segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

História Poética II - Espaço



No ponto de partida da dúvida
um espaço que no todo
compreende o espaço,
um tablado onde o teatrólogo
põe suas peças diante do fato.

Há uma rua pela qual caminho
todos os dias, faço-me por merecer
de toda essa quietude que as
persianas abaixadas persistem
em obliterar pequenas loucuras.

Tenho comigo que em algum
dos cômodos têm atores exímios
atuando no ponto de partida da dúvida:
Deixo-a? Fujo? Bato-lhe?
Tomo gim ou uísque? Casa comigo?

E ontem, então, pela fresta vi,

um alcoólatra dar rosas a uma mulher;

algumas damas esperando pelo carnaval
na torre mais alta do moinho;

também, inúmeros palhaços franceses
com narizes de rubro galhofa
apossando-se da pequena cidade
num espírito arrombado.

Todos se cruzam, todos transitam
derrubam pastas, atropelam cães,
e ao acaso dançam no mesmo clube,
só ao acaso bebem no mesmo boteco,
só ao acaso cometem pequenas loucuras.
No embalo, o dramaturgo na sua estréia
como senhor do circo, insiste que
seus palhaços dêem suas cabeças às mandíbulas
leoninas, e num gracejo pedante:

- que comece a brincadeira!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Ato de confissão


O que choca é a essência
esse contato desmedido provido e primitivo
estado fluído de versos de impacto
dispersados de mim
estado fluído de versos de impacto
imanentes em mim
algo de espírito, ectoplasma, anima
entende?

Ser fluido neste mundo é alerta de perigo
porque dentro o conteúdo transborda 
fora, nada contém o conteúdo
e as vidas se dispersam por covardia.
as verdades se anulam e se destituem
e o que é singular se abastece de si
vivendo de si mesmo numa breve revolução pessoal.

Depois  disso, Clarice Lispector tem toda razão
o adulto é triste e solitário.



sábado, 13 de fevereiro de 2010

A Palavra se fez carne e habitou entre nós



1

A Palavra quando se fez carne
e construiu seu templo abstrato no deserto
falou primeiro ao poeta, o mesmo em si,
em rompante de excentricidade criou o arcano
do verbo.

2


O Poeta quando se fez palavra
e primeiro letrado emocional
tornou-se num sacrílego,
escriturou depois do teti a teti
um amor subversivo
e todos os herdeiros e suas cromossômicas letras
hoje padecem da dor do não amado.



Lábios devotos debruçados sobre a fôrma alfabética,
a Palavra de tão forte
foi ao mundo dos cegos e surdos e leprosos,
escancarou com túmulos, chegando
onde o poeta e seu prelo não ousam proximidade.
Todos, então,
daqui até a travessia da linha do tempo,
aprenderam uma linguagem equivalente
e inexpressiva destituída de sentido.

4

A Palavra quando se fez carne e habitou entre nós,
sabia que de todo não era tão imbuída de importância
e que sua estadia na Terra seria breve
sabia que as dores e alegrias poderiam ser expressas
por lágrimas e sendo assim se fez dispensável.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O que satisfaz e enjoa



Vou comunicar minha verdade:

sou sua novidade.
E se de cá adiante ali
me torne sua reincidência
se destitua de mim,
porque só sirvo ainda fresco e mal passado.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Buroamor

Buroamor é um poema lá de 2008, pelo menos é como está arquivado na pasta dos meus documentos. Tal como o poema Mudança, este continua sendo muito significativo pra mim. Bom poema.

Não deveria ter dito que te gosto
por que quando disse,
inevitavelmente assumi o compromisso 
em ter que te gostar.

Minha palavra quando proferida
se torna lei, fato, concreto-armado,
e me rendo a ela com devoção,
ajoelho-me diante dela para que
me açoite.

Não deveria ter dito que te quero
por que quando disse,
inevitavelmente assumi o compromisso 
em ter que te querer.

Minha palavra quando proferida
é bem inalienável, vibração mentirosa,
porém, que como ferida de sarampo
adquirida durante a infância, perdura
por toda sua vida, mesmo que porventura 
venha a se ocultar debaixo dos seus pêlos.

Agora, temo dizer que lhe amo,
Temo por que dizendo... 
Temo, e temer é atestar com letras
de imprensa no meio da testa 
que lhe amo, pois segundo minhas
teorias psico-psicanalíticas-de-botequim
temer que determinado sentimento se manifeste
é basicamente afirmar que você já o têm sentindo,
já o têm enraizado, já o têm pendurado na 
sua garganta

e que você quer exteriorizá-lo 
pois que esse segurar-se já lhe
põe dores nas juntas;
pois que esse abster-se já lhe
têm deixado muitas noites acordado,
muitos dias acordado pensando no porvir da noite 
na qual, por mais uma vez, não conseguirá dormir.

Eu o amo
e escuto uma canção em francês,
e passo a amá-lo definitivamente

agora

agora que disse
agora que o momento passou a existir.

domingo, 31 de janeiro de 2010

I'll come

1-
O homem ereto
Pose straight
Imóvel falo criador.

2-
Seios in homem
A antagônica forma
De ser andrógino.

3-
Quem sabe três?
O seu indicador
O médio dele e o meu anular.

4-
Nós fazemos a forma
Assadeiras complexas
In that position.

5-
A língua
Musculatura miraculosa
cursando outras contrações.

6-
The decision?
Are you passive or active?
I’m versatile.

7-
A conquista da versatilidade,
Abra-me
Introduce me your words.

8-
Meio grotescos
Nossas formas
Dois homens e seus pênis eretos

9-
A iniciação of pleasure
Sêmen irrequieto
Sobre minhas costas vergadas.

10-
Voltamos ao UM
Circunferência que circunda
Ofegante o objeto do desejo.
Stick in ass
I’ll come.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Derrames





Se soubesse que te traio pelo cheiro
e pelo nariz vou sentido peles estranhas
mesclando-as ao meu faro
consumindo-as num contato lépido e displicente
forma de vazar meu desejo pelos outros
sem que o note.
porque meu desejo é sempre mais que um
e o meu amor aspira compreender
a totalidade dos homens.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Poesias de Transfiguração





Ano novo, template novo. Na verdade não sei se mudei devido ao ano novo ou as circunstâncias decorrentes. Para cada mudança, milhões de imagens e idéias se mesclam, sendo que muitas vezes o excesso me restringe e me deixa agressivo, arredio e dissonante até mesmo com as pessoas que convivo e amo. Abaixo projeto novo, chamado
Poesias de transfiguração, aquele que na segunda feira quando cheguei de viagem me tirou do meu centro. Peço desculpas a ti, meu amor e aos outros leitores boa sorte na leitura.   
Quando souber do resto, te digo.
te amo.


Poesias de Transfiguração

É sempre pela manhã minha maior carência
falta permanente nos
abraços que se apagaram durante a madrugada
e que nunca se restituirão.

É sempre pela manhã o desenlace
a imponência do sol trazendo todo
seu tépido despertar
maldita novidade da qual só eu participo
essa que me acordo
proclamando-me outro
como nascer e morrer sempre
e nisso tudo não ser ressurgido
é outro corpo: matéria transfigurada.

É sempre pela manhã que me entrego à luz
nasço com os olhos espantados
narinas excitadas

na boca,
o deguste da subnutrição.

Cresço rápido
e sendo tarde já estou prenhe de mim
sendo noite, volta o enlace,
readaptação no que você dita
e sem tempo, sem tempo, sem tempo
ter hora exata para morrer
sendo puro esquecimento sem nunca ter sido lembrança
só a descoberta triste de nunca ter tido pai.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Estética poética




Um bom poema
nasce de outro poema
não nasce do nada e nem das coisas
Não nasce de existências astrais
não participa de outros mundos
que não o da palavra
Avesso, é avatar terrestre incumbido
de códices, index e emoções
que se espiritualiza e intenta ao céu;
céu feito de gente servida de buscas
postas em badejas de papel.

Palavra nasce da palavra
e uma letra dá a mão a outra
como átomo que se encaixa a outro átomo
e dança ciranda,
ora em roda, ora em fila
e vai-se embora,
fingido de morte
no sentimento alheio.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...