segunda-feira, 23 de novembro de 2015

fragmento

Cachorro abana o rabo quando está feliz. Minha mãe solta gritinhos exaltados quando percebe tocar uma canção da qual gosta muito. Olho-me no espelho e noto que a minha íris está aparentemente mais clara, mais esverdeada que o normal. Sinto-me mais bonito por isso e sorrio envaidecido. O coração envaidecido reverbera. Mas há dias em que também me olho no espelho e está lá, a volta esverdeada contornando o castanho-mel e me entristeço. Será também que nem sempre quando o cachorro abana o rabo ou a minha mãe ecoa pela casa é indicativo de felicidade reinante? Por vezes a vida não é inteligível.

domingo, 24 de maio de 2015

Vento

Ando muito abalado, pendente, não firmado

Como se algo muito maior que eu
Pudesse me derrubar...
Uma rajada de vento
Entre as aletas da veneziana;
Um expiro das minhas narinas

Outro das suas, Gemini

domingo, 29 de março de 2015

Intento


I

Dei ao desejo um pedaço de fita negra
e fiz feitiço na festa de santo.
Diziam-me:
teu corpo é Rei, dança...
lança pedra no fundo do poço,
liba a terra com pinga,
acende charuto,
pede benção
e sê terreno
que é de corpo
que Deus vive.

II
Ser humano de rasgar-se
na incorporação,
de quase cuspir o santo
e resgatar a incoerência primitiva
do
êxtase.

III

Desce a cantiga pela boca
Sobre o tambor
Sobre a terra
Da terra sobem as raízes
Que prendem o corpo
Incorpóreo

No espaço

IV  

Sete estradas
Sete caminhos
Sete encruzilhadas

- O verbo é a verba,
Exu é troca

V
Fez a curva lá na Sete Estradas,
a que despudorada,
Arrastava sua gargalhada
Sobre o meu desgoverno

domingo, 8 de março de 2015

Poética



‘Aquilo muito melhor!’
Fui lá e fiz
Surpreendido
Que realmente era muito
Melhor
Recuperei alguma coisa de
Sentimento fraterno
Há muito esquecido