quinta-feira, 5 de março de 2015

Pornô XI


Há um jeito mais ou menos másculo, ou polar, mais ou menos feminino de se dormir? Ou corpo que distendido pela forma macho fêmea aparenta fêmea macho? Como o corpo que se dá a imagem, a pergunta que ao perguntar responde: pretensioso!? Tava tirando a sobrancelha, cenho não franzido, uma placidez instaurada a cada fio pinçado – ‘Tens que limpar a sobrancelha, teu olhar tá muito carregado... só uma limpadinha, pra não ficar muito feminino’ - parte da minha expressão delicada medida e pinçada, porque hoje em dia, tudo é milimetricamente medido e pensado; um fio a mais ou a menos torna-se argumento suficiente aos maledicentes, que são também os de boca santa: ‘Parece uma bichinha!’ Ou – ‘Nossa, que diferente que ele tá... um olhar mais complacente!’. Duvido muito que saibam o significado de complacente, então, como poderão elogiar com palavra tão sóbria e culta, e mais, por que desejaria tal elogio tão distante de corpo? Pincei alguns fios a mais, queria algo sincero, um xingamento – ‘Oh, bichinha da sobrancelha fina!’ – como se alguém inesperado a qualquer momento pudesse adentrar o quarto e me tivesse fêmea macho de sobrancelha feita; olhar delicado de corpo desejoso outro corpo repousados sobre o travesseiro numa imobilidade pretensiosa de ser libido sendo macho sendo fêmea.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Pornô III



“Não, essa posição pode machucar!”. Prestes a dar uma boa cavalgada no pau dele, com o cuzinho lubrificado de cuspe, ardendo de tesão, ele me fala isso: “não, essa posição pode machucar! Não viu a pesquisa que eu te enviei ontem? Notícia da Folha, de ontem” enquanto acomodava minhas nádegas em suas coxas para prestar atenção às hipocondrias dele “metade das lesões no pênis decorrem da posição cowgirl” dois homens numa suíte de motel revestida com espelhos, brinquedinhos sobre o aparador, ‘eu cowgirl?!’ “a posição missionário e a de quatro também podem lesionar o pênis” descolei a bunda dalí, não ia perder aquele cuspe todo. Me dirigi ao aparador e catei o brinquedinho “o que você tá fazendo?” abri o brinquedinho, tinha o nome de John, durinho, 23 cm; o apoiei num banquinho, e sentei no John, olhos fixados no espanto do jornalista: vagarosamente sentei gostoso exprimindo um gemido e perguntei “esse aqui também lesiona?”

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Pornô

Sobre o corpo e sua corporeidade ideal: o desejo.

Pornô I

Nos encontramos na praia: eu numa direção, ele na contrária. Já o tinha avistado de longe, mas para que ele não percebesse, dava olhadelas furtivas. Inevitavelmente nossos olhos se cruzaram e nisto fomos obrigados a investir numa aproximação corpo a corpo.

- Oh, Cara, curtindo a praia de manhã?
(meus olhos no sorriso dele)

- De manhã... sol... tá bem gostoso...
(meus olhos no peitoral dele, os mamilos envoltos em pelo )

- Dando uma corridinha?
(meus olhos fingimento cabisbaixo)

- Uma caminhada... tá bem gostoso... a manhã! E você?
(com a língua, organizar os pelos entorno do mamilo)
- Uma corridinha gostosa... manter a forma.
(as minhas mãos resvalando sobre a sua barriga)

- Ah... é bom mesmo, bem gostosa a manhã!
(meu pau endurecendo dentro da sunga)

- Sim... bom te ver, Cara!
(uma impossível luta de comando para permanecer mole)

- Ah sim, bom te ver também!
(ele percebeu?!)

Pornô II

É claro que já o tinha visto, e de fato não era o rosto o que referenciava o reconhecimento, mas sim os mamilos: pontudos e rosados, sem apresentar qualquer distinção entre bico, auréola e a pele do peito, confundidos como depois de uma boa chupada. Imaginei então como fazê-lo distinto: o bico enrijecido; contornando-o, a auréola espocada em poros, delimitando o mamilo do resto. Coloquei-me a chupá-lo, alternando entre movimentos rápidos e lentos; mordidas pinçando o bico impondo-lhe uma posição, a de ficar ali, protuberante como um montículo, um pequeníssimo vulcão em pré-gozo. Consonante aos gemidos desprendidos gradativamente exaltados ao orgasmo, o outro mamilo espelhava-se num prazer simétrico, ao máximo da forma: porque em gozo, tudo se apresenta perfeitamente distinto, até que se consuma e esmoreça disforme.

domingo, 21 de setembro de 2014

o não amor

Lamentavelmente, não posso dar meu amor às moscas ou a outros insetos infestantes:
Às pulgas, aos percevejos e mosquitos
Eu não os posso amar.
Há neste tipo de amor
o comichão, a irritação, o zumbido
ziiiiiiiiii iiii ziii
o contágio.
O contágio que eu não desejo.
O contágio que me impregna do insuportável,
da doença, da loucura, da insônia.
O contágio de palavras na boca sobressalto:
- Você está contaminado!
Corro entre as vielas cerebrais
entre muralhas tornadas cada vez mais altas
ao grito do não

-não, eu não estou contaminado!
Para estar contaminado
eu teria que amar in-decoro
e ser como você,
como os que não são de Deus.

-não, eu não estou contaminado!
Para estar contaminado,
eu teria que me envolver
e eu nunca me envolvi.

II

Lamentavelmente, não posso dar meu amor às moscas ou a outros insetos infestantes:
às pulgas, aos percevejos e mosquitos
eu não os posso amar mais.
Apesar de
já os ter amado,
até me deitado e gozado à revelia;
aberto chagas com as unhas,
pinçado a broca branca do pepino
e comido o aproveitável.

III

Lamentavelmente não posso dar meu amor às moscas ou a outros insetos infestantes.
Há neste de tipo de amor
uma frieza dos diabos,
ou própria a dos médicos,
instrumentistas e acadêmicos intelectuais:
uma frieza de olhar sociológico e profilático,
nunca o de contágio.

IV

Lamentavelmente, não posso dar meu amor às moscas ou a outros insetos infestantes.
Lamentavelmente também, não posso dar meu amor ao ambiente limpo e sadio,
pois há, nisto tudo que implica amor,
um doar-se, um contagiar-se, um envolver-se
que eu nunca tive.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Adesivo

Desgrudou
aquilo que antes joguei água quente,
raspei com faca, esponjei com o lado mais abrasivo,
joguei detergente e soda, a cáustica, a corrosiva;
coloquei no congelador, diagnóstico de chiclete,
disse a doutora...
desgrudou,
assim do nada,
no seu tempo,
na sua manha,

sem dizer nada a ninguém.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

domingo, 10 de agosto de 2014

poema à 4 mãos

com Natalia D'Agostin
Simulacro
Simulação
Espectro
A poesia visionada na luz fragmentada: somos cacos a reluzir
(dez)pedaços multiformes de cintilante

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

de fato, a convivência

De fato a coisa mais poética que você me disse
Que “maçã boa é aquela que abelha pinga mel: a mordida é mais gostosa!”.
De fato, essa a qual mastigo e lhe oferto pedaços, um nojo!
“Esponjosa
Não açucarada
Falta mel!
Um nojo!”

(fragmento)

(...)eu só sei que viver só não consigo(...)
Só – Gustavo Galo

...) sobre o excesso e depois a ausência(... ainda que malquisto nos momentos de excesso, a falta é absolutamente indesejável... uma necessidade viciada de corpo; ainda mais o de gozar... não me aceito amando? Não o quero? Óbvio que o quero em sua completude permitida! E as loucuras permissíveis!. E agora a falta de um corpo e a boca florescida em dor; a serpente, ou outro animal peçonhento que a tudo o que toca faz perecer; ou outro pensamento mesquinho que formulado sobre o meu corpo o adoenta; o que recalcado surge, ressurge fantasmagoricamente para me perturbar à boca de miasmas de pus – a dor purulenta como a dos infestados

(... retrocesso

Talvez devesse dizer mais sobre a dor que me aflige num encorajamento protecionista; o de proteger meu corpo –
barreiras,
sacas de areia,
glóbulos brancos franceses,
Napoleão, Actimel Le LC Défense...
e disse
e o herpes serpenteando florescia por entre as flores cinematográficas: os quadros acelerados de um processo lento; de dias e estações contadas numa única tomada.


Quero perdê-lo de vista dos sentimentos ruins – de me ater girando sob o eixo da minha hipocondria cerebral.
(...)
Vontade estranha de me apaixonar. Ir a outro lugar
dar um rolê por ai
o fora daqui
viver uma novidade.

terça-feira, 29 de julho de 2014

pós mamão papaia


entre céus e terras
o inferno é que nos infesta de paisagens
verdejantes e áridas

- O céu, simulacro inatingível,
também não nos toca.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Argumento

Era a terceira vez que me visitavam. Ele e o namorado abriram a porta empunhando garrafas de vinho. Oh, que surpresa! Dissimulado, abri um sorriso e tomei suas garrafas. Coloquei algum tipo de música; Frank Sinatra? I’ve got you under my skin. Um estampido de rolha. Servi-os. Riam de algo, e logo me introduziram num novo assunto dando início a noite. Por algumas horas ficamos discutindo sobre o longo dia que cada um teve; das pessoas idiotas com quem trocaram mensagens, papéis e deveres: jogo de afazeres e desfazeres. O melhor é que é final de semana e podemos nos embebedar e fugir dos sempre cinco dias que nos atormentam! Rimos do que fora dito, mas também exclamamos um Ahhh! de admiração, soou bonito o que ele tinha dito. Estávamos amortecidos pelo vinho, o corpo e o pensamento, bem acomodados. Por que melhor? E o outro repetiu, por que melhor? e o outro, por que melhor? até brindarmos novamente. Noite de brindes. Até que foram embora.

A campainha. Oh, que surpresa! Realmente surpreso com a visita deles no outro dia. Você combinou de bebermos hoje, lembra? Vagamente me lembrei de tê-los convidado. Continuamos a noite de ontem. Como não tínhamos mais assunto, retornamos ao assunto do bar, de como havíamos nos conhecido. Rimos do improvável da situação. Éramos agora, depois de cinco encontros, amigos. Ríamos nervosamente com um fundinho de ironia que nos punha a disfarçar: eu tomava mais um trago enquanto eles se beijavam. Geralmente não se beijavam muito, mas quando se beijavam, em mim subia um ciúme à face, sentia-me constrangido e desprotegido num sorriso frouxo como se fosse possível me rejubilar pelo o amor dos dois. O modo como ele o beijava me causava ciúmes; o modo como ele respondia ao beijo me causava ciúmes. Estava apaixonado. Depois de cinco encontros eu estava apaixonado, e a bem da verdade é que não sabia por qual deles ou se pelo casal. Até que foram novamente embora.

Era domingo. E no domingo eles tiravam o dia para curtirem a preguiça. Pelo menos era o que tinham me dito. Imaginava-os curtindo a preguiça; a preguiça em cada milímetro de pele colada; as pernas coladas, entrelaçadas e dormentes; o tesão apontando ora num, ora no outro, ora em ambos e quando ambos, faziam um sexo preguiçoso e gozavam preguiçosamente. A campainha. Oh, que surpresa! Atendi a porta apenas de cueca como de costume. Eu morava sozinho e isto nos permite pequenas liberdades. Não se incomode com a gente, você está na sua casa! disse um deles quando me viu constrangido. "Sim, eu sei que estou na minha casa e vocês deveriam estar na de vocês se amando tediosamente!" Percebido o descontrole me desculpei imediatamente. Desculpas pelo o quê exatamente? Perguntou o outro. Fui grosso com vocês! -Sim, você ainda não nos convidou para entrar! Com um gesto convidativo fiz parecer que eram bem vindos.

De fato eram bem vindos e eu deveria estar enlouquecendo ou pensando alto demais. Era o nosso sexto encontro, mas agora participávamos de uma intimidade fraterna, seja lá o que isso signifique; uma intimidade fraterna a qual me permitia andar de cuecas como se eu estivesse sozinho, mas que não me permitia manifestar a minha paixão; que me permitia abraçá-los, no entanto, a qualquer sinal de endurecimento, deveria me afastar. Por que a gente não fode com os amigos? Ainda mais quando não são tão amigos?

Veio o sétimo, o oitavo, o nono... uma classificação, uma corrida de cavalos, de fórmula 1, os nossos encontros, os nosso dias em que ao menor sinal de endurecimento me afastava; ao menor sinal de ciúmes dissimulava no rosto “está tudo bem!”; ao menor sinal de pensamentos que me envolvesse de quatro com algum deles ou com ambos, embotava-me castrado. 

Existiu o encontro. A campainha. Era pra lá do sei lá que número de encontro, mas sabido era que meses havia. O vinho habitual, o assunto de sempre, o beijo de ambos disfarçando a falta de assunto. Pus-me no meio, com a língua serpenteando por entre as suas bocas que ao perceberem a minha se afastaram e me olharam... Podia sentir a taquicardia nos meus lábios. "Meu Deus, o que eles estariam pensando?" Logo abriram um sorriso e quando percebemos estávamos nus na minha cama. Existiu o gozo. Existiram vários gozos até que preguiçosamente nos mantivemos inertes por algum tempo; o da esquerda abriu a boca, achamos que você não estava afim de nós? “Oh, que surpresa!” Não exclamei, mas o meu corpo sentiu a surpresa. Só estava com medo. Puseram-se a rir o casal irônico. 

Em seguida o da direita: é que geralmente fazemos isso: conhecemos alguém por “coincidência”, ficamos amigos, insistimos nessa amizade até que o outro nos deseje numa festinha juntos, aí o abandonamos. 

- E vocês me abandonarão?

- Claro que sim, somos um casal e nos amamos muito!

Até que foram novamente embora e não existiram mais encontros.

Álvares de Azevedo

Nunca eu.
Sempre o outro usurpado.

Sou advogado
Sou cozinheiro
Sou puto
E até me arrisco no padê

Sem nunca ter advogado, dado banquetes, lucrado com sexo
ou me escondido por trás
de dunas de sal.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Mamão papaia


I

Será de sagitário?
Meio homem ou meio cavalo
O que atrás de mim
Se percebe
E me põe arrítmico?
a pulsação e o pensamento incontidos,
as veias dilatadas
o estômago em pontadas...
e você nem imagina.

II

Claro,
Você só pode ser de sagitário.
Porque do contrário,
Como poderia meu corpo
Reconhecer amor em si?
Eu, que amo tão limitado,
Por ser condicionalmente limitado,
Como poderia?
A não ser que seja irrefutavelmente
Sagitariano,
signo de homem-cavalo
dialética infinda entre corpo e razão,
como poderia?

III

E você nem imagina
Das fantasias tecidas
Das elucubrações divagadas
Entre céus e terras
O inferno que nos testa
De paisagens verdejantes e áridas
O abundante e o outro também abundante
Porque é da tua pele e pelo
A que me refiro

Teu corpo
Onde não habita a escassez

IV

Fluido e enérgico
Leitoso ou lacrimoso
Verte de si
Tudo aquilo
Que me brota

V

Soubesse
Que estes versos em você são brotados
Insurgiria por entre suas cobertas
Revelando o seu signo.

VI

Não mentirias mais
Seu signo verossímil

VII

Nem imaginarias de outra forma
O signo que deposita sobre seu sexo
Ou entre as dobras das barras
Do seu calção mamão papaia
Que entrecorta suas pernas peludas
E seu all star botinha branco encardido

VIII

de que lhe interessa?
Porque a mim muito me interessa.
Interessa revelar-lhe o meu amor
Ainda que velado entre as suas dobras
De silêncio e distância mamão papaia

IX

Mas que diabos seria a cor mamão papaia?
Cor primária contrastante na sua pele
Ou cor de esmalte tendência comercial para o próximo semestre?

X

As minhas unhas pintadas de mamão papaia, a fruta.
A que repartida me lembra do inverso de uma buceta,
Negros pelos de margem e seu meio rosa avermelhado,
Mamão papaia,
Sua suculência entre os meus dedos.

XI

É desta cor que seu calção fala?
Da cor que se abre e recebe?

XII

Isso tudo me põe confundido,
Porque também suponho que esteja.
Centauros, mamão papaia e buceta
Põe qualquer um confundido.

XIII – epílogo

Mamão papaia,

é de corpo de homem que falo. Do seu corpo que é o meu desejo, mas desejo, por ser complexo demais, foge-me sempre a imagem; e por isso ainda mais é o seu nome e seu signo o meu desejo. Transformo tudo em prosa, pra ficar feito carne picadinha em cubos, tudo explicadinho, sabe? Para que, por uma vez por todas, saiba do meu amor por você... se falei em buceta e não cu de homem, perdoe-me, buscava uma imagem para a cor do seu calção mamão papaia e buceta foi o que mais se aproximou... sabe como é, dos cus que vi e lambi por ai, a maioria é arroxeado, como se se recuperassem de uma porrada...

Viu só as divagações tantas... mas maior é o seu silêncio, aposto!

Com amor, 

Mamoeiro.


domingo, 29 de junho de 2014

fragmento

(...) 27 de junho de 2014 (...)

Passado o primeiro momento de raiva, em que num impulso vi-me com as mãos no seu pescoço, recuperei a sensatez, enquanto estatelado no chão você recobrava-se da asfixia. E o perdoei, com o coração doído, as lágrimas brotando despretensiosas, eu o perdoei, mesmo sem saber da verdade, aquela que por medo você me escondeu (...)

sábado, 28 de junho de 2014

quinta-feira, 19 de junho de 2014

fragmento

(...) Novo. Que novo o que? É velho. Muito velho. Data de uma coisa muito antiga, antepassada. Conservado, sim. Bem conservado. Vapores de naftalina, balas de halls. Cheiro de mictório conservado nas narinas. Hálito disfarçado. É para afastar traças, percevejos, fedores... escrito na embalagem ou nas estrelas. Beijo gostoso, sabor de Cherry-strawberry Lyptus. Refrescância imediata. Coisa importada. Coisa importante para um sexo oral. Isso, a língua em volta da glande como a revista feminina ensinou: 10 passos para um sexo oral perfeito no dia dos namorados. Vende que nem água. 10 passos para tudo o que você imaginar, e se não constar, entre em contato com o nosso editorial, providenciaremos uma matéria super hiper mega interessante.

Imagino quem obrigado escreve; quem compra por livre-arbítrio isso e rio. Só não rio de quem está ganhando dinheiro (...)

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Apenas preferências

você me dissera ser lésbica,
eu lhe dissera ser gay

Digo-lhe:

eu, caralho
você, cona

Fragmento: diário de bordo em Laguna

5 de junho – Fragmento

(...) Melancolia! Abalável! Chove ininterruptamente em Laguna, diz o homem do tempo. A cidade se encharca. Em resposta, encharco-me também. Melancodesço, se é que existe uma palavra para o estado de tornar-se melancólico. O fato é que hoje não se poderá avistar o céu além das nuvens que o nublam e o acinzentam. Há nuvens sobre mim e todos. Só me resta pensar e cair numa rede impossível de não ser. Trafego médium sonâmbulo pela sobrevivência. Aos 24 anos de idade eu ainda não sei o que quero da vida; percebo que nado inutilmente e piegas contra a corrente (...)

(...) sei lá que dia é hoje... mas amanhã é 30 de maio de 2014. Tive que ir para o dia de amanhã para saber que dia é hoje, veja só?!!! Meus olhos estão cansados como o meu corpo e a minha mente principalmente. Um cansaço de eras, de antepassados também cansados. Se existe a genética, não deveriam ejacular os cansados/ não deveriam procriar os cansados/ os cansados geram filhos cansados. Aqui estou eu, 24 anos de indecisão. Minto! Talvez 4 anos de indecisão, de não se saber ser... aceitar a vida é muito difícil e é enganoso tudo isso (...)

(...) louvável é o gesto. Mas só o gesto. Perguntam-me os contentes: mas o gesto não é suficiente? Não, não é suficiente... quero as tramas em fios de ouro, a abundância, a adoração de Baal, o paganismo reavivado (...) Sou pagão,
Quero de tudo na terra
Quero de tudo pós-morte
(...)

(...) 12 de junho. Placas bacterianas visitam o hospital. Suas mães e seus bebês contaminados visitam o hospital, o tal hospital de Caridade Senhor Bom Jesus. Apesar de não ser cristão, todas as vezes que estou na espera da emergência para ser atendido, olho admirado para o quadro de Jesus. Singelo como um franciscano, Jesus pousa numa túnica lilás, olhos azulados, tez branca, padrão de beleza europeu. Jesus emoldurado me conforta. Mesmo que a garganta lateje, as emergências aumentem a cada ambulância que chega, não me importo, sinto-me reconfortado dentro da minha miséria. Mas vou falar da boca de Jesus agora: sua boca rosa tendendo ao roxo, efeito de umidade e luminosidade no lábio fino inferior; boca feita de tamanha harmonia e tão real que penso em beijá-la. Arrastar aqueles bancos com cadeiras grudadas que nos obrigam a sentar do lado de outras pessoas, até de baixo do quadro e num momento de febre e delírio, beijá-la; ter meus lábios rejubilados na graça dos seus lábios, Jesus, e esquecer a miséria, os bebês contaminados e a mulher que chegara com o policial para enfaixar o braço quebrado pelo marido e que por culpa de uma triagem ridícula, sofreria por mais algumas horas. Sim, deixar-me impotente na miséria, mas em seus lábios, Senhor (...)

(13 de junho) agora é noite. Queria ter falado do dia enquanto era dia. Agora o dia passado é só lembrança. O cara do tempo disse que o índice de umidade em Laguna para hoje é aproximadamente de 95%... cara, diga lá, por que nunca com certeza 95%? Sempre aproximadamente para tudo. Quê que há, não se garante? Digo-lhe apenas que com certeza, fez-se um lindo dia hoje. Sol de inverno, céu azulado, mas muitas roupas e calçados lavados que não secarão. Perdurarão úmidas, com certeza nos seus 95% de umidade, por muitos outros longos dias (...) No finzinho da tarde
Recolhe a minha roupa
Jogue-a sobre a cama
Simplesmente a jogue pela e sobre a cama
Não se preocupe em dobrá-las
Deixe-as amassarem
Contando o tempo e os dias
Que estarei fora
Quando voltar
Eu passo e dobro
Mato os fungos, os parasitas
Com vapor d’água.
(13 de junho de 2014, sexta-feira-feita-feriado)
Santo Antônio que me perdoe arrancar-lhe seu filho
Num aviltamento colérico
Porque o que eu desejo
(...)
- o que eu desejo beira ao ridículo!
(...)

argumento para um filme

Nós que somos muito livres
Faremos o que com os muito presos?
Nos trancaremos em nossa liberdade
Ou nos libertaremos em suas prisões?

Optaremos:

À barricada soerguida
Com móveis arremessados das janelas,
O coquetel Molotov junto ao corpo:
A nossa liberdade incendiária?

Optaremos:

Às grades em nossos portões,
O Ferro a listrar nosso olhar,
Uma Arquitetura feita para o deus Medo:
A nossa segurança enclausurada?

Optaremos

Claro, o mais fácil, por favor!
O melhor com o menor esforço.
“Toma esse suco mimimi de laranja,
Enquanto estouro a pipoca
E vamos pensar um filme.”

sábado, 7 de junho de 2014

fragmento

(..) Ele retornou. Disse que está arrependido e que me quer de volta. Que o que ele teve pelo outro foi apenas uma admiração momentânea que tão logo se tornou inexpressiva. Botou a culpa no álcool. Da noite que passaram juntos recrudescidos pelo álcool. Mas já não era a primeira vez que isso acontecia. Disse-lhe, por qualquer um põe-se admirado porque gosta de se apaixonar. Não duvido que enquanto te fodem, você não pede para que te fodam com mais força até que goze e exprima toda a sua admiração num eu te amo efêmero. Dândi? Hedonista? Porque também já fui efêmero, entenderei a sua efemeridade, abrirei meus braços e o receberei novamente. E o amarei não como um traído, orgulhoso de seus princípios inflexíveis; o amarei simplesmente pelo ato do reencontro (...)

quarta-feira, 4 de junho de 2014

eu fico sendo você

Um dia uso os teus pertences
e fico íntimo de ti.
Fico sendo íntimo de mim
na trama dos teus lençóis
assim que tu te ausentes
logo que resplandeça a luz.

Tomo conta da tua casa.
Espano o pó dos bibelôs.
Os mais bonitos vão para o bolso.
Imagino que ficarão interessantes
na minha estante.
não, não é furto, é lembrança de turista.

Começo a fumar o teu cigarro
pra saber o gosto que tem na tua boca.
Terá o mesmo na minha?
Ou terei um pouco da tua boca na minha?
Ou terei minha boca transmutada na tua?

Para isso servem a escova de dente,
o fio dental usado e reutilizado por mim.
Tua camiseta do avesso lançada ao chão
com o cheiro de suor permanecido nas mangas.

Essa obsessão de narcíseo amor,
faz de mim imagem masturbatória
de te ser,
ainda que nas tuas aparas, nos teus restos
no teu pouco descartado.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...