terça-feira, 18 de outubro de 2016

sábado, 3 de setembro de 2016

Verticalização

II

No círculo da Bruxa
acenaram positivamente para mim

que sim! sim,

haviam percebido minha chegada
antes mesmo de ali me fazer presente
de me sentir presente

corpo e mente
num      deslocamento  improvável
de despertencimento

nem onde estive, nem onde estava
(...)
embora pudesse lhes trazer à mente
um quadro de Francisco de Goya:
figuras míticas do assombro:

bestas deglutindo crianças
como quem aperitiva pedaços de frango;
bruxas em seu trajes miseráveis
em torno de um diabo a sorrir,
de chifres e guirlandas,
tudo
sobre um fundo escuríssimo
como nos olhos negros
do menino que há pouco vi na foto.







Palavrório de três versos

Convicções
apenas
Co-ficções

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Lá onde os sonhos se tornam pesadelos

Diante da máquina obsoleta
adentrei seu corredor
ladeado de portas
diametralmente opostas.

De um lado,
Desfiladeiro de sonhos!
Do outro,
Desfiladeiro de sonhos!
E na minha arrogância,
Ousei ser maior que a

Morte.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Diário de Bordo

Eu

Não quero esconder nada
À sensibilidade alheia

A macilência do rosto
Os olhos afundados em tristezas
Sulcos, gretas, caroços e veias

Testemunhas da minha dor,
da minha feiura
Que não mostra os dentes por vergonha

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Verticalização

Referente à realidade
Mas na esfera dos sonhos
Busquei a palavra,
A simbólica
Matéria moldável
Dos meus delírios.

Vi o que não deveria ver
Toquei o que não deveria tocar
Abduzido dos sentidos
Na minha fuga vertical
Dei de cara com o que não queria encontrar
E novamente fui lançado
Para dentro do círculo da Bruxa.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Palavrório de três versos - Não ser

só existimos inertes,
em movimento
somos desconstrução

não ser


Era aquilo que chamavam de visita
o que ao vento se dava:

anteparo qualquer

em que repousa o destino.

Um campo cheio de destinos!


e na linha do horizonte,
entre o céu e a terra, no tempo,

(...)

uma nuvem formada
onde embrenhado meu corpo esteve
a correr, a desprender-se,
a mesclar-se na velocidade
com que tudo se desfaz e se refaz,
no enleio que é a morte:

- Acuso-lhe de não ser eu,
Homem ou flor,
Nem você, dente-de-leão,
Presa ou bicho.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Fragmento - 15 de janeiro de 2016

(...) cometeria uma loucura hoje porque é meu aniversário, e sendo ou não coisa inventada, vibra em mim uma energia de realização; uma loucura parecida com as cometidas pelos andarilhos mal criados, mas diferente. Sairia xingando, palavra encadeando palavra, palavrão encadeando palavrão, tudo isso sem mágoas ou dores, apenas por deleite amoral, (ato inconsciente de repúdio? Quero acreditar que não). Sairia nu, porque ainda considero a nudez o nosso melhor discurso de aceitação e de permutação entre egos. (...) Sempre me pergunto o porquê das pessoas gastarem tanto dinheiro com roupas, se a maior vaidade mora no corpo, que por si só se diferencia e se referencia, causando ao mesmo tempo em si e no outro, desejo e repulsa. Eu, entre tantas coisas, apenas um corpo a ser desfrutado pelo tempo, por mim e pelos outros. (...)

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...