Querem-me todos sem vaidades e com o amor comedido dos anjos, o que sinceramente não me interessa. Nunca tive a aptidão dos santos, nem o simbólico pão e vinho servidos no monastério. A minha mesa sempre foi farta: mel refringente à luz solar, mel escorrendo no canto dos lábios, mel a me molestar na textura dos abusos. Tenho gosto pelo que me molesta, pelo o que sem permissão me arromba e destrói. Depois me recompõe, peça por peça numa nova conformação, conferindo novo sentido ao que eu nunca soube direcionar, e provavelmente nunca saberei. Apenas uma farsa, pois estou sempre fora do racional, resolvendo a minha vida na urgência do sistema excretor. Ao vício hipocondríaco de manter-me num fluxo para evitar constipações. Às vezes tenho vontade de parar.
terça-feira, 17 de setembro de 2013
no tempo dos homens, no tempo de Deus
Pensei: quero viver no tempo de Deus! Então fiquei comovido e doído. Imaginei diversas situações para usar o pensamento tido, e o vi sentado no sofá chorando por um motivo alheio. Sentei ao seu lado e disse: tudo passa, não vivemos no tempo de Deus. Ele me olhou ainda encharcado, não respondeu. Continuou encharcado. O que eu queria mesmo era consolar, macerar a ferida dele com açúcar e afeto.
Era noite então, dormimos por nada.
Só no sonho pode-se viver no tempo de Deus, lá onde os segundos valem a idade da criação.
Entro na sala, e lá está você na mesma posição, rindo com as piadas do programa de televisão. Gosto tanto de vê-lo se divertindo... No tempo de Deus, só há tempo para se divertir! Ele fecha o sorriso, e volta sua atenção ao programa. Devo ser maluco por essas coisas! Ora querer viver no tempo de Deus, ser eterno e feliz; deve cansar ser feliz eternamente e estar consciente disso. Melhor é ser louco para viver no tempo de Deus.
II
Era noite então, dormimos por nada.
Só no sonho pode-se viver no tempo de Deus, lá onde os segundos valem a idade da criação.
Entro na sala, e lá está você na mesma posição, rindo com as piadas do programa de televisão. Gosto tanto de vê-lo se divertindo... No tempo de Deus, só há tempo para se divertir! Ele fecha o sorriso, e volta sua atenção ao programa. Devo ser maluco por essas coisas! Ora querer viver no tempo de Deus, ser eterno e feliz; deve cansar ser feliz eternamente e estar consciente disso. Melhor é ser louco para viver no tempo de Deus.
II
Gosto do efêmero, o que Deus não entende, mas permite. O cigarro tragado em cinco minutos, a tapa e a sua ardência fugaz; só não é efêmero quando é no rosto e com intenção de machucar, como a tapa que você me deu dia desses num restaurante. Não sou tua puta. E a tapa ardeu no tempo de Deus, e agora vive no meu inconsciente latejando, servindo como pretexto para o meu choro fácil.
Até minutos atrás, pulávamos as poças d’água e nos divertíamos com isso. Agora já é lembrança, e se recontada muitas vezes, perde-se a veracidade, porque ganha ares de ficção, e vira tudo mentira ou se dilui em cada palavra: as poças, um guarda-chuva, malas e o tempo de Deus.
III
III
E o tempo de Deus é diferente do meu tempo? Pergunta de resposta tão óbvia. Se eu pergunto é porque realmente preciso entender isso, porque realmente dei com a testa nela, e ela não era permeável.
sábado, 20 de julho de 2013
Uma forma para mim
II
Constato que sempre vi Otávio por fora, como a um objeto que se permite ser olhado e analisado em todas as suas especificidades; que se permite correrem-lhe os dedos por cada ranhura, despudorado de ser comprado por motivos errados. Muito mais fácil o modo que entendo Otávio, e também, o único jeito que aprendi a vê-lo: deslumbrada! Com os olhos sempre enuviados e comovidos diante dele, do seu escuríssimo pelo do peito sendo raspado em frente ao espelho, a torneira semiaberta levando pelo e espuma.
Otávio nunca mudou sua forma para ser o que desejava, sempre foi homem em toda sua capacidade de amar, enquanto eu mutilei-me diversas vezes para ser compatível nos gestos e nos gostos, para ser refinada, para ser amável e acolhida.
Constato que sempre vi Otávio por fora, como a um objeto que se permite ser olhado e analisado em todas as suas especificidades; que se permite correrem-lhe os dedos por cada ranhura, despudorado de ser comprado por motivos errados. Muito mais fácil o modo que entendo Otávio, e também, o único jeito que aprendi a vê-lo: deslumbrada! Com os olhos sempre enuviados e comovidos diante dele, do seu escuríssimo pelo do peito sendo raspado em frente ao espelho, a torneira semiaberta levando pelo e espuma.
Otávio nunca mudou sua forma para ser o que desejava, sempre foi homem em toda sua capacidade de amar, enquanto eu mutilei-me diversas vezes para ser compatível nos gestos e nos gostos, para ser refinada, para ser amável e acolhida.
Uma forma para mim
I
Uma forma para mim, antes ou depois do amor? Como me contar, me formatar, e ser diante dos outros um avatar sorridente, voando ora por territórios áridos, ora por paisagens verdejantes e transbordantes de vida? “Só falar por falar e ir dizendo por dizer”, é o que falaria minha mãe. “Não se preocupe, que a vida dá um jeito de te contar; de ir te tecendo e destecendo, de ir te contradizendo e te chamando de mentiroso na frente de todos!”. Verdade mãezinha, tão verdade que a forma que me conto, é a última forma, a forma efêmera em que Otávio me moldou.
Uma forma para mim, antes ou depois do amor? Como me contar, me formatar, e ser diante dos outros um avatar sorridente, voando ora por territórios áridos, ora por paisagens verdejantes e transbordantes de vida? “Só falar por falar e ir dizendo por dizer”, é o que falaria minha mãe. “Não se preocupe, que a vida dá um jeito de te contar; de ir te tecendo e destecendo, de ir te contradizendo e te chamando de mentiroso na frente de todos!”. Verdade mãezinha, tão verdade que a forma que me conto, é a última forma, a forma efêmera em que Otávio me moldou.
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