domingo, 27 de setembro de 2009







II

Porque me aliciava as suas palavras como a um exército empunhando bandeiras. Abríamos pântanos e brejos, cheirávamos a lodo. Resumíamo-nos na confissão de um amor sujo que sobre o piso contata e assenta.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

.fura o dedo faz um pacto comigo - artigos

Quando surge a necessidade,
fazemos por onde,
criamos.

O Blog .fura o dedo faz um pacto comigo pretende ir além, para isso surgiu a necessidade de criar mais uma página (blog), no qual pudesse postar artigos acerca de observações feitas por mim no campo da poesia, sua construção estética e afins.

a poesia ainda pode libertar os escravos

Espero que gostem.

Link para o artigo:

terça-feira, 25 de agosto de 2009


I
Rendia-se ao sofá desbotado numa espécie de auto-indulgência, amarrava prazeres. Compôs, resvalando sobre o púbis, a promessa do toque que justificasse o gozo. Lambia-se os lábios e nos olhos se via refletir o brilho amalgamado de ardores, vislumbres e pequenos delírios.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Um por sessenta, por mil

Eu só preciso de um segundo,
desses que são divididos por mil,
que perduram o abraço, o beijo, a reza.
Um segundo que em cada milésimo
houvesse a infinidade de tudo o que é
limítrofe em nossas vidas tão fissionadas.
O segundo que minha’lma busca
na brevidade de uma pausa consentida
por um enredo-amigo sabido:

-Não fales, nem gesticules,
poupe-nos o segundo,
registremos apenas o
instante,

a
s
s
i
m
pendentes.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Poema Qualquer – II

a H.
- bonito, mas tem preferências erradas.
Constrói castelos, é mais gostoso.

Uma pedra arremessada
no céu da boca
eclodiria em castelos do avesso.
Sem saber, vendaria teus olhos
e o faria subir a torre mais elevada
para como num beijo
repousar sobre minha língua.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Poema Qualquer

Um sopro
na tua boca
inflaria teu mundo
num enorme balão de gás
que alçaria vôo
para além céu além
e entre pássaros te encontrarias
pairando sem asas, declaradamente louco,
e em tua loucura devolverias meu sopro
para subitamente cair, cair, cair, cair, cair...
Preferível, mesmo, é não amar.

domingo, 2 de agosto de 2009

fura o dedo faz um pacto comigo

Mudança de planos e de comportamento, a infinita mentira do ser
começa a se tornar apenas um mero arquivo morto
e pede aos leitores que não morram, eu sei, será difícil... mas controlem-se!
A INFINITA MENTIRA DO SER dá lugar ao Fura o dedo faz um pacto comigo.
Confesso não saber o que mudará, talvez só o nome e o template, mas quiçá seja o ponto de partida para algo completamente novo.

Deixo a todos que leram este blog até hoje o convite para continuarem me visitando no
e um poemeto

Porque só lembro-me de ti
Quando minha mente o nega estranhamente
e já sem recordações.

Transladar

Transporte.

É entre o ir e vir e continuar em outra condição.

Partir é fundamental.
Deixar um arquivo morto,
um portfólio do que já fui.

É quando já não quero nada
mesmo sendo o nada
e sua contraposição do tudo.

Aqui

não cabe nada do que eu não seja hoje.
Poderão vir batidas na porta de amores que um dia se foram.
Hoje sou eu quem parto,
hoje sou eu quem vago.
pois há uma correria pelos corpos
nos quais não comportam datas
ou promessas responsáveis.

Experimento.
Permito-me ao novo
mesmo temendo e denunciando
no semblante da boca,
o medo.

Anuncio
-Partir é fundamental.
Queimar as fotos e mudar de hábitos
embranquecer o luto
e deixar senão o esquecimento do ontem.

sábado, 1 de agosto de 2009

Epigrama nº 03




Cobrirei teus olhos com promessas de pura luz
e em ti verei tuas pupilas se contraírem
receando a recente descoberta da cegueira.

Restar-te-á meu tato e nele virás te apoiar:
sou tua muleta
teu Jesus
teu mestre
a evasão do teu mal
na redenção do teu caos.

Porque sou teu credo já esquálido
teu deleite em concordata
tua papila não degustada
tua surpresa acobertada pelo tempo
e o universo de possibilidades
para tua salvação.


(...)


Amo seu estado de Asceta.
Esta sua postura arcada
sobre seu próprio umbigo
que parece pronto para mudar o mundo
no simples fato de fechar os olhos
e achar seu eixo nos seus mudrás.

Você, meu Mahatman Gandhi
que me tira o que não tenho
que me põe debaixo desse seu manto encardido.
Mas, se você soubesse que
É bem pouco o que eu quero de você
– e que nesse pouco ainda caberia esses seus jejuns
extenuantes de sexo e comida e esses seus votos
de silêncio, que violentam seu próximo falastrão –
se você soubesse
partiria o teu mundo em dois
uma parte deixaria de resguardo como a uma parturiente,
e a outra, sim, a outra...

- O que faria, baby?

Arremessaria,
porque minha humanidade é limitada
e minha subversão é máxima.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Somatório

Dois para frente
+
Três para trás
=
Retrocesso...

I Returned Again – Parte IV


Whistler - Arranjo em cinza e preto nº 1 , 1872, Museé d'Orsay, Paris.

É um pouco do resto e um grande tanto de
dois para frente e três para trás:
dois punhados de idas e três de vindas.
Uma valsa armada,
dois cavalheiros e três damas;
duas vistas e três piscadas retribuídas.

Sim, só os feios amarão?

Giram o salão e sorriem, porque há uma vida pulsando.
Uma jovialidade inata no rosto dos pares
e o mesmo passo repetitivo.
Dois passos para frente e três para trás,
uma rodada na saia e um estalar de lábios;
dois beijos no rosto e três escapadelas
pelos fundos do salão.

É um pouco do tanto de nada que tenho suspenso em fios:
Lembranças das danças;
do chão de taco envernizado;
das damas em seus vestidos de cetim;
dos cavalheiros e suas camisas sociais ajustadas ao corpo
e dos gestos previsíveis das mãos que de estúpidas
elevam-se aos ares e nele se enchem de ilusórios
fragmentos daquilo que poderia ter sido.

Sim, só os feios amarão?

Na perspectiva que escorre dos quadros
não há retoque para o que se decompôs;
de todas as tentativas foi como ter arremessado
um balde de tintas;
nas mais promissoras
mudei o tom dos brindes dispostos sobre a mesa.
É como se a mãe de Whistler trajasse vestes em rosa
e no rosto espantasse a velhice.

Sim, só os feios amarão?

Algo lhe denuncia que mudou,
já não se repetem mais os passos de valsa
nem se escuta as composições de Tchaicovsky como antes.
Então, sigo nessa marcha de pequenos retornos,
porque, por algum motivo, sempre acabamos voltando.

domingo, 12 de julho de 2009

As Certezas - Parte IV

É aqui que a ampulheta vira
trocando a noite por brechas de
luz.

Algo, sem vontade,
fica para trás e retornar se faz impossível.
Um poema que incitava versos certos,
termina sem fim, inacabado,
e um poema inacabado é como
um poeta que morre e deixa como herança
qualquer linha sem real importância.

Um poema fracasso.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

As Certezas - Parte III

O certo mesmo,
é que as certezas são incertas,
casuais e imprevisíveis porque se adiaram
por mais um dia.
Risco no meu calendário
de vermelho,
contabilizo menos um.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

As Certezas II

Pior que a morte,
só a certeza da morte,
a certeza ainda em vida que
não tarda a morte a nos arrancar
este aglomero de pele.

A certeza do passado,
do tempo,
dos dentes de leite,
da menstruação,
da unha,
das pregas,
dos intestinos,
da próstata,
da mama,
da bexiga,
do câncer,
da tristeza,
dos arrependimentos,
dos tapas,
do aborto às idéias,
das dúvidas,
das interrogações,
da dor abrupta de barriga,
do desenlace das mãos para dar fim
à ciranda,
fim à cantiga
sem pedrinhas de brilhante,
sem príncipes
e com meu gato morto à paulada,
e com menos um dia para viver,
porque o relógio já faz prelúdio
à contrição.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

As Certezas - Parte I





Vou comer,
preciso de sal.
Já não suporto mais essas palavras
insossas sobre fundo pardo que é isto.
Isto, que é sujo, impróprio,
indecente; banco de praça de
madeira envernizada, - verniz tênue
como raio e partícula
nessa manhã de segunda.

Largar-me como saca de cimento
ou cal, cinqüenta quilos covardes
para com essas fibras incorpóreas,
delgadas como tripa abdominal,
como novelo que agulhas urdem em meus
órgãos, comprimindo-os:

tenho cólicas com isto.

Cólicas pontiagudas, amiúde estúpidas,
buliçosas; argamassa, rejunte de piso que
espera a prevista dilatação.
Êxtase de só se ser feliz com dor, de só se ser feliz
com faca ou espingarda que rompe
queimando va-ga-ro-sa-men-te,
tão lenta, pois bem sei que é assim
que se morre,

às gotas, aos pinguinhos.

Gotejo todos os dias.
Escôo por meu pênis e ânus;
consinto a partida de pedaços liquefeitos
ou duros como brita.

Morrer é gotejar,
esvair-se em puro descaso,
queimar-se com toco de cigarro,
e deixar que o tempo parta de nós,
que os segundos nos rezem contrições soturnas.

Vou urinar por aqui mesmo
deixar um pouco de mim nisto,
largar meu cheiro como cão demarcando território
escrevendo esta autobiografia fétida cor citrino,
porque fazendo isso, sinto-me menos anêmico,
menos desgastado, menos fadado ao esquecimento,
ao fracasso de nunca ter erigido prédios.

domingo, 3 de maio de 2009

Porque me ler - Parte III

“A nudez é bela, deparar-se com ela é decompor-se. Para o homem não há nada mais inibitório do que ver um corpo exposto e entender que está longe de suas posses.”.

Não entendia por que, mas isso lhe viera à cabeça enquanto voltava para casa num ônibus superlotado com toda a sorte de gente que se podia imaginar. Olhava desconfiado tentando achar naquela situação algum ponto de apoio que lhe fizesse sentido. Analisava os rostos contraídos, a musculatura retesada daqueles que se apoiavam no puta-merda para não ceder aos abalos do veículo; via também o cobrador que repetidamente girava a catraca e contava o troco.

Poderia estar fazendo amizade com esse cobrador, no entanto a primeira aproximação é tão vexatória que preferia bolar diálogos imaginários para não parecer imbecil diante dessas situações que para ele eram as mais estranhas possíveis. Não tinha amigos justamente por isso, porque para se ter um amigo basta se dizer “você é meu amigo”, é como criar laços nunca existentes a primeiro momento, diria que é simplesmente aceitar o próximo como seu amigo antes mesmo deste trocar a primeira palavra cordial de quem lhe conhece hoje.

O cérebro tem dessas coisas, você exprime “eu te amo” e basicamente você passa a acreditar que ama, sendo assim, se houver sintonia entre ambas as partes um namoro pode se firmar em menos de uma semana, o noivado em um mês e o casamento em um ano, do contrário você simplesmente passará por uma desilusão amorosa, dessas que lhe fazem pensar repetidamente na imagem do vilão que não viu suas qualidades e acabou por lhe trair sem o mínimo de compaixão.

Retornava a idéia inicial, o trecho que lera e que persistia intacto. Tentava imaginar todos nus, indo e vindo com seus pênis e vulvas, todos ralhando uns aos outros como se isso fosse normal. Arriscava ir além, e ver seus testículos repousarem no assento. Talvez se estivesse com sua amante, com a promessa do sexo a nudez não seria tão atroz quanto instigava agora. No entanto estava ali, criou o palco onde todos se apresentavam nus e ele o vestido. Não se imaginava sem sua cabeleira ruiva e todos os acessórios que alicerçava um lar para si mesmo, onde poderia respirar sem alteração do fôlego.

Mais uma vez retornamos ao ponto chave: por que se permitia aceitar a nudez de sua amante e sua própria nudez com todos aqueles pentelhos desgrenhados sobre o púbis e negar a nudez dos outros só porque estes não lhe davam a segurança do sexo?

sábado, 25 de abril de 2009

Promessa de Início

Estou cansado
isso já se faz há anos.

Alguém,
por favor me despedaça
ou me despedaçarei sozinho!

terça-feira, 31 de março de 2009

Porque me ler - Parte II


É incompreensível essa sua escrita, no entanto, mesmo assim existe algo que me faz continuar percorrendo essas páginas afoito para saber o que você tem a dizer, como aquele seu personagem ruivo que quando lê a palavra respirar decide assim, inflar seus pulmões até o limite; uma espécie de “faça o que seu mestre mandar”.

Faço o mesmo. Inflo meus pulmões. Passo a mão no cabelo. Como com os dedos. Sou também aquele que se indaga e chora; sou a vítima e também o homicida.

Recordo agora de suas perguntas enrustidas na cabeleira ruiva. Óbvio: de quê nos interessa saber o que é o câncer quando não se têm câncer? É a mesma coisa que acreditar que Nero pôs fogo em Roma ou que os jardins da Babilônia realmente foram suspensos. A subjetividade domina o mundo, mesmo quando a moda era estar com os pés firmes no chão.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Megalomaníacos

Não ter consciência do que se faz, não justifica isenção de impostos. Pelo contrário, na minha megalomania estes serão os primeiros a serem mortos.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Megalomaníacos - Primeira parte (talvez única)

Juntos a mesa redonda, dois amigos conversam sobre suas aspirações em mudar o mundo.

Alto chanceler, começamos por onde?

Matando!

Isso eu sei. Mas começamos por quem?

Primeiro: a putinha.
Segundo: as perdidas.
Terceiro: os que perdem tempo.

E...

Depois o resto. E ah, o resto que se foda no ralador de queijo!


Continuaaaaaaaaaaaa!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Cicugota

Sonho
que entrarás por
aquela porta para me saquear
de mim mesmo.

Sonho
e já transpusestes a porta,
vestia qualquer coisa que lembrasse
um homem, ergueu-me, e que músculos...
um músculo faz falta, um músculo fálico
refletido possesso de gozo seminiferamente
sêmen a escorrer no canto da boca

a escorrer por entre as coxas até os joelhos
até os pés, como que se lavando por inteiro
de um rutilante prazer sintético;
como que se embebendo poro a poro
em cicuta-chilocaínica do velho xamã da tribo
vizinha.

Sonho
e sonhar já me basta.
Sonho
e sonhar já me encharca.
Sonho
e sonhar já é fugir.
Sonho
e sonhar já é gozar

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Porque me ler - Parte I


I



Porque me ler. Não, vou criar outro título, este não me tem inspirado a desenvolver idéias. Que tal, Por que as pessoas morrem de câncer? Não, piegas demais. Talvez intitule de “Poética”, contudo isso não é poema mesmo que beire a abstração. Na verdade é mais um “porquê de escrever”.

Como aquele meu personagem de cabeleira ruiva, ainda sem nome, que mesmo não compreendendo como as palavras se engendram num livro, vai à biblioteca pública de sua cidade, senta-se, folheia do clássico ao contemporâneo, no entanto são apenas possibilidades, pois que ele só entende quando se depara com a palavra respirar, então numa cadência quase inaudível infla seus pulmões ao limite e então exala aliviado sabendo que de tudo o que lera, algo lhe havia entranhado como fumaça de cigarro e daquele cheiro não esqueceria.

Esse ruivinho ainda carrega as dores do mundo. Um idiota. Quer porque quer saber o que é câncer. Pena que ele não me pode ler, senão lhe diria que é inútil conhecer, é como tentar saber o que é a fome quando se tem a disposição guloseimas na dispensa, ou então, passar um fato como verdadeiro ao próximo só porque leu em algum livro que o homem foi à lua; tornando a idéia um pouco mais acessível, a história do mundo ou do seu vizinho é indiferente, ela nunca existiu. Não nos interessa. O que nos interessa é unicamente o que nos faz ser como somos: é o subjetivo. Ou agora você vai insistir em me convencer que presencia velórios alheios?

Têm coisa melhor que se dar ao luxo vez ou outra? O ruivinho às vezes vai à feira e compra bandejinhas de figos e sente deliciosa cócegas na língua quando a aspereza do mesmo lhe toca. Então morde, mastiga e engole satisfeito, toma um bom chocolate quente e se deita para não pensar em nada, o que expressa uma enorme vontade de viver, de sair do mundo emprestado dos outros e de criar sua própria história.


Já sonhou em ser policial ou mesmo médico, pois assim estaria sendo o herói de alguém, mas já lhe disse: as pessoas que se salvem sozinhas, idiota! Come seu figo e faça o seu.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Os vaticínios da velha Bruxa



Subjeções

Parei abismado:
era a última vez que me veria com

18 anos.

Será que é agora que começo a desenhar no escuro?
ou, definitivamente esqueço toda essa metalinguagem
em têmpera e parto para o salto?

Que salto?

São numerosas as possibilidades de combinações,
de transistores, fios e cabos de fibra óptica...
Onde estava mesmo?
Será que falar de tecnologia é se tornar um pouco velho?

Sinto, e sentir é fato.
Fato é uma cela do envelhecimento
– é o vaticínio da bruxa.



Vaticinações.

1. Queimei-me as pontas dos dedos.
2. Há em mim um desejo libertador de me prender,
de me aceder como se faz a um cigarro
e de ser fumado pelo mais débil cafajeste.
3. Cigarros me excitam.
4. Incenso é fumaça.
5. A contraposição.
6. A dúvida.
7. A simplificação.
8. As inúmeras possibilidades de combinações.
9. Na numerologia, o mais extenso número se converge,
pela soma ou subtração, na primeira dezena.
0. O eterno retorno.

Subjeções

Carrego isto com minhas alegorias
de que nada dizem.
È um carnaval antecipado.
Abre-alas de um tema possivelmente já contado.

(oh, às vezes me detesto!)

Mas, quando parei de frente ao espelho
e me vendo pela última vez assim
reparando as feições,
as expressões de um rosto incompleto de barba nas maçãs do rosto;
do ralo azulado de bigode...
tive um choque, um vaticínio:

(oh, às vezes a bruxa em mim me detesta!)

o aqui-e-agora transfigurava-se no que já havia sido
e ao mesmo tempo preconizava um depois que agora já era imediato, pois
que o muito além não existe.

(oh, às vezes eu detesto a bruxa que está em mim!)

Desculpem-me os que prezam pela jovialidade mental
mas acredito na construção do tempo,
de como o tic antecede o tac
seguindo um ao outro numa sucessão perpétua,
e nisto avisto o compromisso de ter de me tornar velho,
um pouco encarquilhado para a direita
com a pele quebradiça e as bolsas dos olhos
caiadas e volumosas.

oh, às vezes a Bruxa me controla!

Vaticinações

Se me fosse pedido que me apresentasse,
trajaria meus trapos e subiria numa vassoura
para flutuar ao lado da sua janela lhe narrando
o meu conchavo com o Demônio;
do pacto firmado ainda jovem.

(oh, às vezes eu detesto ser a Bruxa dele!)

Às vezes eu detesto ter que ser sua médium,
de ter que lhe transcrever em versos...
Agora mesmo, em sua prepotência,
me sorri disfarçadamente, pois sentiu estar no ápice do poema
quando construiu imagens que tiquetaqueiam
sobre olhos volumosos enquanto sua pele quebradiça
lhe avisa que está ficando velho.
Não,
Eu é quem decido qual é o ápice do poema
e isto termina aqui:

se cerro as cortinas,
é porque não há mais nada a ser apresentado.


Epigrama nº4
Pós subjeções e vaticinações


Não recordo exatamente do meu passado,
ele é inexistente.
E tudo que sei é que nunca
fui senão isso que meu espelho mostra.
Tal qual um vilão
utilizando o tempo como maquiador que
põe finas camadas de mágoas homeopáticas
e ao se mirar, o seu reflexo é um estranho
e você nunca mais será o mesmo.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Um fusca 88 ou qualquer coisa de quatro rodas

Escreverei qualquer coisa agora, como narrar a passagem de um fusca 88 vermelho pela minha rua ao mesmo tempo em que escrevo isto; isto que pode ser qualquer coisa mesmo, porém com uma condição: que você me leia.

Sei pelo barulho que era um fusca 88 e vermelho porque é do meu vizinho - não se preocupem, o escritor aqui não passou a ter epifanias depois que começou isto – ele sempre sai esse horário para buscar sua mulher no trabalho, diria que vivem felizes, possuem um casal de filhos - por um minuto pensei em mentir e dizer que eram de gêmeos, não, me recuso, hoje só o que pode ser verídico é que vou contar.

Meu vizinho também reúne seus amigos nos sábados à noite para comerem aquele belo bife sangrento com a cervejinha nossa de cada dia, gargalham alto, tal como conversam. Aliás, por que estou falando deles? Ah, ok (revelações) o autor disto é pré-intencionado e se desvenda perante o leitor – não sabia como começar!

E lá vamos nós nessa busca do “qualquer coisa”, como diria Fernanda Young em seus romances “ande logo com essa punheta, homem”. Tá, calma, é que as palavras às vezes me são débeis e se escapolem e quando isso acontece o que posso fazer é falar de outra coisa que não da idéia principal do texto; é nesse ponto que invadem esses vizinhos na minha retórica e tomam seus lugares de abre-alas, como agora: alguém bate na minha porta – com licença caro leitor, um minutinho...

... me desculpe, é que sabe como é vida em sociedade, temos que ser maleáveis, nunca sabemos quando vamos precisar –.

Deitei ontem lá pelas onze da noite com uma doída vontade de chorar. Sabe quando seus pulmões receiam a entrada do ar? Pois então, foi assim, não queria sequer o mínimo átomo de oxigênio, tinha medo, estava escuro e Tchaikowsy tocava como plano de fundo para um possível fim trágico, estava certo de que morreria ontem mesmo.

Pronto, a idéia voltou (epifania). È que ao invés de me tornar forte, dia a dia me debilito mais e minha maturidade encerra na de uma criança de 5 anos prestes a largar tudo, sim, desistiria de tudo ontem e hoje também, romperia com essas amizades estranhas, com os laços afetivos e me jogaria mundo além para morrer como um aborígine, o qual quando surge a oportunidade da morte lança-se na floresta, pois já não pode prover mais os frutos que sua comunidade necessita, e isso não é nem um pouco indigente, é apenas cultural.

Ah, me desculpe novamente, estou aqui me lamentando, espere. Ouça. É o vizinho e seu fusca 88 vermelho e sua mulher depois de mais um dia de trabalho. Na certa, queria entender como levar uma vida assim tão rotineira, talvez um pouco mais leve e menos ácida como a que tenho levado. (interjeição) Sim, saquei (nada é por acaso), o que me falta é um fusca 88 vermelho e uma boa mulher de quadris largos para me dar alguns belos filhos? (interjeição) Confesso, tenho inveja de tudo isso, me empresta?

domingo, 4 de janeiro de 2009

Ensaio Inconsciente: a Loucura

Há um quê de loucura em falar sobre a loucura, um quê de “estou beirando, mas não vou cair”, ouvem-se então, ecos de possíveis pequenas loucuras arremessando-se de desfiladeiros.

O meu problema não é essencialmente a loucura, é mais uma base abstrata de strip teases sendo feitos para alguém sentado naquela poltrona, você vê? Ele é tão lindo, ele sorri para mim como um príncipe. Danço para ele, tiro a roupa, ou melhor, rasgo, porque quando se tem paixão, as coisas são mais intensas, feitas para um consumo fugaz e imediato que talvez perdure apenas o instante de um orgasmo, no entanto carrega em si a promessa da realização plena.

E ele esta mordendo o canto da boca e eu continuo nu. Jogo-me para cima dele com um tesão irrefreável e suspiro em seus ouvidos palavras que o excitam a ponto de eu poder sentir toda sua potência máscula pulsando. Eu, eu desfaleço em seus braços, amoleço em seu corpo e me deixo ser escravo e usado como produto promocional que ao ser avistado causa repentina necessidade de ser consumido.

Coloco Álvaro de Campos na jogada, falo do engenheiro civil bicha de Pessoa, sem intenções de intelectualizar isto, pelo contrário, torno ainda mais vulgar e repulsivo.

(Pulo)

Estamos em alto mar, Álvaro em sua compulsiva vontade, deita-se nos porões com seus inúmeros marinheiros...

(Pulo)

Certamente que me fragmento como quebra-cabeça: alguém me emenda?

(Pulo)

... e Álvaro já foi meu puto, meu homem, meu parceiro inconfesso: minha bicha enrustida.

(Pulo)

Retorno e já nem sei de que retorno falo. Pego-me lendo qualquer coisa; o dia a dia é um dissabor. Então, acumulo na estante recortes e cortes e recortes, sobreponho imagens e textos. Pulo. Retorno. Faço sexo, pois que não há realidade suportável sem doses de loucura.

(Pulo)

Eiah Ho, Ho, Ho
Ho, Ho, Ho, Ho.

(Suspiro)

Estou beirando, talvez eu já caí.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Monólogo Parte II - Alguma Coisa

- Alguma coisa. Sei que sou alguma coisa falando sobre outra alguma coisa que só eu sei sentir. Eu poderia verter sobre vocês inúmeras lágrimas e palavras que revestem minhas ações, que mesmo assim, vocês não entenderiam. São coisas minhas. Insisto para que me ouçam como um diário - branco, indefeso, silente.

Estou enfarado, corrompido, fraco. Estou farto, que é pleonasmo, mas em outra sintonia; estou farto desse joguete inútil que é viver, de maquiar-me pela manhã, vestir alguma fantasia e me servir como manjar para esses deuses superdotados de apolo, afrodite e além olimpo.

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...