pressinto a novidade.
ela me vem como uma intuição,
como o soar de um instrumento de sopro.
uma anunciação, um delírio, um êxtase religioso
que toma o corpo
e brada como os Caboclos num terreiro de umbanda,
sempre abrindo caminhos,
rompendo matas,
retirando a erva daninha
que pela fresta do cimento
se enraizou
intentando o céu.
- aí você me perguntou como isso era possível?
(porque há sempre um espaço a ser preenchido com perguntas)
um pé de melancia, citrullus vulgaris,
irromper não sei de onde,
semeada de não sei que pássaro-vento nesse quase fim de verão?
(porque há sempre um espaço a ser preenchido com respostas)
e um silêncio imperceptível
em que a vida acontece
domingo, 12 de maio de 2019
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019
Pornô XVIII
À mesa de jantar eu só queria entender o porquê de se parabenizar os pais dos noivos pelas escolhas que só dizem respeito aos noivos.
- Ah, mas é a tradição!
(servia-se de estrogonofe)
- Porque é assim!
(abocanhava o estrogonofe)
e eu:
- Tenho pavor de toda obrigatoriedade social!
- Ah, mas é a tradição!
(servia-se de estrogonofe)
- Porque é assim!
(abocanhava o estrogonofe)
e eu:
- Tenho pavor de toda obrigatoriedade social!
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019
Pornô XVII
antes do gozo tudo me serve. a não tão loucura imaginada de esporrar sobre a minha barriga e peito e me esfregar com as mãos, então dormir todo melado. ou de foder de pé, em que você mantem um pé apoiado no chão, o outo suspenso pelo joelho dobrado sobre a cama aguardando a penetração (acoplo). ou a transa com milhões de homens e mulheres, uma suruba infinita de infinitos corpos, de infinitos fetiches desdobrados em putaria que se vende na internet. a verdade é que depois do gozo fica tudo perdido, você corre pro banho tirar a meleca da porra do corpo, o sexo em pé termina em conchinha e o hiperrealismo da suruba vai sendo adiado por mais um pouco.
Esperança
quando você me diz que vai ficar tudo bem,
que tudo se ajeita,
é como se eu recuperasse algo,
como se escancarasse portas,
cavocasse a terra
e lá,
onde nunca imaginei,
re-encontrasse a
poesia.
que tudo se ajeita,
é como se eu recuperasse algo,
como se escancarasse portas,
cavocasse a terra
e lá,
onde nunca imaginei,
re-encontrasse a
poesia.
Sem título mas em mutação
POR ISSO
eu não preciso olhar mais para fora,
porque o fora já me tomou
através das janelas digitalizadas,
através das pontes cibernéticas
pelas quais me desloco inerte
em dedos e multitelas.
O meu limite agora é o dentro !
A minha aventura
é o dentro
da casca de concreto
onde toco clausuras vítreas
de funduras não inteligíveis
de mim
e
misturo-me ao abissal,
escamoso ou liso,
fosforescente
como olhos de lanterna:
- SOU peixe MUTANTE!
eu não preciso olhar mais para fora,
porque o fora já me tomou
através das janelas digitalizadas,
através das pontes cibernéticas
pelas quais me desloco inerte
em dedos e multitelas.
O meu limite agora é o dentro !
A minha aventura
é o dentro
da casca de concreto
onde toco clausuras vítreas
de funduras não inteligíveis
de mim
e
misturo-me ao abissal,
escamoso ou liso,
fosforescente
como olhos de lanterna:
- SOU peixe MUTANTE!
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
terça-feira, 29 de maio de 2018
Diário de Bordo III
Distanciar-se
aproximar-se,
como as embarcações que
chegam,
ancoram e partem a todo
instante.
Tal como as pessoas,
os outros animais, insetos,
tudo o que é vivo (a pedra)
(o sedimento de pedra) e que por algum motivo,
o mais diverso e
desconhecido motivo,
chega,
ancora e
p a r t e.
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
Tá na cara, Melodia
Me sinto a vontade no meu carro.
Extremamente a vontade no meu carro.
Cutuco as narinas,
retiro o tatu
e faço bolinha.
Às vezes eu lanço pra fora da janela num peteleco,
outras, eu passo no banco ou boto na boca,
dou uma mordidinha
e sem coragem de engolir
lanço pra fora da janela
e já não é mais problema meu.
(do meu carro eu também sei escarrar)
Fora de mim, eu lavo as minhas mãos;
fora do meu carro,
não sou, não existo, não pertenço!
A cidade em si eu não vejo,
as pessoas tampouco.
As pessoas esperando na faixa de pedestre,
elas existem num plano espiritual muito distante
do qual não faço parte.
(daqui a pouco a gente entra naquele mês de conscientização no trânsito)
"acho que estou numa propaganda do carro que será o carro do ano.
Trajo terno e gravata e a barba rala
como dizem que as mulheres gostam,
e sou branco.
Branco numa cidade tecnológica e desabitada,
mas ainda de fé cristã,
porque em frente da faixa há uma igreja
e insisto em fazer o sinal da cruz"
me benzo!
E sigo abençoado, na velocidade que quero,
pela rua que quero, cruzando, transpassando e penetrando
a via que quero sem os olhos do julgo, repetindo
intermitentemente a minha auto-ajuda
Mas daqui a pouco a gente entra naquele mês de conscientização no trânsito,
(antes fosse só o mês das noivas!)
bota a fitinha amarela e finge ser educado,
o amarelo do patinho de borracha
e que de nada entende de nada
circulando na cidade
confortavelmente em seu carro.
Extremamente a vontade no meu carro.
Cutuco as narinas,
retiro o tatu
e faço bolinha.
Às vezes eu lanço pra fora da janela num peteleco,
outras, eu passo no banco ou boto na boca,
dou uma mordidinha
e sem coragem de engolir
lanço pra fora da janela
e já não é mais problema meu.
(do meu carro eu também sei escarrar)
Fora de mim, eu lavo as minhas mãos;
fora do meu carro,
não sou, não existo, não pertenço!
A cidade em si eu não vejo,
as pessoas tampouco.
As pessoas esperando na faixa de pedestre,
elas existem num plano espiritual muito distante
do qual não faço parte.
(daqui a pouco a gente entra naquele mês de conscientização no trânsito)
"acho que estou numa propaganda do carro que será o carro do ano.
Trajo terno e gravata e a barba rala
como dizem que as mulheres gostam,
e sou branco.
Branco numa cidade tecnológica e desabitada,
mas ainda de fé cristã,
porque em frente da faixa há uma igreja
e insisto em fazer o sinal da cruz"
me benzo!
E sigo abençoado, na velocidade que quero,
pela rua que quero, cruzando, transpassando e penetrando
a via que quero sem os olhos do julgo, repetindo
intermitentemente a minha auto-ajuda
eu posso (dentro do meu carro)
eu sou (dentro do meu carro)
eu existo (dentro do meu carro)
porque tá na cara que o jovem tem seu automóvel, Melodia.
Mas daqui a pouco a gente entra naquele mês de conscientização no trânsito,
(antes fosse só o mês das noivas!)
bota a fitinha amarela e finge ser educado,
o amarelo do patinho de borracha
e que de nada entende de nada
circulando na cidade
confortavelmente em seu carro.
segunda-feira, 21 de agosto de 2017
Fragmento
Vou ficar em silêncio
mesmo que o silêncio não me sirva
e eu deseje mesmo o movimento
a fala incontida,
os dedos sobre o seu corpo,
a aresta vincada com unha do origami,
o seu sorriso fácil,
a imagem entrecortada
desses pequenos prazeres
os dedos sobre o seu corpo,
a aresta vincada com unha do origami,
o seu sorriso fácil,
a imagem entrecortada
desses pequenos prazeres
quarta-feira, 16 de agosto de 2017
Memória
Certo que uma palavra dita uma única vez possa,
inexoravelmente, atravessar a camada córnea
e ali permanecer
como a um berne
apodrecendo a carne.
Coisa mais nojenta!
põe-se uma manta de toucinho
sobre o ferimento vulcânico,
aguarda o berne apontar para o respiro
e então, pinça-o com a destreza de um médico cirurgião vulgar,
um curandeiro de ladainha incensada:
- Que não deixe seus ovos!
Depois com fósforo e álcool,
incinera-o.
(O fogo é elemento fundamental para purgar o mal:...)
II
mas,
sendo a palavra substância sem veículo corpóreo,
sobre ela não se põe emplasto,
não se extrai com pinça,
não se atiça o fogo
III
a palavra!
ah, o que se faz com a palavra?
aquela ouvida para se instaurar como a um mal,
como a um berne?
IV
Recomendação:
não a detenha!
Deixe que circule mas não a detenha.
Nunca a detenha!
inexoravelmente, atravessar a camada córnea
e ali permanecer
como a um berne
apodrecendo a carne.
Coisa mais nojenta!
põe-se uma manta de toucinho
sobre o ferimento vulcânico,
aguarda o berne apontar para o respiro
e então, pinça-o com a destreza de um médico cirurgião vulgar,
um curandeiro de ladainha incensada:
- Que não deixe seus ovos!
Depois com fósforo e álcool,
incinera-o.
(O fogo é elemento fundamental para purgar o mal:...)
II
mas,
sendo a palavra substância sem veículo corpóreo,
sobre ela não se põe emplasto,
não se extrai com pinça,
não se atiça o fogo
III
a palavra!
ah, o que se faz com a palavra?
aquela ouvida para se instaurar como a um mal,
como a um berne?
IV
Recomendação:
não a detenha!
Deixe que circule mas não a detenha.
Nunca a detenha!
a máquina da noite
tique-taque taque
uma nova ordem instaurada,
nada a ver com a máquina do coração,
o relógio digital.
deve ser louco
aquele que reitera
a obviedade das coisas
uma nova ordem instaurada,
nada a ver com a máquina do coração,
o relógio digital.
deve ser louco
aquele que reitera
a obviedade das coisas
-o relógio, antigamente,
fazia um tique-taque, tique-taque...
vinha da sala e
ressoava pelos outros cômodos
até desaparecer, hipnoticamente, em sono.
Acordávamos sem o tique-taque:
sim,
alguma coisa surgia e se perdia com a noite!
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o oco cheio de vazio
é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua nem o próprio gozo apree...
-
é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua nem o próprio gozo apree...
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possibilidades poéticas do confinamento antes de sair de casa, não esqueça que ontem foram 4249. Brasil, 08 de abril de 2021. *4.249 mort...