ser instintivo, àquele,
que de pré-histórico se resignou.
___________________________________
Poema também publicado no blog de Sylvia Beirute. Sylvia, muito obrigado pelo gesto.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Na barca dos amantes
Na barca dos amantes
todos chegam atrasados
com pressa de partir.
Por isso navegam disparates
e condenam-se
por erros que nunca existiram
senão porque os queriam.
Para estes apressados,
torço que se afoguem antes
de atracarem num porto seguro.
Pois do meu amor
quero a paciência de remar distâncias
e a eternidade possível
que se pode conter entre as mãos.
todos chegam atrasados
com pressa de partir.
Por isso navegam disparates
e condenam-se
por erros que nunca existiram
senão porque os queriam.
Para estes apressados,
torço que se afoguem antes
de atracarem num porto seguro.
Pois do meu amor
quero a paciência de remar distâncias
e a eternidade possível
que se pode conter entre as mãos.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Quando entendia sua fome
põe também cacos, facas e espinhos.
põe sua fome e me enterre os dentes
que na boca exaltarei meu regalo.
variável
põe aspereza sobre meu corpo; põe lixa.
põe também cacos, facas e espinhos.
põe sua fome e me coma como antes
que exaustos, estatelávamos a boca em regalo.
variável
prefiro que salpique sal com pimenta
do que me destempere.
-bom é quando lhe colocam com fome no prato.
domingo, 22 de agosto de 2010
Puxe para baixo
“Puxe para baixo
Puxe para cima
O que lhe servir,
traga para dentro.
O que restar
jogue para fora.”
Após algum tempo de trabalho termino mais um livro de poemas chamado puxe para baixo, faltam muitos ajustes e também muito empenho na elaboração das ilustrações. Deixo aqui o prólogo e espero que em breve esteja publicando.
Abraço e milhões de agradecimentos àqueles que visitam o blog e principalmente aos meu amigos.
Prólogo
Trafegam nas ruas os mais diversificados meios de transporte. Pelo computador nos comunicamos e temos acesso às mais variadas formas de conhecimento. Visitamos teatros, cinemas, exposições, igrejas e terreiros de candomblé - acreditamos nos comunicar com espíritos-; construímos as mais incríveis obras de engenharia e mecânica; escutamos o popstar do momento e alguns até desbravam o universo numa nave espacial qualquer. Mas no fim continuamos não conseguindo nos localizar e saber pelo que estamos lutando, pois de tudo, o que sobra é o homem, que viaja entre o céu e a terra buscando o contato com a alma através do sonho, mas por ter corpo, restringe-se.
Puxe para baixo faz insurgir de suas páginas esse personagem absurdo, mas completamente possível, perambulando numa busca de extremos, saciando fomes efêmeras e querendo que fossem eternas; desejando e repelindo, crendo e descrendo numa destreza incrível, pois busca entender o porquê desse desajuste entre corpo, consciência e alma.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
As obrigações entre dois
Porque não corresponde eu estranho.
Para que veja
desconfiguro o rosto com trejeitos
enfio as mãos nos bolsos
assento-me
domingo, 1 de agosto de 2010
Alienação poética
ou
Procure outro escritor
Trabalho em cima de afirmações
e deixo o futuro para depois
como tudo aquilo que não me significa.
Com uma enxada numa das mãos,
colho o que me pertence
e deixo passar o resto:
faço da terra meu único espaço;
nela nunca planto ou fecundo nada,
apenas desperto se houver o que despertar:
às vezes estão todos surdos e não imploro que me ouçam,
é uma questão de desencontro.
a minha poesia só entende mais com mais,
mais com menos ou vice-versa é desencontro.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Sobre as asas do abutre
Não cubra tuas mãos
com esse inquieto som
que das páginas vem.
É possível que te tornes louco
ou relativamente efusivo
e acabe por colocar teu filho
sobre as asas de algum abutre,
afim de que ele aprenda a sonhar
com o corpo todo.
sábado, 17 de julho de 2010
As obrigações entre dois
Porque não corresponde eu estranho.
Para que veja
desconfiguro o rosto com trejeitos,
enfio as mãos nos bolsos
assento-me
Porque respondo, você estranha e
eu lhe imponho:
Reconfigure-se com um sorriso
tire suas mãos do bolso
que eu as beijarei.
domingo, 11 de julho de 2010
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Diário de Bordo* - Poema Imagem
Os adultos parecem estranhos
e as enguias quando tiradas do mar,
desligam-se dos sonhos.
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o oco cheio de vazio
é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua nem o próprio gozo apree...
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