Quando pequeno, minha mãe recomendava indagando aos gritos, de onde estivesse, se eu já havia lavado bem atrás da orelha; e a voltinha da cabecinha do pintinho, e a bundinha? Sim, sim, sim. Estão bem lavados. Como se nessas partes habitasse toda a sujeira do mundo, derivações da cloaca máxima. Outro dia, minha tia descobriu toda a sujidade possível que um umbigo podia conter quando subiu minha camiseta e aproximou seu nariz para dar uma fungada. Repreendeu a minha mãe: “tá fazendo vista grossa com o umbigo do menino?”. Pegou um cotonete com água e sabão e o cutucou. Cutucou as pequenas canaletas acumuladoras e retirou a sujeira. Semanalmente minha mãe inspecionava meu corpo, os meus orifícios, as minhas voltas e dobras, porque filho dela não podia andar feito gato que tem medo d’água. Consequentemente, outras partes do corpo ganhavam atenção diante dos seus olhos. Lavou bem entre os dedos filho? E o sovaquinho? Sim, sim, sim, sim! Estão bem lavados, desencrostados, desensebados. Ah, desensebados! Era tão limpinho que durante a minha infância e adolescência meus primos me apelidaram de sebinho, e durante o mesmo período, passei mais tempo debaixo d’água a me desensebar do que brincando. Escrevo isso na tentativa de me libertar, porque maior é a frustração: quando tirei o pau da cueca, toda aquela ansiedade de um pau duro e babado, pronto para receber um boquete da garota que estava ajoelhada. Ela aproximou sua boca e nariz, exatamente como a minha tia e exclamou: que pau limpinho... nem tem cheiro de pau! Meu pau foi amolecendo dentro da sua boca e não pude fazer mais nada. Pior que reprimir o choro, é reprimir o gozo.