terça-feira, 22 de abril de 2014

tão logo, quero solidão

A solidão aporta como uma intrusa.

Desestabiliza-me.

É sempre uma luta entre a liberdade e a companhia.
A liberdade que me dá tudo
Mas não me dá corpo
O corpo que me dá companhia
E tão logo o desassossego
de não me querer mais em companhia;
nem os cafés-da-manhã, os bombons, os pratos elaborados
os vinhos sofisticados
nem o resto depois do sexo.
Acho tudo um excesso!

Só me penso lavado e deitado
Refestelando-me
Com um travesseiro entre as pernas.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

coordenadas

A primeira porta à esquerda
Fica fácil
Entro sem titubear
O pensamento desanuviado
Não há erro
Ali é o banheiro

Seguindo pelo corredor
Vire à direita
Depois à esquerda
Siga reto
É a terceira porta à direita

Titubeio

O corredor escuro
Bifurcado
Encruzilhada de feitiço
Olhos vendados
Corpo desavisado

A porta à direita
Uma forca sobre o cadafalso
Um grande abismo aberto sob meus pés

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Cena

Peraí que tu é meu

Se virou
me pegou pelo braço
me arrastou d’ali

Tivemos uma noite juntos.

Foi isso.

terça-feira, 8 de abril de 2014

superstição III e IV

III

Imagine se o amor fosse um amuleto?
Um patuá, uma garrafada?
Quartzos rosa
Pesando-lhe os bolsos?

Tudo bobagem.

O que ele acredita
É em boas “vibrações”.

IV

“Coloco calcinha rosa, amor?!”
“Vermelha, paixão?!”
“Põe rosa com lacinho vemelho.
Mergulha no espumante docinho
e vem molhadinha
que dá sorte pra nós!”

contrassenso

De 
tanto 
me 
prevenir


Passo 
a vida 
me 
remediando  

segunda-feira, 7 de abril de 2014

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Superstição

II

Saio ferido.

Nunca fui um amuleto
muito menos escudo
e toda vez que lhe digo isso,

(a verdade)

ele me tira do seu pescoço
apela aos santos,
ao olho grego
à figa

só não apela ao nosso amor
porque não acredita nesse
tipo de superstição

segunda-feira, 31 de março de 2014

superstição

O que me diz
É que sou seu amuleto
Sua erva mágica
Sua superstição
“Rafael-contigo-ninguém-pode”
Usa-me como escudo
E no combate me lança contra a espada
Do inimigo

domingo, 30 de março de 2014

O que fazer depois de uma entrevista de emprego?

Nada!
Não faça nada!
Absolutamente nada!
Não estale os dedos,
Nem morda os lábios ou
detenha o telefone em suas mãos.
Muito menos conte aos outros
Que acabou de sair de uma entrevista de emprego.
Fale qualquer coisa,
Que acabou de tomar banho
E se vestiu para dar uma volta na cidade.
Ou, mesmo que pareça nonsense,
Que se vestiu para ficar em casa
Porque está se sentindo de bem consigo mesmo.
Só não manifeste a ansiedade, a sabotadora,
A que lhe consome as bases
E lhe atordoa.

De repente o telefone toca.
Número desconhecido,
Coração, corpo e suor:
“Fui contratado!”
Mas de repente é a morte.
De repente a notícia
De que alguém que você gostava morreu
Durante a manhã
E que não há nada a se fazer.

quarta-feira, 26 de março de 2014

até mais

“Te deixo hoje!
Não vou levar
Saudade nem culpa.
Vou deixar tudo contigo.

Os míseros e os afortunados
E tudo aquilo que,
quando nos faltava palavras,
Chamávamos de ‘amor’
.”

todos estão surdos, inclusive eu

Chegam a mim
Com suas carências, dependências e insolvências.
Não dou muita bola.
Quando insistem por uma resposta:
“Isso é normal”
Um olhar de falsa comiseração
Um tapinha no ombro com a força de um
“Vá com Deus!”

o oco cheio de vazio

é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua   nem o próprio gozo apree...