Estaremos melhores daqui alguns anos. Daqui a dez, quinze, trinta anos. Minto. Daqui à velhice. Estaremos completamente a salvos na velhice. Sem as esperas que nutríamos antes das coisas caírem. Antes que as coisas intentassem o acerto. Na velhice estaremos dispostos a nos contentar com o mínimo, a nos amar pelo mínimo, pela vaidade mínima. A vaidade mínima que nos manterá ainda inteiros de humanidade, de generosidade, de compaixão. Ainda que tenhamos nos desperdiçado por escolhas tolas, na velhice nos perdoaremos de toda a juventude que levamos, até transformaremos o erro casual de termos nos conhecido num acerto oportuno, lotérico, divino. Não sei quanto a você, mas estarei muito melhor daqui alguns anos. Quando a barba cobrir todo o meu rosto, e os outros pêlos estiverem todos ali, embranquecendo-se em suas partes definitivas; aí, serei homem ou outro homem, agora importante para mim. Comprazido das minhas falhas, dos meus acertos, das minhas inconsistências, das minhas impossibilidades. Na velhice que estarei completamente a salvo, e não precisarei ostentar ou reluzir o ouro que nunca possuí; nem ser belo, ou estar dentro do que nunca quis realmente estar. – agora, dia 22 de julho, numa sexta-feira de possível geada, afirmo: tenho esperado a velhice mais que a morte.
sábado, 23 de julho de 2011
terça-feira, 19 de julho de 2011
Esquecimento
Com saudade absurda dos meus mortos hoje.
E já não havia a nota de luto no jornal
Nem a nota de missa de sétimo dia
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Pouco agora me importa a idade das coisas
Pouco agora me importa a idade das coisas
ou a idade do seu corpo
que ainda divisa entre o jovem-adulto.
Me importa é a idade das suas mágoas
e dos seus sonhos frustrados
que lhe trouxeram até mim.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
domingo, 3 de julho de 2011
Palavrório de três versos
Até estava falando de amor,
mas não me senti a vontade;
aí falei da roupa, da cadeira, do ambiente...
mas não me senti a vontade;
aí falei da roupa, da cadeira, do ambiente...
sábado, 2 de julho de 2011
ego
Interesso-me muito pelo o que os outros dizem,
e pelo o que não dizem, mais ainda.
São sempre uns intrometidos:
Falam do meu bigode que precisa ser raspado
(raspo quando quiser voltar à civilização)
do cabelo fora de ordem
(penteio se houver necessidade)
Das unhas incrustadas em sujeira
(limpo-as antes de cortar os legumes)
E me julgam por tudo
porque me querem melhor do que eu mesmo me quero.
O último me chamou de frio.
Imagine:
eu frio?
Só porque não sei amar de forma arbitrária,
ou me queira deitado com qualquer um,
que isto vá corroborar a idéia.
II
Interesso-me muito pelo o que os outros dizem,
principalmente os amigos.
Ah! Os amigos sempre nos encorajando
com suas próprias ânsias:
“vamos, não tem nada a perder!”
ou
“vamos logo, se dê uma chance”
ou
“daqui a pouco a sua irmã casa, seus pais morrem, e eu, seu amigo,
parto e você fica aí pra titio”.
.
.
.
Mas o que seria de nós sem os bons amigos
e suas baboseiras de motivação?
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Deixe-me aqui onde nada soa triste ou alegre
Hoje que eu não quero ser nada
Não quero ser arquiteto nem amigo
Muito menos pensar o próximo verso.
Não quero ser arquiteto nem amigo
Muito menos pensar o próximo verso.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Saturno
Não que me falte matizes
mas prefiro que minha vida
se construa em preto e branco;
há um quê de elegância conferida
por este minimalismo.
Cor nos engana, tecnicoloriza-nos,
mente-nos um mundo mágico
palco de lata-palha-Dorothy-coração,
caminho dos tijolos amarelos e
sapatinhos feéricos.
Só numa plúmbea escala é que existimos,
revestidos de um película tênue
que destaca a transparência das taças
herdadas como o sêmen-óvulo branco que
me fez como sou
mas prefiro que minha vida
se construa em preto e branco;
há um quê de elegância conferida
por este minimalismo.
Cor nos engana, tecnicoloriza-nos,
mente-nos um mundo mágico
palco de lata-palha-Dorothy-coração,
caminho dos tijolos amarelos e
sapatinhos feéricos.
Só numa plúmbea escala é que existimos,
revestidos de um película tênue
que destaca a transparência das taças
herdadas como o sêmen-óvulo branco que
me fez como sou
homem saturnizado pelos anéis de Cronos
paralisado no tempo de um
clique.
paralisado no tempo de um
clique.
domingo, 1 de maio de 2011
Sobre o novo layout: sequência
Seqüência
Encontram-se num beijo.
Depois se afastam.
Ficam sozinhos.
Reencontram-se.
Re-beijam-se.
Ele se despede dEla.
Ela encontra Outro.
Outro a beija no rosto.
nEla fica um pouco do beijo do Outro.
Despedem-se.
Ele e Ela se reencontram.
Ela o beija com gosto do Outro.
Ela não suporta.
Ela abandona Ele.
nEle fica o gosto dEla.
nEla o gosto dEle e do Outro.
No Outro não ficou gosto dEla.
Depois se afastam.
Ficam sozinhos.
Reencontram-se.
Re-beijam-se.
Ele se despede dEla.
Ela encontra Outro.
Outro a beija no rosto.
nEla fica um pouco do beijo do Outro.
Despedem-se.
Ele e Ela se reencontram.
Ela o beija com gosto do Outro.
Ela não suporta.
Ela abandona Ele.
nEle fica o gosto dEla.
nEla o gosto dEle e do Outro.
No Outro não ficou gosto dEla.
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o oco cheio de vazio
é que não posso ser porque não me pertenço não sou de mim mesmo: nem o corpo ou a fala nem o membro, nem a língua nem o próprio gozo apree...
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