quinta-feira, 4 de abril de 2013

Heartbreak changes people

Punha-se a cortar cebolas e chorar por horas a fio. Quando acabavam as cebolas, guardava em recipientes de plástico e congelava. Deitava-se. O dono do hortifrúti, nos primeiros dias, assim como seus familiares, deteve-se distante com suas opiniões. O verdureiro nunca havia vendido tanta cebola, seus familiares entenderam como uma fase pós-traumática de separação. Ele tinha sido largado pela namorada por um vagabundozinho da faculdade, por isso lhe concediam o direito de sofrer picando cebolas. Com o passar do tempo, tudo começou a parecer extremamente mórbido e constrangedor. Voltava da feira com sacolas de cebolas para picar e réstias de cebola envoltas no pescoço. Logo já não havia mais lugares nas paredes que não tivessem réstias penduradas. As roupas, desde os cobertores às roupas íntimas, estavam impregnadas do cheiro. Sua mãe praguejava, mas mantinha o humor temerário, gritando: meu filho, aqui em casa não criamos vampiros! Até sorria espremido em lágrimas, continuando seu ofício. O verdureiro, certa vez, deu uma sugestão: meu filho, porque não leva tomates e faz um bom molho ao sugo para comer nhoque no dia 29, traz muita prosperidade, sabia? Jogou um olhar esnobe, pagou pelas cebolas e voltou a cortar cebolas. Sua vida resumiu-se a isso, e cada dia tornava-se mais íntimo das cebolas, mais íntimo do seu abandono, mais próximo de parar de chorar. Tinha se resolvido. No fim, viajou o mundo, fez cursos de culinária, tornou-se reconhecido mestre de cozinha. Achou um novo outro amor, e pelo antigo nunca mais sofreu.

terça-feira, 2 de abril de 2013

sábado, 23 de março de 2013

Trecho rascunho de 2010

A gente se fala mais amanhã e depois e depois e depois até um se apaixonar completamente um pelo outro

Uma carta para a páscoa

Meu pai sonhou que me batia com murros de homem possuído de raiva. Disse que queria me dar uma lição, me fazer homem, me por de cara a cara com o mundo. Oh pai, por que tanto amor? Por que não me ensinas de outra forma, de forma menos agressiva? Será que sou tão burro e grosseiro com as coisas do mundo? Será que sou tão orgulhoso? Estar sozinho é tão bom, mas ser livre fere o corpo de orgulho. Escrevi outro dia isso e achei tão belo e honesto comigo mesmo. Parece finalmente que estou vivendo com honestidade, e todos os meus pensamentos estão voltados para a verdade e generosidade. Dou pão d’água, dou copos d’água, dou água, dou veios e rios, dou cascatas e gotículas, sou vertente para todos os homens e animais. Passo a mão em cachorro perdido sem medo da sua bocarra e me sinto homem sem medo das coisas do mundo. Então, por que me bateres tão forte assim, se me dá exemplo sendo homem? Homem de verdade, encarquilhado de vida e força? Homem que nos dá de comer todos os dias, e mal ou bem, me alimenta de amor. Então somos uma família como qualquer outra, construindo e desfazendo nossos laços cotidianamente porque precisamos partir constantemente para ganhar a vida, para sermos nós mesmos, para sermos diferentes de tudo, para sermos puro amor e carência alcoólica. Quero abraços e beijos, e quero um corpo do meu lado, quero a minha irmã deitada sobre mim delgada de sentimento puro, chamando-me de mano, dizendo que só quer ficar comigo pelo resto do dia, cheios de preguiça e ternura. Então, ela me pisa as costas doloridamente alegando que é massagem. Sim, é massagem, é massagem de pés, de pezinhos infantis; são pezinhos me tirando os nós e as mágoas pela manhã. Melhor que café na cama, são os pezinhos da minha irmã. Que coisa angelical, que coisa abençoada, que coisa de Deus. Minha tia sempre fala para minha mãe: tens filhos abençoados. A mãe brilha os olhos, e isto nos acalenta de tal forma, que impossível é não responder, sim tia, temos a melhor mãe do mundo, que nos quer bem, e que bem ou mal, prepara a comida, e nos abastece de amor. Ah, como é bom ter uma família de verdade! E só um grande AHHHHH pode explicar o que sinto e o que tenho. Só um grande AHHHHH pode anular nossos vícios e nossas maldades que nem são tão más assim, mas que poderiam deixar de existir em prol do amor, do nosso amor familiar. Ahhhh, mais um ah e mais uma digressão para este texto de páscoa que quero ler pra toda a família no próximo domingo. E dizer que amo a vó, o vô, os tios, as crianças e todos os que me cercam e nos fazem bem. Tomar café com vocês, rir das coisas engraçadas e tristes, ficar horrorizado com as faltas que marcamos quando deixamos de beijar, de abraçar, de nos comunicar. Certamente, sem vocês, eu não seria eu e ninguém poderia sonhar com viagens, muito menos batizar ou casar de vestido branco e comer bolo de noiva. Bolo de noiva, bolo de aniversário, bolo de vida, ovo de páscoa. E a única coisa que tenho para dizer, é que partilhar minha vida com vocês é tudo, e que quero amá-los todos os dias. E que todos os dias antes de se levantarem, lembrem que não é preciso ter medo de viver, fazer escolhas, e principalmente, não tenham medo de amar.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Mas ser livre fere o corpo de orgulho


A claridade é insuportável aos meus olhos. Lusco-fusco. Estrelas desorbitadas. Rastro cósmico de verdades que não aceito. Estar sozinho é tão bom, mas ser livre fere o corpo de orgulho. Surgem marcas excêntricas de velhice, feridas de desconsolo. As roupas mudam, o bigode cresce e se implora por Deus pela a restituição da juventude. Mas eu quero ser velho, meu Deus! Tão velho quanto meu avô. Participar de excursões, conhecer o planeta de cabo a rabo, fumar cachimbos fedorentos, e beijar as crianças generosamente com a barba lhes espinhando a face. Ah, como o tempo futuro pode ser tão bom! É como uma dádiva isto, conseguir frescor nos dias cinza mais que nos ensolarados, porque sentir frescor em dias de luz é muito mais fácil e por isso às vezes não conta. Questão de maturidade. Certo dia, li uma reportagem sobre uma mulher com câncer em tratamento: senhor, como uma doença pode ferir tanto a vaidade de alguém? E como alguém restabelece sua beleza estando tão próximo da morte? É para se agarrar a vida ou para morrer menos feio? Quantas estultices eu levanto nestas perguntas, se sei a resposta. Deveriam me punir por enfiar os dedos em feridas estranhas. Grande metido que sou? Claro que não! É só a vontade de ser melhor a cada dia, e ficar velho cheio de sabedoria e amor.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Cena

Isto um dia lhe quebrará os ossos.
Estas maquinações megalomaníacas
e seus pensamentos intrínsecos
como se o surpreendessem chupando pirulitos em público,
ou se o vissem de calças baixas no banheiro.
Ou ainda pior,
sua mãe lhe pegar se masturbando:
já pensou a vergonha?
Ela apavorada
Você,
de pau duro e boca seca,
Ambos ardendo de vergonha.

Quase como a história do personagem que cortava cebolas e chorava compulsivamente

Estou consumindo caquis-café e a lhes tirar suas sementes há horas. Fruta tão libidinosa e madura. É como tirar os pentelhos da boca quando se beija o outro sexo: apesar do contratempo, não se anula o prazer sentido. Como caquis-café. Como compulsivamente porque gosto de pecar pelo excesso. Quando faço qualquer coisa, faço com muita vontade e realização na busca exclusiva do prazer que se tem quando se está entupido de excesso. Então vão todos se deitar com os buchos cheios de comida, os intestinos febris por receberem o quimo não transformado em quilo. Daí que vem a ideia de que o prazer é mais psicológico do que qualquer coisa. Pura enganação. O prazer vem de fora para dentro. Vêm das coisas do mundo para tapar nossos buracos, mesmo isto soando extremamente sexual. Mas, quem no mundo não possui uma prateleira vazias que lhes enoja? Põem-se livros ou lembrancinhas de R$1,99 para mandar o vazio a merda e assim transcender em gozo. Por isso como caquis-cafés em compulsão, pelo único prazer de cuspir as sementes, tirar os pentelhos da boca, até que me encham a boca com outra coisa, porque vazia ela não se sustenta.

Poesia em dia de chuva e contentamento

Meu não é sempre não
mas meu talvez é sempre
sim

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Garçom, sirva-me com prontidão

Matei o medo covarde com covardia. Três balas de menta e alguns parágrafos de digressões, por favor! Garçom, meu sintomático garçom, traga-me a cerveja mais barata e uma dose de conhaque sem gelo, por favor. Meu sintomático garçom, abaixe suas calças e me coma sobre a mesa na frente de todos aqueles que se permitirem ver, e que todos se excitem concupiscentes do meu gozo. Garçom, sirva-me com prontidão lasciva e pervertida, como quando se brinca com cenouras, cabos de guarda chuva e escovas de dente. Risos de perversão. Risos de digressões estilísticas. 

Lembro-me da série “Vegetais” que vimos no sex shop, ma chérie. Seria hilário e sexual brincar com eles agora. Retirá-los da geladeira fantasiando sobre suas diversas funções. É como ter afeto e sexo cheio de amor próprio, sem se envergonhar das posições escabrosas feitas para adaptar o corpo ao objeto. Garçom, um pouco de lubrificante para o menino ali no sofá... quem sabe umas lambidas, uns ósculos grego, ou uma cheirada parceira de reconhecimento entre os cães. Parceria é tudo! Todavia o desejo em parceria é melhor ainda! (euforia). É quando nos reconectamos a algo primitivamente latente, pronto para transformar-nos numa besta, num animal selvagem, num xamã surpreso de estar lendo A filosofia na alcova. 

E porque tantos traumas: pênis são pênis, vaginas são vaginas, e a sodomia existe desde quando o mundo é mundo. É como andar em pares: desde a Arca de Noé que as coisas andam aos pares, e depois trocam de pares naturalmente. Vicioso ciclo a que nos propomos. Estamos sempre dispostos a dar nossos corpos por minutos de gozo, por minutos de encaixe, pois onde há buracos, queremos preencher ou sermos preenchidos, ou preencher e ser preenchidos ao mesmo tempo. E mesmo quem não gosta de sexo, dá seu sexo em troca de um copo d’água. Mas claro que todos gostam de sexo, pois todos somos pequenas bestas pervertidas capazes de fazer coisas que diante dos pais não faria, ou suporia dizer que gosta de coisas escatológicas numa mesa de restaurante para manter-se elegantemente comprometido com o currículo adquirido. Mas quem realmente se importa? Esse negócio de dama na sociedade e putão na cama pra mim não cola mais, a não ser que seja fetiche de homem machista e contra os fetiches não me pronuncio, desde que todos estejam cientes da situação e saiam da transa realizados. 

Ah! Como é bom escrever sobre sexo abertamente, é como uma masturbação intelectual gratificante, escolher as palavras certas, gemer interjeições e gozar reticências... Mas nada substitui a velha transa: pele com pele e desejo visível em toda sua excitante volumetria e secreção, sem eufemismos ou não me toques, porque, compactuando com a personagem do livro a Casa dos Budas Ditosos, o objetivo da vida é foder! Simples assim!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Matei o medo covarde com covardia

Um pequeno descuido e aquelas coisas poderiam ter me atingido irreparavelmente. Numa velocidade absurda, uma nuvem, destas espessas e cinzentas, trazia tempestades de vento, areia e água, e mais três meninas desesperadas trancadas no banheiro tentando se proteger da possível morte que não aconteceria. 

-Moço, moço, implorou-me por ajuda como se eu pudesse fazer algo. 

Levei água gelada, três copos e três balas de menta. 

- Calma... isso passará rápido, principalmente quando se chupa bala de menta. 

Então, matei o medo covarde com covardia. Com bala de placebo. Água com açúcar, água com açúcar, gritei num fingido desespero, num grito também placebo para que soubessem que também padecia do mesmo mal. Tomei a água açucarada... abracei-as... enquanto no horizonte surgia o sol alaranjado de Blade Runner.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

I

Demorei pra entender que tudo o que se desenrolava era sobre minha pele. Frêmitos, arrepios ou dores no estômago. Até quando nos ferir por egoísmos românticos? Há bebidas alcoólicas, cigarros de maconha e comprimidos de rivotril para aliviar nossas angústias. Já não precisamos mais nos aturar por estarmos apaixonados, pois a paixão se foi como todas as outras coisas. As carícias repetidas, os “eu te amo gastos”, os beijos resgatados, os caminhos re-seguidos imaturamente depois dos olhos piedosos por um “não me deixe!”. Ah, sempre podemos fazer diferente! E vamos adiante, atravessando dias, meses e anos nos querendo e nos desperdiçando porque também não nos queremos, e nos perguntando aonde nos perdemos. 

Até que há novamente o fim, momento tão esperado por todos. Aprontas as malas como se elas aprontassem-se sozinhas, e andassem até a porta por conta. Aí me olhas como um cão faminto diante da tigela, e me pedes mais, e mais, mais, e por pena, tranco a porta, engulo a chave e digo que de mim, não sairás mais.

II 

E por um ano achei que não sabia o que era ser mais. Sendo que fui eu o tempo todo. 

III 

Ah, sempre podemos fazer diferente porque tudo que se faz, faz-se já diferente. Nunca seguimos o mesmo caminho, porque as vias se estendem maravilhosamente diferente para nos confundir românticos diante do espelho. Igualmente a saudade, só aperta quando longe, perto, ela se extingue como o fogo num palito de fósforo. Combustão rápida para acender e desvanecer. 

Mas há algo que nunca muda: os caminhos que se estendem. Só se estendem diferentes para nos confundir românticos pelos outros caminhos que virão. E não é um clichê dizer que a grama do vizinho é mais verde quando tudo o que nos aproximava, lançava-nos para fora do círculo da bruxa depois de gozar. Então, sente-se nojo do cheiro da pele, toma-se banho, troca-se o lençol e tudo que lembre o sexo feito há minutos atrás. 

IV 

Escrevo cartas, porque as idas e vindas tornaram-me uma pessoa mais ponderada. A primeira vez que terminamos, tornei-me um delinquente como todo poeta que sofre de amor: tomava conhaque e uma baga de rivotril, dormia como um cachorro de lanchonete que repousa no chão depois de se empanturrar de frituras. Agora, tomo chá de hortelã, e além, vejo outros caminhos maravilhosamente pertinentes, como sonhar estar acordado, arrumando-se para uma nova aventura, e não ter saído da cama: um ato falho. 


Combustão rápida para acender e desvanecer. Risca-se outro fósforo, acende-se mais um cigarro e espera o mundo transubstanciar-se em espíritos bricalhões para zoar no círculo da bruxa. 

Sinto a bruxa dentro de mim, como quando fiz 18 anos. Mas a bruxa assume outra forma e ganha o nome de filme de ficção cientifica: Alien, o hospedeiro. 

VI 

Sou um homem gestando um Alien monstruoso que devastará horripilantemente a ordem humana. E virão outros, e outros, como as crianças índigo, substituídas pelas crianças de cristal, que vão ao bar vestidos de new agers em busca de sexo livre e bebidas doces. 

VII 

Lindolf Bell já saía com seus amigos, em suas camisas xadrezas e versos filosóficos nos lábios, para melhorar a existência. Torna-la leve e suportável diante às adversidades da rotina dos que sofrem as dores do mundo durante a semana de trabalho árduo. 

-Vamos lá, percorrer as ruas da cidade durante a noite, vamos nos sentir moribundos e vivos. 

VIII 

Fernando Pessoa, também estou farto de semideuses, aí do outro lado você encontrou humanos de verdade? Ou esta minha esperança é mais uma das mentiras do meu século? 

IX 

Chega de falar disso. É como falar de novidades que não são mais, ou comprar um aparelho eletro doméstico que se tornará obsoleto em poucos dias por falta de uso, sem entender então, porque de ter pagado tão caro por algo inútil. Mais do que saber que se pode ter, é saber se é necessário ou não.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...