Estaremos melhores daqui alguns anos. Daqui a dez, quinze, trinta anos. Minto. Daqui à velhice. Estaremos completamente a salvos na velhice. Sem as esperas que nutríamos antes das coisas caírem. Antes que as coisas intentassem o acerto. Na velhice estaremos dispostos a nos contentar com o mínimo, a nos amar pelo mínimo, pela vaidade mínima. A vaidade mínima que nos manterá ainda inteiros de humanidade, de generosidade, de compaixão. Ainda que tenhamos nos desperdiçado por escolhas tolas, na velhice nos perdoaremos de toda a juventude que levamos, até transformaremos o erro casual de termos nos conhecido num acerto oportuno, lotérico, divino. Não sei quanto a você, mas estarei muito melhor daqui alguns anos. Quando a barba cobrir todo o meu rosto, e os outros pêlos estiverem todos ali, embranquecendo-se em suas partes definitivas; aí, serei homem ou outro homem, agora importante para mim. Comprazido das minhas falhas, dos meus acertos, das minhas inconsistências, das minhas impossibilidades. Na velhice que estarei completamente a salvo, e não precisarei ostentar ou reluzir o ouro que nunca possuí; nem ser belo, ou estar dentro do que nunca quis realmente estar. – agora, dia 22 de julho, numa sexta-feira de possível geada, afirmo: tenho esperado a velhice mais que a morte.