quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Fragmento - 15 de janeiro de 2016

(...) cometeria uma loucura hoje porque é meu aniversário, e sendo ou não coisa inventada, vibra em mim uma energia de realização; uma loucura parecida com as cometidas pelos andarilhos mal criados, mas diferente. Sairia xingando, palavra encadeando palavra, palavrão encadeando palavrão, tudo isso sem mágoas ou dores, apenas por deleite amoral, (ato inconsciente de repúdio? Quero acreditar que não). Sairia nu, porque ainda considero a nudez o nosso melhor discurso de aceitação e de permutação entre egos. (...) Sempre me pergunto o porquê das pessoas gastarem tanto dinheiro com roupas, se a maior vaidade mora no corpo, que por si só se diferencia e se referencia, causando ao mesmo tempo em si e no outro, desejo e repulsa. Eu, entre tantas coisas, apenas um corpo a ser desfrutado pelo tempo, por mim e pelos outros. (...)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Pornô XVI

Já fui de transar com qualquer um,
hoje transo com desconhecidos,
apenas desconhecidos.
Desconhecidos de um dia ou de um ano.
De anos talvez?!
Até agora o mais desconhecido tinha 26 anos,
Foi quando transei comigo mesmo;
Toquei em partes que delas nunca imaginei
Extrair prazer.
Riem de mim os que namoram,
Os que se conhecem, os que só transam com conhecidos,
Os seguros de si...

iludidos!

Chá de camomila

Acalmar as gengivas
Estancar o sangramento
Imobilizar a bactéria
Combatê-la
Erradicá-la da raiz
Antes que dela se alimente,
E fortalecida,
Derrube-nos.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Cu

O cabelo de cair sobre os olhos,
De contornar as pálpebras
que sobrepõem o seu oculto.
Toco o seu supercílio
que
assustado se contrai.

Há realmente segredo no que ocultas
ou eu que inventei segredo em si?

Segredo um segredo:
por trás dos teus cabelos visiono um
tesouro?
Um oculto?
Um olho?
Ou um cu?

Pornô XV

Sim,
Dizer que o amei desde então
Desde nossas vistas encontradas
Sem saber se ali morava prazer

Exercício

Me apego a certa lembrança, a única.
Metonímia de você
Vivificada e vibrante.

Objeto

Me apego a certo objeto, o único.
Metonímia de lembrança
Você, vivificado, mas dormente.

Toco certo objeto, o ponto.
Pingo limão na ostra inamovível
Ato sofrível, mas de desejoso palato.

O seu orifício, antes dormente,
Agora vivificado,
o orifício a contrair-se ao meu toque

- Eu o engulo!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Pornô XIV

O apartamento vazio. Só o meu nonsense e o conselho do meu amigo ocupando o espaço entre paredes-intracranianas: ”Foda num apartamento vazio, parece que você está fodendo com várias pessoas ao mesmo tempo!”. Sim, basta outro corpo para que queiramos vários outros corpos em núpcias. Porque deveras tudo se multiplica: os gemidos reverberam em ecos, o cheiro manifesta-se evolado como fumaça de incenso e tudo o que é fluído apresenta-se como veios, vertentes d’água brotando e intumescendo abundantemente o que penetra e o que será penetrado. Nos percebemos submersos, inundados, confundidos em líquido; depois somos jogados pela arrebentação numa encosta rochosa e permanecemos lá, também rochosos, até recuperarmos os sentidos e nos compreender separados, únicos, num apartamento vazio.


Pornô XIII

Ele disse que ia perder a virgindade do cu comigo, exprimi um sorrisinho cínico e hipócrita que refletia meu pensamento: vai ser minha putinha! Vou arregaçá-lo, deflorá-lo, desbravá-lo, tirar a sua pureza com meu pênis, com minhas mãos, com meus pés (o pé do anjo por baixo da saia enquanto Santa Tereza se extasia)... mas o mais importante é a penetração do pênis desconsiderando qualquer sinal de dor, impondo-lhe toda a minha macheza, porque serei ativo e ele passivo, meu passivo e minha putinha, inferior a mim, mulherzinha de macho. 

Já era alta a noite e buscamos um hotel no centro da cidade. Subimos uma escadinha de um hotel que cobrava cinquenta reais a pernoite. Ele ficou de costas esfregando sua bunda no meu pau e todo o seu corpo trejeitado para me seduzir, mas meu pau não levantou, brochei. Então ele me tomou e jogou na cama, baixou as calças e me meteu seu pau enorme sem que eu tivesse escolha, sem que eu pudesse dizer o que sentia, sequer me beijou ou disse coisas carinhosas. Ele gozou e eu chorei.

domingo, 29 de novembro de 2015

Pornô XII

Quando pequeno, minha mãe recomendava indagando aos gritos, de onde estivesse, se eu já havia lavado bem atrás da orelha; e a voltinha da cabecinha do pintinho, e a bundinha? Sim, sim, sim. Estão bem lavados. Como se nessas partes habitasse toda a sujeira do mundo, derivações da cloaca máxima. Outro dia, minha tia descobriu toda a sujidade possível que um umbigo podia conter quando subiu minha camiseta e aproximou seu nariz para dar uma fungada. Repreendeu a minha mãe: “tá fazendo vista grossa com o umbigo do menino?”. Pegou um cotonete com água e sabão e o cutucou. Cutucou as pequenas canaletas acumuladoras e retirou a sujeira. Semanalmente minha mãe inspecionava meu corpo, os meus orifícios, as minhas voltas e dobras, porque filho dela não podia andar feito gato que tem medo d’água. Consequentemente, outras partes do corpo ganhavam atenção diante dos seus olhos. Lavou bem entre os dedos filho? E o sovaquinho? Sim, sim, sim, sim! Estão bem lavados, desencrostados, desensebados. Ah, desensebados! Era tão limpinho que durante a minha infância e adolescência meus primos me apelidaram de sebinho, e durante o mesmo período, passei mais tempo debaixo d’água a me desensebar do que brincando. Escrevo isso na tentativa de me libertar, porque maior é a frustração: quando tirei o pau da cueca, toda aquela ansiedade de um pau duro e babado, pronto para receber um boquete da garota que estava ajoelhada. Ela aproximou sua boca e nariz, exatamente como a minha tia e exclamou: que pau limpinho... nem tem cheiro de pau! Meu pau foi amolecendo dentro da sua boca e não pude fazer mais nada. Pior que reprimir o choro, é reprimir o gozo.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

fragmento

Cachorro abana o rabo quando está feliz. Minha mãe solta gritinhos exaltados quando percebe tocar uma canção da qual gosta muito. Olho-me no espelho e noto que a minha íris está aparentemente mais clara, mais esverdeada que o normal. Sinto-me mais bonito por isso e sorrio envaidecido. O coração envaidecido reverbera. Mas há dias em que também me olho no espelho e está lá, a volta esverdeada contornando o castanho-mel e me entristeço. Será também que nem sempre quando o cachorro abana o rabo ou a minha mãe ecoa pela casa é indicativo de felicidade reinante? Por vezes a vida não é inteligível.

domingo, 24 de maio de 2015

Vento

Ando muito abalado, pendente, não firmado

Como se algo muito maior que eu
Pudesse me derrubar...
Uma rajada de vento
Entre as aletas da veneziana;
Um expiro das minhas narinas

Outro das suas, Gemini

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...