terça-feira, 17 de setembro de 2013

ZRO HRA

Por isso a demora no reconhecimento da face: a sua distância prolongada. Veio até mim e se foi como num rapto. 

A tua face igual, mas não reconhecível. Tentei recordar como te chamava antigamente, mas já me é impossível. Cruel esquecimento. E não é proposital, é que a vida me escapa.

A vida me escapa ou me prende de uma vez: um olhar distante tocando os muros de pedra enquanto mastigo como se não fosse sólido o que como e engulo. Não sei aproveitar o que me é dado, tampouco aproveito o que conquisto. 

Fiquei dias sem fumar, dias sem beber, dias de zero hora. As horas meditativas em que se sente cada vagaroso minuto e não se sente absolutamente nada. Chorei, dancei, ri! Falei nada, falei tudo, mas nada abrandou, nada arrefeceu!

Surge a ideia de fazer muito. Algo que ocupe todo o meu tempo, para que eu me sirva das horas. Ler? Escrever? Desenhar? Trabalhar? Aprender... vou me formar num verbo infinitivo, nada mais.

17/junho - a prece


Quanto trabalho,
A que todos nos dispomos
A enfrentar diariamente.
Corremos para todos os lados
Pedindo o descanso que não virá.

Virá?

Férias!
As aguardo como se pudesse
Transformar-me em outro.
Peço para ser outro esta noite antes de dormir,
E que tudo seja bem feito.
E que dê tempo.

Por quê?

Porque a alegria é tão grande,
e sentir apenas não basta,
que faz-se preciso dizer...

Nada me embrutece

O coração arrefecido?!!
Meu Deus, eu poderia por pontos de exclamação e interrogação infinitos... nunca chegaria a uma resposta. Quantas coisas cabem num milésimo de qualquer coisa? ...
Então algo desenozou minhas mágoas

(foi sua presença?),
com seu jeito complicado que entendi como singelo de me fazer simples.
Bom é ser simples.
E esquecer que toda a minha vida está contida nas ranhuras da unha do dedão do pé.
Toda a minha vida visível na superfície da unha.

(foi sua presença que me fez ver?)
Enquanto isto e aqui,
Nada mais me dói, nem me alegra.
Permaneço sereno,
Nada me embrutece.