Chegam a mim
Com suas carências, dependências e insolvências.
Não dou muita bola.
Quando insistem por uma resposta:
“Isso é normal”
Um olhar de falsa comiseração
Um tapinha no ombro com a força de um
“Vá com Deus!”
quarta-feira, 26 de março de 2014
sexta-feira, 21 de março de 2014
encerramento com Bukowski
“vou lançar suco quente e brancodentro de você. Não voei desdegalveston para jogarXadrez”.
a deusa de um metro e oitenta - Charles Bukowski
Agora falta pouco
Pra eu pegar e
Dar o fora daqui
Ir pra qualquer lugar
Perto ou distante
Mas outro lugar com
Novas pessoas
Novas fodas
Outros bichos de carne
Feito eu
Um pouco de álcool e cigarros
E um pau duro de tesão
Pra eu dar umazinha bem dada
E não ficar satisfeito
terça-feira, 18 de março de 2014
Explicações sem-aplicações
Seu xadrez combina com meu listrado
sem que haja qualquer explicação.
Caso encontre,
não perca tempo em me contar,
dispenso esse tipo de ideia.
sem que haja qualquer explicação.
Caso encontre,
não perca tempo em me contar,
dispenso esse tipo de ideia.
coisa
Quem sabe
Acreditar em tudo ou em nada
E ser apenas um sensacionista
Divagando entre xícaras de café,
Cigarros e sexo.
Mas (ah!)
(suspiros)
(reticências)
Quantas coisas podem ser embutidas num vidro de conserva
Que se torna em vão o discurso das coisas pelas coisas
do desamor
Isso de me ater aos teus pensamentos
e ficar absorto, imerso neles,
tem me deixado neurótico
Gostava de quando você não gostava de mim
quando não se importava, não me queria,
e por qualquer motivo me descartaria
Me trocaria
me venderia
me daria a outro
porque dividia seu amor com outros
No desamor,
éramos livres
e o sexo não nos punha
encurralados
feito bichos trancafiados em suas peles aflitas por gozo;
o gozo constante e insuficiente
o gozo constante e sem saudade
a ejaculação repetida numa masturbação
a dois.
e ficar absorto, imerso neles,
tem me deixado neurótico
Gostava de quando você não gostava de mim
quando não se importava, não me queria,
e por qualquer motivo me descartaria
Me trocaria
me venderia
me daria a outro
porque dividia seu amor com outros
No desamor,
éramos livres
e o sexo não nos punha
encurralados
feito bichos trancafiados em suas peles aflitas por gozo;
o gozo constante e insuficiente
o gozo constante e sem saudade
a ejaculação repetida numa masturbação
a dois.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Arribação
Dias quentes de arribação:
pernilongos, baratas, besouros...
toda a sorte de infestação de insetos
tripudiam sobre o meu corpo;
dançam a revelia nos meus ouvidos.
querem meu sono,
pernilongos, baratas, besouros...
toda a sorte de infestação de insetos
tripudiam sobre o meu corpo;
dançam a revelia nos meus ouvidos.
querem meu sono,
meu sangue,
meu suor,
o meu farelo de pão,
a minha pele morta crestada pelo sol na trama dos lençóis.
a minha pele morta crestada pelo sol na trama dos lençóis.
maldade silente
eles que não ferem nada
a mim me ferem
a mim me ferem
eles que não falam nada
a mim me falam
a mim me falam
eles que não ferem e não falam nada
só a mim me ferem e falam
como se nisto
recobrassem a sua sensatez
e eu perdesse a minha
só a mim me ferem e falam
como se nisto
recobrassem a sua sensatez
e eu perdesse a minha
sábado, 22 de fevereiro de 2014
A manutenção do simulacro
A casa extremamente suja, caótica. Eu, extremamente desgostoso, mimado. Melhor não ter entrado. Evitado o cheiro de mofo, de coisa evitada por três meses. Odor de coisa fétida, que não se permite aos sentidos nada além do que a repulsa de si. As roupas escuras embranqueceram, as roupas claras esverdearam. Há teias de aranha dentro do guarda-roupa. O chão engordurado de maresia. Sinto arrepios apenas em pensar, que por descuido, posso pisar descalço e ter que lavar os pés novamente. Sensação de quando se pisa na merda e a sensação perdura: você está infectado.
II
Como se na minha ausência as coisas também não se ausentassem de mim, e não se decompusessem ou mudassem de cor.
III
O simulacro desfeito na minha ausência.
O simulacro violado pelo tempo na minha ausência.
O meu corpo violado e decomposto.
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Cueca de elefante
Estranho é fazer sexo na frente de animal doméstico, a gente fica encabulado, parece que tá ofendendo a inocência do bicho; ainda mais quando se humaniza o bicho chamando de meu filhinho, vem cá com o papai, e o animalzinho pula no seu colo todo dengoso esperando por um carinho seu. Mas logo me perdoo, já vi tanto cachorro amarrado em cadela em plena luz do dia. O mais estranho foi sentir a língua do meu animalzinho no pé enquanto meu namorado me fodia.
Ele disse:
- Oh o jeito, quer participar também! – soltou uma risada e com o pé afastou o cachorro que voltou a sua condição de voyeur.
Perdi o tesão. Não quis mais. Coisa inapropriada: sentir a língua de um animal enquanto se é fodido de bruços. Ter seu corpo recrudescido numa sensação pavorosa onde seu prazer confunde-se entre um homem e um animal, e por um momento, momento antes de tudo suplantar-se em culpa, querer ambos lhe lambendo.
Não aprendi a sentir prazer sem culpa. Deve ser muito evoluído quem, ao baterem em sua porta responde, já atendo, tô quase gozando! E ao namorado pede: me fode com força porque tem visita esperando!
O sexo fica tão despudorado que parece coisa de profissional, sem sentimento. Ou com muito sentimento, mas sem tabu? Fico tão na dúvida se o problema é comigo... achei que ao me assumir gay, viveria livre, pelo menos sexualmente. Esses dias, ele chegou com uma daquelas cuecas de elefante, queria me fazer uma surpresa na cama. Achei tão ridículo e feio e ultrajante que não consegui nem sorrir e levar na esportiva. Depois me arrependi. Ele sentado com aquela cueca esquisita, constrangido. O abracei em comiseração. Ele se levantou e disse que eu precisava me tratar. Me tratar? Comecei a chorar. Ele voltou ainda com aquela cueca broxante de elefante, que me instigava a repressão, e me abraçou também num gesto de comiseração. Gosto da palavra comiseração, me sinto acolhido, compreendido, e por meio dela consigo compreender e acolher.
Senti-o excitado, me cutucando as costas enquanto eu ainda choramingava.
Ele disse:
- Quer que eu tire a cueca? – os olhos apiedados, como se o erro cometido fosse seu.
Aos poucos foi me deitando, e o pau que simulava uma tromba já não me importava mais, ou importava menos; até me divertia quando passava a mão sobre o púbis dele com as orelhinhas de veludo.
Penso:
- Às vezes sou repudiável, no entanto, não aprendi a amar sem culpa.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Palavrório de três versos
I
O que Narciso não entendia
Era que a superfície envidraçada
Refletia apenas uma parte de si.
O que Narciso não entendia
Era que a superfície envidraçada
Refletia apenas uma parte de si.
II
Tal qual o destino de Narciso,
Crudelíssimo o nosso
De só nos vermos em partes.
Tal qual o destino de Narciso,
Crudelíssimo o nosso
De só nos vermos em partes.
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