Perdoe-me por minha ansiedade;
por essa insegurança que perdura
no gesto em falsete ou na euforia gaga da fala.
Mas é que estou tentando conquistá-lo;
estou tentando me fazer necessário e indispensável na sua vida.
Perdoe-me, não me cansarei de pedir desculpas
mesmo que isso rutile um tanto “ultra-romantismo anacrônico”,
ainda assim, não deixarei que seu tato se recrudesça senão em minhas mãos,
pois, mesmo sem saber,
você já é meu.
Por isso me ame hoje,
ainda que doído,
ainda que estranho
ainda que impróprio,
descubra-me e depois me acoberte,
mas faça isso hoje,
agora,
neste instante, porque as
promessas para o amanhã já se fazem tardias.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Dry, Ansiedade A
A ansiedade amarrou minha boca.
Cortou meus lábios sem sangrá-los.
A ansiedade fumou meu último cigarro
e devorou os restos da minha geladeira,
bebeu do meu Dry Martini e comeu minha azeitona.
A ansiedade fez-me correr de pernas atadas.
Fez-me subir até o último andar do edifício
de vista vertiginosa, para depois me fazer descer.
Fez-me lavar as mãos
obstinadamente.
Fez-me ajoelhar diante de santos e demônios
como se eu acreditasse nessas coisas de imagens
sacras, sacrílegas, acrílicas, argila, Aleijadinho.
A ansiedade fechou minha porta
e enterrou as chaves no cimento fresco,
agora, já seco.
A ansiedade expulsou-me de mim mesmo,
pôs-me desabrigado...
abrigado nesse teto
de azul tempestuoso, que vez ou outra expõe
suas estrelas.
Estou exposto, fraco, deliberadamente mal,
meus joelhos doem, minhas mãos tremem
mais que de costume, e meus pés tropeçam;
Fui, dia desses, a Paris, New York e Bangladesh.
Meus pés tropeçam nas orelhas desse poema.
Também, dia desses, olhei para dentro da janela
e a mesa estava posta, composta, bosta.
Meus lábios tremem querendo romper
com a costura;
minha avó era costureira,
e eu aqui tentando alinhavar lembranças
sem nem ao menos usar dedais.
Estou fraco e minha coluna mantém-se tão rija
quanto uma estátua de mármore perdendo
suas partes para o tempo.
Estou caindo, caindo, cainn...
A ansiedade me empurrou vetorialmente
com direção, sem sentido, compridamente abaixo
num túnel escavado sobre a linha de terra.
Estou caindo, caindo e toca
obsessivamente uma música que conta
sobre fumaça de navios avistados de longe
furos de alfinetes,
uma certa agonia,
um grito putrefazendo-se no ar por vermes,
todavia,
sem mais dores e sofrimentos.
Algumas pedras me acompanham nessa descida.
Pedrinhas como aquelas que aparecem nos filmes
quando o mocinho está prestes a escorregar da beira do abismo,
e vem, obrigatoriamente alguém e lhe puxa pela mão.
Não, eu não sou o mocinho dessa história,
Quem sabe um banal figurante com trajes antigos,
Uma prostituta de milhares de políticos engomados;
Ou, mesmo, um sodomita em filmes para adultos.
talvez um serviçal que marca presença servindo xícaras
de chá para o patrão enquanto este:
-Oh, sim, tratemos disso mais adiante...
sou infelizmente dispensável.
Estou caindo
caindo
caindo
domingo, 26 de outubro de 2008
Ora Pois! ou A Literatura do Lunático
O realismo é tão frio. Sempre me neguei a registrar qualquer palavra que fizesse uma descrição objetiva e clara sobre os fatos, por isso escrevo. Nesse exato momento armo um palco com minha cia. De teatro, visto trajes nos figurantes e ponho nos meus protagonistas uma boa capa de mocinho ou de vilão, classificação esta a ser definida nos próximos atos.
O destino é um livro para cegos, você só entende se o tocar, mas, é fato que as linhas que o destino traça, são grossas e rudes com as mãos de qualquer mocinho ou vilão, pois cada qual possui antecedentes que justificam ou não suas atitudes. Tudo era um imenso talvez, pensava o Mocinho(vilão) nº 1, este que acabara de sair de um trabalho sobre levantamento urbano e já há algum tempo enfrentava a fila da cestinha.
Olhava para todos os lados como que procurando por algo interessante, algo que salte os olhos e se fixe como lente de contato até que chegue sua vez de passar suas compras no caixa. Então como um pedido que ascende ao céu e retorna como um raio a terra, entra em cena o Mocinho(Vilão) nº 2 sorrindo com sua amiga.
O problema é esse, o Mocinho número dois; eu não sei nada sobre ele, mas sei que quando o olhei e vi aquele sorriso e seus óculos, decidi olhá-lo mais, observá-lo de cima abaixo, mirá-lo e captar as mensagens que eram passadas por seu corpo, pela sua fala. E o carreguei em mim para fora do mercado.
Alguns dias depois...
Não, eu não estou apaixonado, ele é apenas um estranho e isso me lembra Closer, onde paixões ao acaso podem existir. Então sim, levando-se em consideração o cinema como um mundo paralelo, o Mocinho nº 1 vê-se apaixonado pelo Mocinho nº 2 e corre infrene para reencontrá-lo.
Mocinho nº 1 põe seu tênis.
Mocinho nº 2 põe seu tênis.
Mocinho n º1 sai de casa.
Mocinho nº 2 sai de casa.
Mocinho nº 1 dobra a esquina e se escora na entrada de uma loja.
Mocinho nº 2 dobra a mesma esquina e passa apressado enfiando o celular no bolso.
Mocinhos cruzam olhares.
Mocinho nº 1 cumprimenta.
Mocinho nº 2 retribui e passa.
Mocinho nº 1 pergunta se não o reconhece.
Mocinho nº2 afirma que reconhece e se desculpa porque está atrasado para pegar o ônibus.
- Arre! Podíamos ter trocado telefones, pensa mocinho nº1.
E os dias vêm se arrastando como nunca para o mocinho nº 1, com altas doses de poemas e chás que segundo a sua avó, que se considera curandeira, lhe receitou. E parece que exatamente agora, nessas últimas linhas que me restam e o desfecho que se inicia agora, inculca que se faça com versos de Cecília:
...
Meus sonhos viajam rumos tristes
e, no seu profundo universo,
tu, sem forma e sem nome, existes,
silencioso,obscuro, disperso.
...
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Socialização
Ontem, logo pela manhã, Tchaikovsky e sua Bela Adormecida vieram me visitar. Tomamos um chá com tortas de maçã que a Bela Adormecida trouxe. Foi uma delícia, são duas pessoas agradabilíssimas, educadas e de muito bom gosto, tal qual o meu amigo Iago, aliás, saudades dele. Se alguém o viu, favor lhe mandar lembranças minhas.
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