quinta-feira, 2 de maio de 2013

Palavra

Se você fosse mais poético, o inaudito seria dito sem recusas. Saberia que sexo não é fazer posição de yoga, que o Kama Sutra está fora de moda e que um papai e mamãe bem feito poder ser muito mais gostoso. Mas estão todos irreversivelmente virados e revirados sem saber em qual posição ficar. E toda e qualquer palavra além é motivo de obscenidade. 

A palavra é a força do convalescente. 
A palavra é meu comprometimento com a honestidade. 
A palavra é a minha barricada revolucionária contra os balbuciadores ineptos e falidos de amor.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

De profundis

Quem está nos meus extremos?

Leminsky ou Adélia?

Quem me encoraja a atravessar oceanos num barco de madeira sabendo que não haverá mais volta?
Tenho que deixar de ser temerário, abandonar as ideias de liberdade e ouvir mais os outros, os de bom coração que acendem velas pela convalescência do espírito adoecido pelos vícios; os de corações religiosos e bentos, que das coisas do mundo entendem tudo sem nunca terem participado dele. Onde estavam os sábios que não estavam comigo? Desconfio que não sou bento, e pronuncio isto sem mais pretensões, pois estive iludido por muito tempo sacralizando o que em mim arde de mais impuro sem pedir ajuda.

Deus,
preciso de ajuda,
mas quero continuar sendo eu!
É possível tal milagre?
É possível que numa madrugada toque o meu espírito e eu seja outra coisa melhor do que agora?

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Sabá

Dia a dia seu nome fica mais distante junto a sua imagem já borrada. Nem lembro mais de como você tomava a xícara e se servia de café. O rangido dos dentes mordendo a maçã me acordando pela manhã. Tudo fica distante, longe do que era quando existia. A distância é muito boa, e o tempo o manjar de Saturno, o destrutor, a enforcar tudo com seus anéis, a arrefecer as lembranças nas pregas da memória. Mas penso se ao escrever isto, não estou diminuindo a distância fantasmagórica da tua face frente a minha. A minha em frente a um espelho. O nosso passado ressurgido. Então, voltas a me assombrar nos sonhos com teu sexo de íncubo, o teu sêmen recém-colhido na boca de um cálice alimentando os homúnculos do nosso amor.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Matéria

Perguntas-me se tenho nojo...
Absolutamente não!
É na matéria que sai de ti
que me transubstancio em alegria.

Teu cuspe na minha boca.
A minha língua cunilíngua.
A tua matéria cinzenta.
O meu prazer escatológico.