quarta-feira, 17 de agosto de 2011


Foi depois de Freud, ou antes, que tudo no mundo perdeu sua inocência? As crianças, já são adultas sem o saberem. Vêm com seus temores, impossibilidades, maldades. O menino tem suas primeiras ereções, e a menina entende seu corpo como um volume erógeno. E todos eles já cometem incesto sem saber. Depois eles crescem e amam seus pais como amam seus primeiros companheiros, mas eles muitas vezes também não saberão disso, todavia não posso julgá-los mais ou menos idiotas que eu. Aí somos todos adultos procurando uma aprovação que nem Deus, criatura misericordiosa e evoluída, poderá fazê-lo.

Acabamos por estragar tudo o que nos cerca, porque nos é indefinível a luta que travamos com o mundo, que já não têm vilões ou heróis, e se houver, desejamos tragicamente ser heróis e conquistadores, enquanto os outros sãos conspiradores afoitos por nos derrotar. Talvez por isso nos comprometamos sempre com os mocinhos dos filmes, mesmo que estes às vezes batam em seus filhos, em suas mulheres, ou abram seus caminhos por meio de balas. Será isso mesmo?

Estamos sempre nessa torrente arrebatadora do bom-mau-caráter. Traímos como Judas traiu Jesus, mas nós somos perdoáveis, enquanto Judas, um crápula que realmente deve arder e figurar como comparsa do Diabo. A não ser quando estamos drogados, porque nesse estado sempre encontramos razões para coisas abomináveis, e sentimos compaixão por nós, pelos outros, e instantaneamente somos todos perdoáveis, iguais e pertencentes ao grupo dos mocinhos. Porque graças a Freud, que talvez não explique tudo, mas sempre tem uma resposta engajada.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Dedicatória


Iridescente teus olhos.
Astros feitos de vidro;
pequenas bolicas caramboladas

-Que jurei nunca mais olhar.

Tuas macias bolas:
kiwis aveludados
moldáveis formas

-Que jurei nunca mais pegar.

Face de traços másculos:
retas quebradas
de ângulos chapados

-Que jurei nunca mais pensar.

Poema de três partes
das tuas partes
Relutantes

-Que jurei não te dedicar.

sábado, 30 de julho de 2011

Dedicatória

Iridescente teus olhos:
astros feitos de vidro;
pequenas bolicas caramboladas

-Que jurei nunca mais olhar.

Tuas macias bolas:
kiwis aveludados
moldáveis formas

-Que jurei nunca mais pegar. 

Face de traços másculos:
retas quebradas
de ângulos chapados

-Que jurei nunca mais pensar.

Poema de três partes
das tuas partes
Relutantes

-Que jurei não te dedicar.

sábado, 23 de julho de 2011

Objeto de desejo

Estaremos melhores daqui alguns anos. Daqui a dez, quinze, trinta anos. Minto. Daqui à velhice. Estaremos completamente a salvos na velhice. Sem as esperas que nutríamos antes das coisas caírem. Antes que as coisas intentassem o acerto. Na velhice estaremos dispostos a nos contentar com o mínimo, a nos amar pelo mínimo, pela vaidade mínima. A vaidade mínima que nos manterá ainda inteiros de humanidade, de generosidade, de compaixão. Ainda que tenhamos nos desperdiçado por escolhas tolas, na velhice nos perdoaremos de toda a juventude que levamos, até transformaremos o erro casual de termos nos conhecido num acerto oportuno, lotérico, divino. Não sei quanto a você, mas estarei muito melhor daqui alguns anos. Quando a barba cobrir todo o meu rosto, e os outros pêlos estiverem todos ali, embranquecendo-se em suas partes definitivas; aí, serei homem ou outro homem, agora importante para mim. Comprazido das minhas falhas, dos meus acertos, das minhas inconsistências, das minhas impossibilidades. Na velhice que estarei completamente a salvo, e não precisarei ostentar ou reluzir o ouro que nunca possuí; nem ser belo, ou estar dentro do que nunca quis realmente estar. – agora, dia 22 de julho, numa sexta-feira de possível geada, afirmo: tenho esperado a velhice mais que a morte.